Para problemas difíceis não há resoluções fáceis
O mundo tem problemas. O país tem problemas. Nós temos problemas. E esta constatação não é novidade para ninguém. Pode até parecer redundante esta fala e talvez um pouco vazia de sentido. Mas não é esta constatação que preocupa e sim a forma como a encaramos.
Temos a nossa frente uma sociedade marcada pela violência, pela fome, pela miséria, pelas inúmeras doenças, pela exploração de um classe cada vez maior em beneficio de outra cada vez mais restrita. Direitos usurpados, leis infligidas por gente privilegiada, desconfiança política e o pior: nos inundamos no medo. Medo de ser roubado, de ser violentado, de ser trapaceado, de não ter espaço no mercado, de não superar a depressão e o estresse que bate a porta a todo tempo. Pior ainda é que para estes problemas que remontam um deficiência de séculos nós queremos soluções imediatas. Rapidez, garantia e qualidade também queremos para nossos problemas mais complexos. E esperamos que alguém nos faça este favor. A humanidade se torna ávida de uma resolução consistente e para agora, mas isso parece no mínimo insano. Sabe? Queremos resolver nossa vida com um clique e assim vamos criando ou apenas alimentando uma cultura já existente e predominante da facilidade.
Hoje se fala tanto destas coisas: facilidade, rapidez, agilidade, segurança, qualidade e garantia completa de resultados. Mas para nossa vida as coisas não funcionam assim. Bem que queríamos, mas os fatos mostram o contrario.
Vivenciamos em vários momentos da nossa política a milionária campanha eleitoral que inclusive é também palco de desvios de verbas. E ali ouvimos o que? Promessas sempre imediatas e infalíveis. Mas o que é preciso entender é que quase sempre eles nos falam e nos prometem o que pedimos para ouvir, o que queremos ouvir. Somos vítimas da nossa própria ganância de soluções. Almejamos alto e fiscalizamos pouco. Reclamar todo mundo reclama. Lutar pelas mudanças é mais difícil. E então começamos a entender que toda falaciosidade política é apenas reflexos dos nossos delírios de mudança.
Temos doenças altamente contagiosas e mortais que se contraem pelo sexo e então recebemos a solução rápida, barata e palpável: ´´camisinha``, ou seja, um produto altamente rentável para empresas do ramo, a juventude não precisa se controlar, não precisa pensar sobre amor, valores e respeito.
Temos fome e miséria e então é feito um sistema de assistencialismo medíocre para um povo que não possui o mínimo para uma vida digna. Essa medida é mais fácil que formar a população, profissionalizar e dar emprego.
Temos violência, roubo e trafico e pedimos a construção de presídios como forma de sufocar o mal, ou ainda, temos a pretensão de que podemos separar o joio do trigo. Alguns mais radicais até acham que matar quem matou é o que resolva. Essa medida é mais fácil que educar. Fomentar a cultura e as boas relações. Sem dúvida dá trabalho criar condições de estudo e estrutura familiar.
Temos uma crise de ética e moralidade na política e na sociedade em geral e achamos que apenas criando sistemas e ferramentas punitivas podem suprimir os atos escusos. Pensamos e pensamos e continuamos pensando e sempre achamos respostas de agressão a agressão. Por que? Por que é mais fácil, mais rápido e mais barato.
A política fala do que queremos ouvir. E nós pedimos isto. Somos assim tão imediatistas e pouco reflexivos.
Para problemas difíceis não há resoluções fáceis. O problema é que andamos fazendo paliativos numa sociedade desestruturada e doente. Fala-se tanto em reforma em todos os setores, mas parece-nos que é preciso refazer. Não da para recuperar mais é preciso demolir e fazer de novo. Chega de tanto remendo, emenda, medida provisória.
Essa nossa pretensão de resolver rápido aquilo que é problema de séculos é simplesmente utopia ou pior; falta de reflexão, de razão e coerência. Estamos ouvindo alguma coisa como aquecimento global e isso em decorrência da voracidade humana de séculos e não vamos reverter esse quadro com um esforçozinho de arrependimento. Fomos e somos degradadores e predadores demais, irresponsáveis de mais com o planeta durante anos incontáveis e se agora queremos mudar, por que a coisa parece irreversível e apocalíptica; é por que ignoramos os limites toleráveis.
A sociedade quer um messias, um mágico, um gênio da lâmpada para lhe dar a resposta. E assim segue não se responsabilizando e não percebe que é preciso mudar radicalmente nossos costumes.