Lavou, tá novo...
Alexander Fleming, Oswaldo Cruz, Albert Sabin, Carlos Chagas devem estar dando fricotes na tumba se assistiram ao anúncio sobre a crítica ao invólucro de alumínio na parte superior das latas de cerveja.
Pelo que sei, apenas uma marca de cerveja no Brasil utiliza este recurso, alegando ser mais higiênico. Cheguei a ver a propaganda, antes de ser proibida sua divulgação...
Não sei bem, mas acho que foram o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja e a Associação das Indústrias de Refrigerantes, com o apoio de políticos, que tiveram a idéia de jerico de alardear a população quanto ao risco do alumínio, que supostamente armazena colônias de coliformes fecais, aquecidas por baixo desta proteção...
Falaram sobre as condições precárias no armazenamento e distribuição das latas, e mostraram um recipiente de isopor cheio de água contaminada, onde flutuavam latas de cerveja. Depois aparecia um cara bebendo direto da lata. Ao final do anúncio, lá vem uma voz: "Não se esqueça: limpe sua lata antes de consumir”. Logo aparece um homem passando um papelzinho seco na parte de cima da latinha...
A proibição da divulgação deste anúncio não tem obviamente interesse científico, mas uma grande briga comercial entre as indústrias de cerveja, fabricantes de alumínio, etc, etc, etc...
Há algum tempo é informado pelos meios de comunicação o risco da leptospirose, causada pela transmissão de uma bactéria, muito comum na urina de ratos, que passam a ser os transmissores para os recipientes, garrafas, latas, água, etc. É frequente a transmissão desta doença em enchentes na chuva ou nos esgotos, mas, certamente, em latas e outros recipientes secos a bactéria leptospira morre com facilidade, apesar de que, quando está viva, pode penetrar até pela pele da pessoa exposta a ela. Latas e garrafas armazenadas em vários lugares sujos estão contaminadas por outras bactérias, vírus e fungos, todos passíveis de chegarem às nossas bocas e fazerem um estrago.
Todo mundo põe a boca em muita coisa que não se sabe como foi lavada, é certo, e nossa imunidade é que decide se vamos ser ou não infectados. Aqui não quero falar sobre a propaganda, nem sobre doenças, mas sobre a ignorância ou displicência quanto à higiene, que por incrível que pareça, até na alta classe social é observada.
Limpar uma lata com guardanapo não afasta em nada as bactérias. Colocar tampa de alumínio numa lata imunda não é proteção nenhuma. O mesmo serve para quem bebe direto do gargalo de uma garrafa.
Imaginem-se lambendo o chão. Dá nojo? Beber direto da lata ou garrafa é mais que lamber chãos. Por acaso vocês têm nojo do celular que usam e jamais são limpos? Há quanto tempo sua toalha de banho está pendurada e você não trocou? Lavou sua mão antes de colocar na boca ou em outros lugares do corpo? Já tirou a craca debaixo das unhas? Quantos banhos você tomou hoje? Sua língua não é escovada há quanto tempo? Certamente lá existem muito mais bactérias e outros bichos do que na latinha da cerveja...
Higiene, caros amigos, é tudo, e basta lavar ou escovar que tá novo. Pelo menos, uma grande parte da sujeira vai com a água.
Eu sou quase linchada quando exijo que lavem uma lata e, mesmo assim, lavam que nem a cara deles. Por isso, evito beber coisas em latas no meio da rua.
Voltando ao comercial, seria mais sensato que o cara corresse até a beira da praia e lavasse a latinha na água, oferecendo, assim, algumas bactérias à Iemanjá. Mas, poupem-me de hipocrisia! Que isso de passar papelzinho!... E que isso de lata guardar coisas em baixo da proteção de alumínio... Se está sujo, está sujo em qualquer lugar. Num reservatório gelado que sirva para conservação de latas, que diferença faz o que está abaixo, acima ou ao lado da proteção?! Por acaso alguém faz biquinho pra beber numa lata? Pra ser mais exata, até no ato de abrir uma latinha, aquele pedaço que entra em contato com o líquido já está contaminando o que você vai beber.
Quando eu faço compras no mercado tudo que eu compro, sejam recipientes plásticos, vidros, latas, garrafas, tanto faz, tudo é lavado com água e desinfetante, e isso deve ser a conduta de toda dona de casa. Sei que é cansativo demais, mas dali começa a primeira etapa de limpeza e prevenção de contaminações.
Isso está me lembrando a época da peste negra (ou bubônica) no século XIV, quando milhões de pessoas foram contaminadas pelos vetores da doença, que são a pulga e o rato, justamente pelas baixas condições sanitárias da época. Pena que Oswaldo Cruz, epidemiologista brasileiro, não esteja mais por aqui. Ele foi rebatido por todos os lados por suas campanhas e responsável pela erradicação da febre amarela e varíola, ao incentivar a vacinação para tais doenças, além de ser o responsável por mudanças drásticas nos hábitos sanitários do Brasil.
Pena, também, que não exista vacina para falta de educação... E hábitos higiênicos fazem parte da educação e da cultura de um povo. Isso nem invólucro de chumbo resolve.
Uma observação que procede: O mosquito Aëdes aegypti transmite tanto febre amarela quanto o dengue, nosso velho conhecido.
Leila Marinho Lage
Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 2008
http://www.clubedadonameno.com
Pelo que sei, apenas uma marca de cerveja no Brasil utiliza este recurso, alegando ser mais higiênico. Cheguei a ver a propaganda, antes de ser proibida sua divulgação...
Não sei bem, mas acho que foram o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja e a Associação das Indústrias de Refrigerantes, com o apoio de políticos, que tiveram a idéia de jerico de alardear a população quanto ao risco do alumínio, que supostamente armazena colônias de coliformes fecais, aquecidas por baixo desta proteção...
Falaram sobre as condições precárias no armazenamento e distribuição das latas, e mostraram um recipiente de isopor cheio de água contaminada, onde flutuavam latas de cerveja. Depois aparecia um cara bebendo direto da lata. Ao final do anúncio, lá vem uma voz: "Não se esqueça: limpe sua lata antes de consumir”. Logo aparece um homem passando um papelzinho seco na parte de cima da latinha...
A proibição da divulgação deste anúncio não tem obviamente interesse científico, mas uma grande briga comercial entre as indústrias de cerveja, fabricantes de alumínio, etc, etc, etc...
Há algum tempo é informado pelos meios de comunicação o risco da leptospirose, causada pela transmissão de uma bactéria, muito comum na urina de ratos, que passam a ser os transmissores para os recipientes, garrafas, latas, água, etc. É frequente a transmissão desta doença em enchentes na chuva ou nos esgotos, mas, certamente, em latas e outros recipientes secos a bactéria leptospira morre com facilidade, apesar de que, quando está viva, pode penetrar até pela pele da pessoa exposta a ela. Latas e garrafas armazenadas em vários lugares sujos estão contaminadas por outras bactérias, vírus e fungos, todos passíveis de chegarem às nossas bocas e fazerem um estrago.
Todo mundo põe a boca em muita coisa que não se sabe como foi lavada, é certo, e nossa imunidade é que decide se vamos ser ou não infectados. Aqui não quero falar sobre a propaganda, nem sobre doenças, mas sobre a ignorância ou displicência quanto à higiene, que por incrível que pareça, até na alta classe social é observada.
Limpar uma lata com guardanapo não afasta em nada as bactérias. Colocar tampa de alumínio numa lata imunda não é proteção nenhuma. O mesmo serve para quem bebe direto do gargalo de uma garrafa.
Imaginem-se lambendo o chão. Dá nojo? Beber direto da lata ou garrafa é mais que lamber chãos. Por acaso vocês têm nojo do celular que usam e jamais são limpos? Há quanto tempo sua toalha de banho está pendurada e você não trocou? Lavou sua mão antes de colocar na boca ou em outros lugares do corpo? Já tirou a craca debaixo das unhas? Quantos banhos você tomou hoje? Sua língua não é escovada há quanto tempo? Certamente lá existem muito mais bactérias e outros bichos do que na latinha da cerveja...
Higiene, caros amigos, é tudo, e basta lavar ou escovar que tá novo. Pelo menos, uma grande parte da sujeira vai com a água.
Eu sou quase linchada quando exijo que lavem uma lata e, mesmo assim, lavam que nem a cara deles. Por isso, evito beber coisas em latas no meio da rua.
Voltando ao comercial, seria mais sensato que o cara corresse até a beira da praia e lavasse a latinha na água, oferecendo, assim, algumas bactérias à Iemanjá. Mas, poupem-me de hipocrisia! Que isso de passar papelzinho!... E que isso de lata guardar coisas em baixo da proteção de alumínio... Se está sujo, está sujo em qualquer lugar. Num reservatório gelado que sirva para conservação de latas, que diferença faz o que está abaixo, acima ou ao lado da proteção?! Por acaso alguém faz biquinho pra beber numa lata? Pra ser mais exata, até no ato de abrir uma latinha, aquele pedaço que entra em contato com o líquido já está contaminando o que você vai beber.
Quando eu faço compras no mercado tudo que eu compro, sejam recipientes plásticos, vidros, latas, garrafas, tanto faz, tudo é lavado com água e desinfetante, e isso deve ser a conduta de toda dona de casa. Sei que é cansativo demais, mas dali começa a primeira etapa de limpeza e prevenção de contaminações.
Isso está me lembrando a época da peste negra (ou bubônica) no século XIV, quando milhões de pessoas foram contaminadas pelos vetores da doença, que são a pulga e o rato, justamente pelas baixas condições sanitárias da época. Pena que Oswaldo Cruz, epidemiologista brasileiro, não esteja mais por aqui. Ele foi rebatido por todos os lados por suas campanhas e responsável pela erradicação da febre amarela e varíola, ao incentivar a vacinação para tais doenças, além de ser o responsável por mudanças drásticas nos hábitos sanitários do Brasil.
Pena, também, que não exista vacina para falta de educação... E hábitos higiênicos fazem parte da educação e da cultura de um povo. Isso nem invólucro de chumbo resolve.
Uma observação que procede: O mosquito Aëdes aegypti transmite tanto febre amarela quanto o dengue, nosso velho conhecido.
Leila Marinho Lage
Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 2008
http://www.clubedadonameno.com