HERÓI
Lendo algumas postagens hoje à tardinha, deve ter sido no Facebook, me chamou atenção um termo que estava escrito ...O SEU PAI É O SEU HERÓI... - não lembro qual era o assunto e nem mesmo o que exatamente continha no texto porque quando li essa parte, fiquei analisando, parei a leitura e decidi escrever sobre HERÓI. Fui fazer outras atividades que o calor permitia, embora já estivesse bem mais ameno - 38º mas o sol já não estava tão intenso e o tempo já se preparava para alguma chuva, que chegou agora há pouco (estou escrevendo e escutando a chuva molhando o chão já seco de alguns dias de estiagem e o sol escaldante). Em tudo que fazia, no meu pensamento aparecia a palavra herói e ficava pensando o que escreveria no Blog. Pois bem, vamos ver para que situação meu pensamento, minha emoção, minhas verdades vão me conduzir a escrever.
As pessoas estão cada dia mais necessitadas, precisadas de terem um herói em suas vidas. Basta ver o sucesso que são esses filmes de Super-Heróis ( não basta ser herói, tem que ser Super Herói, para ir além do que um herói faz, para suprir o que um simples herói não consegue) alcançam com milhões de adultos, jovens e crianças eufóricas, entusiasmadas e até mesmo vestidas com toda a parafernália que a mídia apresenta, oferece e os aficionados, apaixonados pelo SEU SUPER HERÓI, embarcam na deles e consomem sem nem pensar aquela imensidão de aparatos para que possam chegar a serem, ou pelo menos ficarem quase parecidos aos seus heróis, invariavelmente mascarados, com capas, fartos músculos e uma coragem constrangedora mas incrivelmente avassaladora para os brios de quem quer esse herói para ele. Não que , as pessoas queiram ser justiceiras, defensoras dos fracos e oprimidos, ajudantes dos vitimizados e inferiorizados, como todos eles, os tais heróis dos quadrinhos, agora no cinema são e fazem. As pessoas querem ser como eles mas não fazerem o que eles fazem - embora saibam no seu íntimo, lá dentro dela que isso é algo fantasioso, que jamais conseguirá ser um deles - penetrando num mundo de fantasias e ilusões, até mesmo os adultos, não só crianças - imaginem as crianças então, se os adultos já entram nessa wibe (onda) e se deixam carregar pelo imenso e maravilhoso apelo de que todos nós temos que ter um herói em nossas vidas.
Eu sempre fui muito estranho, desde pequeno lia os gibis do Batman, Super-Homem, Homem Aranha, depois apareceram os seriados e eu sempre torcia para que o Coringa conseguisse pegar o Batman. O que eu mais gostava era do Charada porque sempre gostei dessas coisas enigmáticas. E assim eu ficava vendo e pensando, até escrevia sobre o que sentia - lamentavelmente não tenho esses escritos, extraviaram-se com o tempo - e não conseguia ver, sentir esses personagens todos com os quais os Super-Heróis lutavam, travavam embates homéricos com catapum, pow, poft, bang, boom, e tantas outras onomatopeias para enfeitar e dar mais ênfase, mais êxtase para os leitores eufóricos que chegavam a imitar as cenas como se tivessem eles travando o embate ao vivo com aqueles inimigos. Eu não. Achava tão sem graça, mas eu lia pelo teor da estória, procurando sempre pensar o motivo pelo qual os ditos bandidos faziam suas infrações para serem perseguidos. O que me lembro é de que sempre encontrava uma defesa para eles.
Talvez por isso que eu nunca fiz questão de ser considerado um herói para meus filhos, nunca fiz questão de incutir em suas mentes que eu era o ser maior, o herói deles. Eu era e fui um pai que procurou seguir o que o seu pai, no caso, o meu pai, fazia, com as devidas alterações, adaptações e melhorias que eu sentia serem necessárias para ser um bom pai, não um exemplo de pai, até seria legal se fosse, mas não tanto, só um bom pai já era o suficiente. Mas as coisas acontecem e fogem de nossas mãos o poder de fazer os filhos entenderem os motivos que nos levam a agir de algumas maneiras. Com o tempo a gente vai percebendo isso, e só nos resta esperar, aguardar o momento em que eles reconheçam o teu esforço e tua dedicação de acordo com a possibilidade que se apresentava.
Eu não tive meu pai como herói, embora sempre o tenha admirado pela retidão, honestidade, comprometimento em dar o melhor para a família, dedicação com o trabalho e jamais fazer algo que pudesse prejudicar alguém. Esse era o comportamento dele que eu com o tempo fui percebendo e valorizando, porque quando se é pequeno, não se percebe e muito menos valoriza. e tantos outros por quês que perambulam por nossas cabeças na tentativa de encontrar uma explicação por sermos assim e assado, por agirmos de tal maneira, por não conseguirmos..., por ... São tantos questionamentos, são tantas amarguras acumuladas ao longo da vida, às vezes nem tão longa, mas repleta de interrogações e exclamações.
Nunca precisei que meu pai usasse de onomatopeias comigo, pois era comportado, estudioso e sempre perscrutador, observador das coisas da vida, indagador das vidas humanas. Sempre na minha. Assim também agi com meus filhos, pois nunca precisaram ser punidos com onomatopeia alguma - hoje eles dizem que eu não dei, não impus limites a eles, mas eles não precisavam, não havia necessidade de punição, de controle, pois faziam tudo dentro do que era normal uma criança, um jovem e até mesmo adulto fazer. Muitos pais apelam para a violência, agressão física, quando não tem argumentos para esclarecer e orientar seus filhos. Sempre disse que a violência é o cúmulo da ignorância. A única correção, que pensam ou pensavam é a surra, o laço, fazerem sentir na dor por algo que tivessem ou tem feito. Mas esquecem que um dia também fizeram. O grande problema das pessoas é esquecerem que um dia já passaram por todas as fases da vida e agem como se nunca cometeram erros, artes, estrepolias, bagunça e não cabe a nós impedi-los de vivenciarem, experienciarem atos da sua própria vida. Temos que, como pais, orientar, mostrar o caminho, mas não forçá-los a seguir. Cada um tem seu destino, cada um vai passar pelo que tiver que passar, por isso não podemos impedir, cortar o andar da vida no seu percurso.
Quem precisa de herói é porque não se acha um herói, porque não se conhece, não se entende e não se aceita, e a partir do momento que admira e adota tal Super Herói como referência, ele deixa mais ainda de ser ele mesmo e cai num total ostracismo, sem nem perceber. Assim vai levando a vida - pode ser até que se dê bem, porque consegue lidar com essa dualidade e se enganando e enganando a tantos que se deixam enganar. Isso não é invenção minha, pode-se ver muito dessas pessoas perambulando por aí. Basta prestar atenção que verão. Assim é a vida, com ou sem herói.
Nunca tive um Super-Herói que admirasse assim como nunca tive um herói, nem meu pai, por isso nunca fiz questão que meus filhos me tivessem como herói para eles, mas sempre me preocupei em ser um pai que cumprisse a função de ser pai, não um proprietário de pessoas, como muitos se acham e controlam em tudo, não, mas permitindo que eles tivessem suas próprias vidas - com ou sem heróis - mas as vivessem como eles a concebessem. E eu, sempre orando e clamando ao Senhor pela vida de cada um deles, a cada instante da minha vida, mesmo sem eles perceberem e nem saberem, porque não quero que me chamem de meu herói, e sim de MEU PAI. Quem sabe um dia!