Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira
A velhice é, e deveria ser considerada por todos, um tempo maravilhoso da vida. É parecido com o clássico entardecer do dia, quando as pessoas mais sensíveis param e se permitem curtir o espetáculo do pôr-do-sol, percebendo, mesmo sem entender, que há algo muito maior e mais importante do que a busca frenética e mesquinha pelo dinheiro, pela fama e pelo poder, a qual está empenhada o mundo. A velhice é o tempo da contemplação, da pausa, do descanso e da reflexão. É ao entardecer que voltamos para casa e para nossa família, ansiosos para contar como foi o dia. É o momento mais oportuno para recobrarmos nossas forças, renovarmos as esperanças (nossas e dos outros) e planejar o dia seguinte. Contudo, está contido na velhice assim como nas atividades do entardecer, dois elementos fundamentais e imprescindíveis para o desfrute pleno de uma vida tida como digna: Considerar-se produtivo e sentir-se amado. Daí a vital importância e incisiva influência do trabalho e dos relacionamentos em nossas vidas, cuja harmonia biopsicossocial e espiritual depende. Percebo que de todas as queixas dos idosos, as menos significativas para eles são: A dor, a escassez financeira, as limitações físicas e as doenças. No entanto, os semblantes desses guerreiros imbatíveis se desfalecem instantaneamente quando expressa sentimentos de menos-valia, dizendo que já "não servem para mais nada" ou quando relatam abandono, quer seja pelos entes queridos ou por aquelas pessoas de quem se esperava alguma gratidão ou consideração nessa fase da vida. Em sua maioria, a essência subjetiva de qualquer queixa está vinculada a essas duas últimas, improdutividade e falta de amor, simbolizadas pelas nuanças pertinentes à idade e pelo abandono vivenciado pelo idoso, respectivamente. Uma perfeita compreensão dessa dinâmica, conseqüentemente, proporcionará ao idoso uma nova indicação de como proceder em cada caso. E, ao perceber que se vive assim para certificar-se ou justificar-se de possíveis fracassos sua energia psíquica logo se direcionará para atividades mais prazerosas e produtivas, melhorando consideravelmente seu bem-estar psicossocial e, inclusive, amenizando as dores e doenças psicossomáticas. O mais importante, ante essas situações, é perceber os valores pessoais, as experiências que se adquiriu ao longo da vida e elaborar um "plano de ação" para esse tempo da vida. De qualquer forma, é necessário que haja incentivos e ações suficientemente poderosos para superar a autocrítica depreciativa e sobrepujar as forças retardadoras para o desfrute de uma velhice feliz. A par dessas possibilidades, conseguirem aceitar a si mesmo em suas condições já constitui, por si só, um feito extraordinário. O alívio gerado pela libertação dessas amarras melhorará a qualidade dos relacionamentos com os outros e consigo mesmo, tornando o idoso mais forte emocionalmente. E quanto mais emocionalmente forte estiver um idoso, menos se sentirá ameaçado pelas outras pessoas ou pelas circunstâncias. Daí para o "produzir" é um pulo, afastando o tédio, a tendência ao vício e a tristeza. Quanto ao amor, mais vale um amigo por perto do que um parente longe. Aprenda a valorizar as pessoas que se importam com você e estão dedicando suas vidas ao seu conforto e bem-estar ao invés de gastar esse tempo tão precioso com aquelas pessoas que não estão nem aí para você.
Em qualquer fase da vida a capacidade de se adaptar ao novo é essencial para gozar o prazer em viver, quer seja (re) aprendendo com o mais novo ou com o mais velho, quer seja ensinando ao mais novo ou ao mais velho. Assim, muitos são os motivos pelos quais é possível que a velhice seja um período prazeroso, produtivo e emocionante da vida. Seja qual for sua idade, se julga velho ou novo, traga à memória somente aquilo que lhe pode dar esperança. Curta intensamente cada momento do dia, pois afinal, como bem disse, aos 86 anos, o poeta e escritor alemão chamado Goethe:
"Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira".