CONCEITO DE PSICOSE
Os pacientes psicóticos possuem a peculiaridade de revelar aquilo que os neuróticos se esforçam, interminavelmente, em guardar segredo.
Com essa afirmação, Freud, não só abre a sua análise de “Memórias de um doente dos nervos", bem como aponta para uma dificuldade inerente à análise de pacientes psicóticos; aquela decorrente da dimensão
eminentemente interpretativa do discurso psicótico.
Significa dizer que, em razão do caráter interpretativo da psicose, o analista, ao empreender uma análise nestes pacientes, se expõe ao risco de ser interpretado, ao invés de interpretar (o que seria o ato analítico
em si ), e de passar, assim, à posição de analisando.
Tentaremos fundamentar melhor esta dimensão interpretativa do discurso psicótico.
- Primeiramente, devemos considerar que um
neurótico procura uma análise em função de um sintoma que lhe causa sofrimento, mas o qual ele não compreende o sentido; em
outros termos, ele faz determinada coisa que lhe causa desprazer e que, não obstante, não consegue deixar de fazer.
Assim, o neurótico chega ao analista pedindo-lhe que decifre o sentido de
seus atos sintomáticos, ou seja, é a um Outro que a mensagem do sujeito se dirige, e é dele que, portanto, deve advir a resposta.
Esta situação expressa, manifestamente, a divisão subjetiva, o processo de recalque, ou se preferirmos, a operação de castração, que caracteriza a estrutura psíquica do neurótico.
Decorre, portanto, que a interpretação do analista incide, precisamente, sobre o material recalcado, sobre as resistências do sujeito quanto a seu desejo.
Ora, se o que caracteriza a psicose é justamente o fato de não ocorrer a operação de recalque, a instauração da lei simbólica,
( lugar do Outro), que divide o sujeito, então o princípio de que a interpretação analítica deva incidir sobre o material recalcado torna-se, extremamente, problemático.
A ausência do recalque, na psicose, manifesta-se, por exemplo, na ausência
de dúvidas do paciente quanto ao que diz, ao que faz, e às razões pelas quais o faz.
Dessa maneira, enquanto o neurótico sublinha seu discurso de dúvidas – e é precisamente isso que o conduz a uma análise, sua dúvida quanto ao sentido de seu sofrimento -, o
psicótico em nenhum momento recua quanto à legitimidade de suas teorias; não há o que escape à sua compreensão.