Os Fósseis dos Traumas
Qual seria a semelhança entre o trauma e os fósseis que encontramos incrustados
nas rochas?
Assim como o trauma, em uma linguagem metafórica, os fósseis representam os elos que nos indicam as pistas do modo de vida
de seres extintos há milhões de anos.
Os fósseis são os restos de animais ou vegetais que ficaram depositados intactos sobre o solo e gradativamente foram enrijecendo e fazendo parte integrante das
rochas, permitindo que os paleontólogos possam hoje, através dos seus estudos, concluir sobre a história do desenvolvimento do planeta, podendo recolher, reorganizar e analisar os sinais dos eventos ocorridos em uma era em que os historiadores ainda não
existiam.
O psicanalista por sua vez, é o profissional que pode acompanhar esta busca através da interpretação dos restos mnêmicos da
história do paciente, que, ao contrário dos fósseis, mantêm-se vivos no inconsciente, produzindo efeitos atualizados através de
sonhos de angústia, pesadelos, atos falhos e sintomas psíquicos.
Em um processo psicanalítico, através da escuta e análise do discurso do paciente, das interpretações e intervenções psicanalíticas, a experiência traumática pode vir a ser elaborada pelo psiquismo e deixar de se apresentar de maneira repetitiva, incompreensível e dolorosa ao paciente.
No texto "Recordar, Repetir e Elaborar", Freud situa-nos frente aos três pilares fundamentais da análise, indicando os caminhos pelos quais o paciente percorre em um processo analítico para libertar-se das
fixações que o aprisionam e chegam a criar bloqueios, sintomas e
inibições em alguns momentos críticos da sua história de vida.