Outros natais
Entre 1993 e 1999, quanto eu tinha de 11 a 17 anos, os natais de minha lembrança foram os mais especiais. E não por causa dos presentes bons ou ruins, da comida deliciosa ou intragável, tampouco pelos parentes que sempre via ou os que eu nem conhecia. Estes natais foram inesquecíveis porque, nesta época, o meu pai era o Papai Noel.
É engraçado recordar algumas passagens daquele período. Aos 11 anos, tinha a percepção de que a noite de 24 de dezembro acontecia só de 10 em 10 anos, tamanho era o tempo que demorava a chegar. O meu calendário era ditado não pelas folhinhas tradicionais, mas pelos comerciais do SBT, canal 4 de uma televisão que nem tinha controle remoto e deveria ter, no máximo, umas 14 polegadas. Quando dezembro chegava e a emissora exibia o calendário contando os dias para o Natal, de certa forma sabia que em algum momento me depararia com aquele clássico telefonema. Era batata:
- Eliana, não sei se esse ano a Regina vai fazer o Natal lá na casa dela. Não sei como é que estão as coisas. Até agora ela não falou nada. Acho melhor a gente ver o que vai fazer, o que cada um vai levar.
Minha avó Neyde falava com minha mãe sobre a sua então nora. Sinceramente, sei lá porque a minha avó desconfiava todo santo ano da realização do ‘evento do século’ (para mim, pelo menos, era do século), se ele, o evento, jamais havia falhado desde, pelo menos, 1987, o primeiro realizado na casa da Regina, recém-casada com Fernando, filho mais novo da minha avó. Mas dona Neyde não deixava passar. Lá pelo dia 10 ou 15 de dezembro, ou antes até, o telefone tilintava e lá vinha aquela conversa mole. Minha mãe escutava e só respondia: ‘Tá, tá bom, não sei, mãe. Vamos ver. Tá, tá bom, tá, tchau.’ O bacana era que tempos depois eu mesmo provocava-a, questionando se haveria ou não a reunião, a festa. ‘É, acho que esse ano não vai ter mesmo’. Ela se preocupava sobremaneira.
Então, uns 3 ou 4 dias antes do fatídico 24 de dezembro, tudo o que já sabíamos que ia acontecer, acontecia: a Regina ligava para minha mãe, combinava os pratos (geralmente, os mesmos: maionese, peru, arroz etc) e o horário. Claro, ela ligava para a minha avó também.
Então, eu, que era viciado (sou, até hoje) em atazanar, iniciava o meu ritual natalício: perguntar a todos com qual roupa iria à casa da Regina. E não distinguia as pessoas pela idade. Questionava desde o meu irmão, Dannyel, que em 1987 tinha só 1 ano de vida, até a minha bisavó, de 80 e poucos. E alguns levavam a sério a minha pergunta. Ficavam pensando no que vestir para não ‘passar vergonha’ e me respondiam, compenetrados.
E é claro que eu também tinha que, interiormente, responder a esta gravíssima dúvida a mim mesmo. O que vestir? Por mim, poria calça e camisa social todas as vezes, com sapatos brilhantes, de bico fino, com cadarço. Com gravata, por que não? Sei que soa estranho, mas era elegante. Porém, havia um inconveniente: eu não tinha nada daquelas peças e no fim das contas era a minha mãe quem decidia como eu me apresentaria aos familiares. Como na maioria das vezes estava um calor de lascar, o melhor era a bermuda, camiseta, chinelos. Usualmente, um conjunto que meu irmão também vestiria. E não éramos gêmeos. A minha avó comprava de dois tamanhos diferentes e nos paramentávamos. Era comovente, de tão... brega.
Outro aspecto relevante era a crença no ‘Papai Noel’. Forçando a minha caixa preta e revivendo aquelas temporadas (estou ainda no fim dos anos 80, começo dos 90; 1993 vem daqui a pouco), honestamente não sei se acreditei em Papai Noel alguma vez desde que me conheço por gente. É óbvio que até uns, chutando alto, 3 ou 4 anos, talvez 5, pode ser que tenha ficado embasbacado com aquela figura de vermelho. Só que a lembrança disso é zero. O que guardo na cachola, lá no fundo, é um sujeito chamado Renato, que surgiu não sei de onde, que bancou o bom velhinho de 1987 a 1992 lá na casa do meu tio. Depois, ele sumiu. Não o Noel, mas o Renato.
A rotina da preparação da vestimenta era divertida. Para mim, pelo menos. Isto porque, como eu sabia da artimanha que se tratava, ficava à espera do momento em que a minha avó, ou outra pessoa mais velha, chamava as crianças para uma sala e fechava a porta. Era a senha: Clark Kent viraria, em poucos minutos, o Super-Homem. Ou coisa parecida. Só que aí eu fazia meus malabarismos e me escondia o quanto conseguia.
Veja bem. Eu já sabia da encenação, mas queria ver, presenciar tudo aquilo dos bastidores. Isso me atraía demais. Às vezes, tinha a sorte de algum relaxamento por parte dos guardas, espiava entre as grades da prisão e observava pedaços de pano vermelho, o gorro, a barba branca postiça, e as pessoas em volta do dito cujo ajudando a montar a parafernália.
Ao mesmo tempo em que ficava com um olho no camarim da estrela principal, com o outro via o tique-taque de algum relógio. Não sabia ver as horas no ponteiro, então eu perguntava a alguém. Quando estava bem perto da meia-noite, a ansiedade se instalava dentro de mim, porque sabia que a campainha ia explodir a qualquer instante. Não dava outra. Aí, éramos soltos, e a liberdade era nos dada: estávamos autorizados a ir à sala e abrir a porta.
De 1987 a 1997 (ou 1998) estes natais eram na Rua Ramira Cabral, região central de Jacareí, cidade onde nasci, em 25 de janeiro de 1982. A casa dos meus tios ficava numa pequena vila e não era grande, mas também não era pequena. Lembro da sala, dos dois quartos, o banheiro ali perto, a cozinha, e o quintal, com um quartinho para as tralhas, que era de tamanho razoável. Dava, inclusive, para colocar mesas e cadeiras por ali. Poucas, é verdade, mas dava e era aconchegante. Ainda tenho na memória os cheiros das comidas, das embalagens dos presentes, da roupa do Papai Noel, das pessoas chegando e me dizendo (ou à minha mãe): ‘Nossa, como você cresceu’, ‘Está um homenzinho’, ‘Já tem 9 anos?’, ‘O tempo passa, não é mesmo?’. Posso afirmar que, neste aspecto, o meu irmão sofria mais porque tinha bochechas enormes, parecidas com as de um buldogue, e todos amavam apertá-las. Era uma graça.
Havia algumas crianças da minha idade, outras com menos ou mais anos. As diferenças eram normais. E estas crianças eu via somente naquele dia, uma vez por ano, porque moravam em Igaratá, eram da família da Regina. Havia até um dos tios dela que chegou a ser prefeito da cidade – personagem importante. Porém, ele era simples de tudo. Desmanchava qualquer cerimônia ou tratamento distinto. Não tinha porque ter também, diga-se de passagem.
Outro ponto que me recordo era que desde sempre odiei chegar atrasado a qualquer compromisso. Não sei o motivo exato, mas intimamente creio que descobri há pouco tempo (ou suspeito que descobri): quando eu era criança, com uns 7 ou 8 anos, um dia cheguei atrasado na escola e não pude entrar na sala. Fiquei na diretoria esperando até o sinal do intervalo tocar para poder entrar. Pode ser que seja isso. Pode ser que não. O fato é que me corroía pensar que se algo estava marcado para às 8 da noite, era para estar lá às 8 da noite, ou antes, e não às 8:45 ou 9:15. Mas não adiantava. Eu tinha 9, 10 anos, e não dirigia e tampouco tinha autorização para ir a pé, sozinho. Nesta época morávamos numa avenida, a Siqueira Campos, também no centro da cidade, e de lá até a Ramira Cabral não levava muito tempo, mas ir à noite, sozinho, estava fora de cogitação. E, claro, nunca sequer pensei em fazer isso porque era (e sempre fui) medroso e adorava ir de carro.
Teve um ano, entretanto, que extrapolou o bom senso da pontualidade. Marcou-se a noite do dia 24 à hora tal e chegada a hora tal cutuquei meus pais: ‘Vamos?’. E minha mãe, então, disse: ‘Liga lá na Regina e pergunta se já chegou alguém.’ Havia notado este costume dela: detestar ser a primeira a chegar, não sei o porquê, o que para mim, ao contrário, era a glória: amava ser o primeiro a chegar, olhar a casa vazia, os enfeites, e ver todos chegando depois de mim, impontuais. E naquele dia coube a mim discar e indagar a dona da casa. Ela riu quando eu fiz a pergunta, claro. E então fomos. O inusitado era que eu apreciava chegar cedo, mas, lá chegando, não via a hora de dar meia-noite. Queria saber o que eu ganharia, pois sei que tinha me comportado muito bem durante os 360 dias anteriores.
Também um aspecto diferente era o ‘chegar de madrugada em casa’. Não era tão tarde assim. Uma da manhã. Duas, no máximo. Como eu era acostumado a dormir 9 ou 10 e pouco da noite, não sabia o que passava nas altas horas na TV. Este era o ponto. TV era a minha vida, exagerando um pouco. Mas era. Quando chegava do pós-ceia, então, a primeira atitude era ligar o aparelho e ver o que estava passando. Todos os anos, não mudava tanto. Eram filmes. Na TV Globo, ‘... E o Vento Levou’, ‘A Noviça Rebelde’, ‘Mary Poppins’, ‘Branca de Neve e os Sete Anões’. No SBT, ‘História Sem Fim’, ‘Gremlins’, ‘Loucademia de Polícia’, ‘Superman III’, ‘Querida, Encolhi as Crianças’. Começava a assistir, mas não durava nada. Logo pegava no sono.
Na véspera do Natal de 1992 aconteceu um fato cômico e traumático. Quando estávamos prestes a sair e ir à casa dos meus tios, minha mãe gritou para meu pai: ‘Tem um sapo ali no quarto’. Meu irmão e eu corremos para o outro quarto e fechamos a porta enquanto meu pai tratava de escorraçar o bicho dali. Foi apavorante. Tinha 10 anos e lembro de a todo o momento perguntar do outro lado da porta se já tinham feito o serviço, e minha mãe dizendo: ‘Ainda não’, ‘Tá quase’. Só algum tempo depois é que descobri que não havia sapo algum: eles nos trancaram para poder colocar os presentes no porta-malas do carro sem que víssemos. Coisa de pais preocupados com a imaginação dos filhos. Só podia ser isto.
Foi neste Natal também que, agora olhando no retrovisor, eu mais me emocionei, sem saber ainda, claro, o que era me emocionar. Foi o último que passamos na casa da Siqueira Campos. Ao voltarmos da ceia natalina, abrimos a porta de casa e lá havia a árvore de Natal cheia de luzes e vários presentes debaixo dela: bola, jogos, enfim. Nesta eles me pegaram. E a meu irmão também. Não imaginei que me depararia com aquilo, que não era muita coisa, mas era bonito de ver. A nossa família junta, os 4 ali, contemplando. Havia harmonia, paz.
Em 1993, com o Renato fora da parada, uma indefinição pairava no ar: quem o substituiria a partir daí e ficaria pelos 7 anos seguintes (assim mandava a tradição – não sei o motivo de serem 7 anos). Após debates e confrarias, meu pai foi o escolhido, talvez pela ‘livre e espontânea pressão’. Quando chegou o dia 24 e as normais correrias do momento, confesso que nem matutei sobre. A trilha era a mesma: fomos à casa dos meus tios, chegamos atrasados como de costume, cumprimentamos os familiares, comemos o arroz com frutas, atormentei quem passava ao lado, assistimos o programa especial da Xuxa, meu irmão teve as bochechas apertadas, disseram que cresci etc. Enfim, a regularidade mostrava sua face.
Perto da meia-noite, seguindo os padrões, a operação ‘trancafiar crianças no quarto’ começou. Bati o pé falando que não ia, tentei me desvencilhar, argumentei isso ou aquilo, me posicionei como um maduro adulto de 11 anos. Ninguém deu bola e fui ‘convidado’ a ir ao local. Porém, como não acreditava na figura gorda de botas e cinturão, para mim tanto fazia. Mas a curiosidade da coxia estava impregnada em mim. Desejava ver a pessoa se vestindo, o mistério sendo formado em torno da fantasia. A avó e a mãe me diziam: ‘Vai lá com seu irmão, ele ainda acredita. Não seja ruim’, ou, quando minha avó queria ser mais direta, me chamava de ‘môstro’ (queria dizer ‘monstro’) e me botava para dentro das 4 paredes.
Ao caminhar rumo ao sequestro momentâneo, no entanto, vi, num átimo de segundo, a imagem que até hoje, 30 anos depois, jamais me saiu da cabeça: meu pai entrando no quarto com outras pessoas e a roupa vermelha já sendo tirada do saco de plástico onde ficava guardada um ano inteiro. Está nítido em minhas retinas esta memória fotográfica. Assim que o resgate foi pago e pudemos sair da toca, a campainha soou e aí ele apareceu: olhei nos olhos dele e era meu pai transformado, e mal-ajambrado, em Papai Noel, com uma barriga postiça que dava dó, de tão amadora. E havia o relógio que ele usava. Nem precisava deste deslize, mas estava ali e ia-se fazer o quê, não é mesmo?
Meu pai como Papai Noel era uma mistura de meu pai mesmo ou alguém de voz mais grossa, cujo ‘ho-ho-ho’ do bom velhinho era balbuciado a cada minuto. A façanha era convincente, pelo menos para os adultos presentes: ele entrava, o saco dos presentes nas costas, falando ‘boa noite’ e os ‘ho-ho-ho’ viciantes. Armada de antemão para ele se sentar estava uma cadeira bem no meio da sala. As crianças, eu no meio, acompanhavam-no passo a passo. Uns com cara de assustados. Outros, como eu, de ‘já vi este filme’. Então começava o momento em que ao mesmo tempo eu queria e não queria: ser chamado por ele a receber o presente. Assim que ele pegava um pacote com o meu nome escrito, ou o do meu irmão, dizia: ‘Oh, deixa eu ver aqui... Rodrigo... Ho-ho-ho! Ah, é você, meu filho’. E aí todo mundo caía na risada por ele ter dito ‘filho’ e eu fazia uma cara de sonso fingindo que ‘estava tudo bem, conseguiram me enganar’. Até parece.
Era hilário porque, como meu pai tinha miopia severa, e em alguns anos ao invés da barba postiça havia uma máscara de plástico bem fajuta, ele ficava sem os óculos e precisava contar com o apoio de algum duende, que podia ser minha mãe, meu tio ou outra pessoa, para auxiliá-lo na leitura dos nomes e distribuição dos mimos.
Aí, então, terminada a tarefa, Papai Noel se levantava, bradava o derradeiro ‘feliz natal’ e ‘ho-ho-ho’ e saía pela porta. Mais uma vez, éramos levados ao cativeiro, porém munidos dos presentes, o que nos distraía. Enquanto isso, meu pai retornava pela mesma porta (ou por outro lugar) para virar o Silvio Leite velho de guerra. Quando eu o via de novo, ele contava a historinha comum: ‘Também vi o Papai Noel. Eu tava ali perto, no canto’. Claro, claro. Só dava aquela risadinha sem graça, característica dele, e voltava a pegar o copo com cerveja que tinha deixado na mesa.
Todo este processo devia durar uns 20 ou 30 minutos, mais ou menos. Para mim levavam horas. Não por ser enfadonho, cansativo. Ao contrário. Amava aquilo. É difícil descrever o que sentia. Pode soar piegas ou cafona, mas havia a magia instalada em todos. Em mim. Esta magia está até hoje entranhada aqui dentro. Estou certo disso. Os sorrisos, olhares, as palavras, abraços e beijos desejando ‘feliz natal’, ‘muita saúde’, ‘tudo de bom’. 100% disso segue sendo imprescindível, ao meu ver. Crenças natalinas que se renovam a cada nova noite de 24 de dezembro. Ainda mais agora, para mim, que o Natal parece acontecer de 3 em 3 meses, porque, aos quase 42 anos, o tempo tem passado rápido demais.
Quando meus tios se mudaram para uma casa enorme, em outro bairro, a festa era a mesma, meu pai como Papai Noel era o mesmo, os presentes eram os mesmos. Só que havia algo diferente. Pode ser que, por eu ter me transformado num adolescente com espinhas no rosto e aparelho nos dentes, magro como um pau-de-virar-tripa, eu passei a ver tudo com outros olhos. Ser adolescente não é fácil. Você se torna horrível, só reclama de tudo, quer ir embora para casa, enfrenta os pais, sua vida vira um inferno, com dramas dignos de novelas mexicanas. É quando tudo se torna chato, bobo, sem graça.
Foram 7 anos ininterruptos que meu pai se vestiu de Papai Noel. Depois, não mais. Uma vez, tiveram que raptar um Papai Noel da rua, que andava tranquilo fumando seu cigarro, para entregar os presentes, porque a roupa original estava em um saco de lixo, e foi jogada fora sem querer. Mais tarde, houve outro que se dispôs a dar sequência à tradição. Só que aí não havia mais crianças – ou melhor, havia uma ou duas, se tanto – e os pensamentos estavam distantes, as nuvens estavam escuras, a luz ficou fosca, alguns já não iam mais lá naquela casa. Despropositadamente, se desmancharam a ternura, a ingenuidade. Não houve culpados. Apenas o tempo se encarregou se arranjar novos momentos. Nem piores, nem melhores. Somente diferentes.
A alegria do meu pai, pelo menos, permaneceu a mesma. Ele sempre esbanjou isso. Impressionante. Não a economizava. Eram duas as características: a camisa um tanto aberta e o sorriso. Mas no fim de 2020 veio o revés. Ao ser diagnosticado com uma doença incurável, sem possibilidade de tratamento adequado e progressiva, cuja causa até hoje a medicina desconhece, ele mudou. Foi da água para o vinho. Os sorrisos ficaram raríssimos. Ele, que se cuidava tanto, vítima de um troço daqueles. Não havia motivos para alegrias.
Os natais de 2020 e 2021 foram os piores que passei. De longe, os mais tristes. Meu pai piorava a cada dia e não tinha o que fazer. Só esperar. Para todos foi penoso vê-lo definhando rapidamente. Imagino que para ele tenha sido mil vezes mais. Como tenho a absoluta certeza de que ele teve sempre a noção de tudo e sabia que lhe restava pouco tempo de vida, se guardou em si mesmo, como fazem as tartarugas quando estão com medo. O seu casco, neste caso, era seu abatimento, sua percepção de impotência. Ele não deixou ninguém ultrapassar aquela barreira.
No velório dele, em 14 de julho de 2022 (ele tinha só 71 anos), os seus amigos me contaram passagens engraçadas que tiveram juntos, histórias de viagens, aventuras. Elogiaram-no de alto a baixo: prestativo, bondoso, carinhoso, parceiro. Corinthiano roxo, acima de tudo. Porém, um deles, em especial, conseguiu me comover: José Aparecido, pai da Regina, ex-sogro do Fernando. Eu estava bem na porta da sala onde ocorria o velório, com minha mãe ao meu lado, meu irmão ali perto também. Só eu escutei. Seu Cido chegou perto de mim. Ao nos abraçarmos, falou ao meu ouvido: ‘Para mim, ele foi o melhor Papai Noel’. Aquilo me desmontou. Eu não esperava. Vi que ele estava emocionado. Saí da sala um instante. Não me lembro se o respondi. Creio que não. Ou, se o fiz, devo ter pronunciado o que deu para pronunciar: um simples ‘é mesmo’.