SILÊNCIO II

Acabei de assistir um filme maravilhoso: ESCRITORES DA LIBERDADE, que trata da história real de uma professora iniciante numa escola de segundo grau com uma turma terrível, com alunos de gangues, todos da pá virada, e das dificuldades enfrentadas por ela para conseguir dar aula, até que se deu conta que teria que enfrentar a todos e a tudo e mostrar a seus alunos a importância que cada um tinha na vida. E assim, ela conseguiu.

Resolvi escrever sobre SILÊNCIO, porque em uma das falas dos alunos revoltados ele comentou que pra eles só restava o silêncio, mais nada. Fiquei pensando nas dificuldades da pessoas de raças, que não sejam brancas, passam diante de uma comunidade que hostiliza, que ofende, que não trata como pessoa, e sim como animais, e a reação a esse tratamento é se voltarem para as gangues, meterem-se nas drogas, prostituição, tráfico, e por não verem uma luz na vida, apelam apenas para a criminalidade como forma de viver. A escola, com seus professores que discriminam e exercem suas atividades apenas por exercerem, sem um mínimo de vocação e sem um mínimo de interesse pelos alunos e no processo de aprendizagem. Isso faz com que os alunos, e qualquer tipo de pessoa se cale, fique no total absoluto silêncio de uma vida sem significado, sem importância, onde não sentem-se nada e muito menos alguém.

Esse silêncio pode ser quebrado somente por pessoas que tenham realmente a vocação para exercerem sua missão em suas vidas. No filme mostra a satisfação da professora no sucesso da transformação de seus alunos, mas isso acarretou a inveja do próprio marido que era um frustrado que não conseguia exercer uma função digna e então pediu o divórcio. Assim acontece com as pessoas que não conseguem ser o que a outra conseguiu, porque não tem capacidade, não é a sua missão e não aguentam ficar observando tanta satisfação, tanto entusiasmo e realização e ficar apenas de espectador e coadjuvante, com uma vida medíocre. Ela, a professora passou por momentos tristes pela separação, mas superou porque era sua missão e conseguiu cumprir dignamente.

O silêncio foi quebrado, todos tornaram-se um grupo e ficaram até o quarto ano juntos, escreveram um livro sobre suas vidas, que fazia parte das atividades de sala de aula, que eles escrevessem sobre eles o que eles sentiam, o que estava acontecendo com eles. O silêncio estava sendo quebrado. Todos obtiveram voz, conseguiram se expressar, conseguiram vencer suas dificuldades, seus preconceitos e voltaram a viver uma vida como todos devem viver, com dignidade e sendo vistos.

Quase no final do filme, um dos alunos se desvia do propósito e a professora chama ele e exige que ele volte a ser o que estava conseguindo ser e não aceitava não, e disse a ele EU ENXERGO VOCÊ, PODE TER CERTEZA. E é isso que todos nós temos que fazer, em qualquer profissão que exerçamos, temos que enxergar as pessoas que nos rodeiam, que fazem parte do nosso meio. Não apenas cumprimentar e fazer de conta que conhecemos, temos que nos esforçar para conhecermos de verdade, e nos interarmos das dificuldades as quais estão passando e ajudar. Cada vez mais as pessoas afastam-se porque não querem mais preocupações em suas vidas, basta as delas. O egoísmo impera, o egoísmo invade os corações e transforma as pessoas em pedras que não conseguem mais ter sentimentos reais, verdadeiros e sinceros. Quando as pessoas querem começar um diálogo para se abrirem e falarem por algo estejam passando, logo a pessoa se arma e desvia o assunto para não escutar porque nada disso interessa. E cala a pessoa que precisa falar, deixando-a no silêncio de uma vida que precisa de apoio, pelo menos e muitas vezes apenas para escutar, não precisa nem dizer nada, apenas um ouvido que ouça uma voz necessitada de atenção.

Assim está nossa vida. Assim está a vida de muitos jovens, que se perdem por falta de atenção, por não terem a quem recorrer, porque sentem-se abandonados e não tem coragem de gritar e pedir socorro, e acabam ficando no anonimato, no mais cruel e terrível silêncio, que vai aos poucos aniquilando e transformando vidas que poderiam ser de sucesso, de alegria, felicidade, mas acabam na sarjeta, acabam na lama, tudo por falta de alguém que os escute e os deixe sair do fatal silêncio.

Pergunto então, vocês estão prestando a devida atenção nas pessoas que os rodeiam, estão dando a devida e real atenção no comportamento dessas pessoas? Ou simplesmente agem como se tudo estivesse bem e nada mais interessa a não ser suas próprias vidas? Pensem, e já comecem a agir, porque depois pode ser tarde e o arrependimento vem e vai te fazer calar, ficar no teu eterno silêncio.