INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA: COMO E O QUE PLANEJAR?
A intervenção psicopedagógica é amplamente discutida nos cursos de formação em psicopedagogia, vez que para se obter um resultado satisfatório é necessário um planejamento baseado numa boa intervenção. Todavia o estabelecimento de critérios é algo substancialmente e quão oportuno, necessário.
Mas, o que representa a psicopedagogia face ao ensino-aprendizagem? Eis uma questão que revela a necessidade imperiosa de rever algumas condições que tratam do conhecimento da criança, enquanto educando e a sua relação emblemática com o mundo que a cerca.
A escola tem como fundamento a aplicabilidade de métodos de ensino que valorizem essa busca pelo novo, sem abandonar, logicamente os desafios de aprendizagem, tendo em vista os aspectos pedagógicos e/ou psicológicos, inclusive estes últimos afetivos e/ou cognitivos.
Piaget (1920) construiu uma idéia construtivista sobre as tendências de criança em detrimento ao indivíduo adulto, sugerindo tratamentos diferenciados, ou seja, uma análise distinta aos pensamentos e qualidades diferentes, como conhecimento das faculdades a que são diariamente direcionadas, haja vista que a intervenção contribui no procedimento investigatório do pensamento infantil, pensando-se na escola como agente formador e transformador para o pleno desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Tendo a significação da palavra intervenção como “mediação”, vale salientar que as famílias representadas pelos pais e adultos são os primeiros “mediadores”, porque são os mesmos, responsáveis pelos ensinamentos, ou conjunto de hábitos, valores, leis e regras.
A escola e os professores têm papel importante também como “mediadores”, pois estão justapostos entre a criança e o mundo social, ao ministrarem conteúdos pragmáticos e fundamentais à formação cidadã dos envolvidos.
Mas, a intervenção sobrepõe-se à simples tarefa de educar, visto que é fator sumariamente importante e tido como interferência para um profissional (educador ou terapeuta) dentro do processo de desenvolvimento e aprendizagem do sujeito (aluno), principalmente quando o mesmo apresenta algum problema que o afasta do conhecimento.
Tendo como um dos objetivos, a intervenção, a psicopedagogia revela a necessidade imperiosa de se fazer a mediação entre a criança e seus objetivos face ao conhecimento ministrado. Diversos autores inserem como parâmetro de aprendizagem, o campo e a natureza da intervenção psicopedagógica.
Por outro lado, Vinh-Bang (1990) refaz o método clínico piagetiano, apontando três níveis referentes à intervenção, como sendo: no nível individual do aluno, para preencher lacunas e corrigir atrasos; no nível coletivo de um conjunto de alunos, para dar conta dos elementos que foram negligenciados; e por último, no nível da escola, para reduzir a “desaptação” escolar. Dessa forma, Vinh-Bang, analisa a questão da percepção da análise dos erros na escola, de forma contundente.
É bem verdade que face à consideração dos erros, o autor prenuncia princípios que perfazem a sua análise, a saber:
1. Toda resposta é significativa, pois toda produção reflete um estado de conhecimento adquirido;
2. Toda resposta é válida;
3. Toda resposta depende da pergunta feita, se sua forma e de sua natureza. A pergunta reflete um sistema pedagógico geral, ou um estilo didático particular.
Com base nestes princípios, a primeira etapa da análise dos erros é o estudo de sua natureza; erros individuais ou coletivos. A segunda etapa é a análise de seus conteúdos: erros específicos a um conteúdo, ou comuns a um conjunto de conteúdos, ou seja, se um aluno erra num conjunto de conteúdos, ele próprio é colocado em questão, tratando-se, pois, de uma desaptação de sua parte em relação à escola, que pode ser um resultado de um acúmulo de erros anteriores que não foram resolvidos no momento certo e que deixaram lacunas nas aquisições.
Sobre os erros coletivos, entretanto, o autor enfatiza que a intervenção é fator preponderante à revisão do programa de estudos, a reavaliação do trabalho didático-pedagógico do professor e o reexame do nível de aproveitamento global da classe.
Nesse contexto, a intervenção deverá levar em conta os seguintes elementos:
1. Consciência do objetivo, ou seja, se o sujeito entendeu o sentido da pergunta?
2. Reconstituição do procedimento que deu origem à resposta e
3. Constatação do erro.
Para o autor, em especial, a intervenção “consiste em criar situações tais que o aluno é chamado a agir mentalmente, de forma estruturante, como sujeito imprescindível à integração das ações num sistema de coordenação e de composição operatórias”.
Pain (1985) trata o tema intervenção juntamente com o do diagnóstico, em crianças com problemas de aprendizagem. O autor demonstra que o não-aprender como sintoma que precisa ser desvendado e suas origens estão na constituição orgânica (que estabelece os limites) e na articulação das criança e seus pais.
Acerca do tratamento psicopedagógico, Fernandez (1987) os divide como:
1. sintomático;
2. situacional e
3. operativo.
No entanto, sugere técnicas embasadas em objetivos para uma intervenção, garantindo o seu cumprimento como um todo.
O diagnóstico, nada mais é do que uma relação entre o aprendente (aluno) e o ensinante (professor) ou instituição escolar, que permite o acesso à relação do sujeito com o conhecimento, face aos aspectos corporais, intelectuais e afetivos.
Fernandez por sua vez, propõe um olhar clínico para os problemas de aprendizagem, revelado sobre a atitude que se resume em escutar e traduzir o material trazido pelo cliente.
Macedo (1992) apresenta o uso de jogos de regras com um propósito psicopedagógico, pois estes apresentam uma situação-problema, um resultado e um conjunto de regras que determinam os limites dentro dos quais a situação-problema e os resultados serão considerados. O autor detalha que “os jogos permitem à criança produzir e compreender situações no binômio “réussir” e “comprendre”, de Piaget”.
Atualmente podem ser entendidas como intervenções psicopedagógicas:
1. Estratégias que visam à recuperação, por parte das crianças, os conteúdos escolares avaliados como deficitários;
2. procedimentos de orientação de estudos (organização, disciplina, etc.);
3. atividades como brincadeiras, jogos de regras e dramatizações realizadas na escola e fora dela, com o objetivo de promover a plena expressão dos afetos e o desenvolvimento da personalidade de crianças com e sem dificuldades de aprendizagem;
4. atendimentos em consultório de crianças com dificuldades de aprendizagem na escola (encaminhamentos feitos pela própria escola); e
5. pesquisa de instrumentos que podem ser utilizados para auxiliar o processo de aprendizagem de crianças, bem como o seu desenvolvimento, no que se refere à inteligência e afetividade.
Nesta condição, têm-se uma idéia conjuntural sobre o papel do profissional, partindo da premissa de afirmação, sabendo-se que a intervenção advém da necessidade imperiosa na resolução de problemas e, principalmente, na construção de um diagnóstico preciso. “Ipso facto”.