OS DIAS DE ONTEM ESTÃO MORTOS
Conta-se que logo após o passamento de John Rockfeller, um dos homens mais ricos do mundo, jornalistas perguntaram ao contador pessoal do magnata quanto ele havia deixado. Lacônico, o profissional de finanças respondeu: tudo!
Essa é a mais inteira verdade, chega um momento em que todos deixaremos tudo nesse mundo: bens, preocupações, dúvidas, dívidas, ansiedades, tudo será passado, mas até chegar a esse instante insistimos em carregar coisas como se fossem nossa eterna razão de viver e sofremos com esse fardo, escolhemos sofrer por ele.
A cada dia de nossas vidas nos levantamos e, não satisfeitos com o dia nascido, trazemos todos os outros dias conosco, as amarguras, as tristezas, as inseguranças passadas, raramente nos lembramos das felicidades desses dias, preferimos as nuvens pesadas, num raciocínio infantil de que é melhor estar preparado para sofrer uma vida triste com receio de uma triste vida até que ela se acabe. É preciso mudar esse comportamento !
Também dizem que águas passadas não movem moinhos, porque então teriam o poder de mover vidas ? Elas não tem, precisamos aceitar isso.
As dificuldades que atravessamos nessa caminhada nos são entregues diariamente, nem antes, nem depois, mas no momento certo para serem resolvidas, trabalhadas e esquecidas, essa última parte é importante: esquecer,
O Livro Sagrado diz que cada dia contém seu próprio mal e que não nos convém nos preocupar com o amanhã, até porque de nada adianta mesmo.
Um dia por vez, cuidando do que esteja à mão da melhor forma, num ritmo incessante, dessa forma chegaremos mais leves ao final do campo, mais puros talvez, mais conscientes de nós mesmos certamente, assim deixaremos menos coisas e levaremos mais conosco, num aparente paradoxo.
Não é fácil, mas enterrar os dias de ontem é essencial para não assombrar o hoje, como também é crucial não tentar adivinhar o amanhã nem nascido, precisamos nos estabelecer na realidade do presente, aproveitando, claro, os ensinamentos aprendidos e prontos para qualquer dificuldade que surgir, somente quando surgir.
Nesse intervalo, entre o ontem falecido e o amanhã vindouro, sejamos gratos pelo que passamos e pelo que virá, pois não estamos à mercê do destino, em tudo há um propósito, nem que seja, simplesmente, nos livrar de nossos medos, um por um, dia após dia.
Texto publicado no jornal Diário da Manhã - Goiás. (Olisomar Pires, escritor)