Retorno ao gênero natural
Em primeiro lugar, cabe contextualizar o ideal
em que se funda a concepção de restauração da
sexualidade.
Os discursos pastorais que privilegiam o uso dessa noção apresentam uma forte perspectiva normativa, ao conceber um único
modelo para o exercício da sexualidade:
Somente
são permitidas as práticas sexuais inseridas no casamento cristão.
O que foge ao padrão é pecado e, portanto, desordem na sexualidade, comportamento que precisa de restauração, do “reparo”
divino.
Um impulso sexual natural (heterossexual), que foi pervertido em sua origem por expe-
riências traumáticas e pela prática de certos pecados, é passível de ser restaurado pela comunhão
com o Espírito Santo, em um processo que envolve cura das memórias, busca de santificação, disciplina e libertações.
A extinção (ou mesmo a atenuação) dos desejos homossexuais, assim como a
emergência de um impulso heterossexual natural, é almejada como possibilidade de conformidade
ao destino concebido por Deus.
A retórica evangélica recorre a um naturalismo com certas especificidades:
Privilegia uma
concepção de natureza divinamente concebida e
ordenada.
Todo esforço pela cura (em seu sentido ideal ) envolverá necessariamente um retorno
às determinações de Deus, no que tange à sexualidade humana.
A noção de restauração sexual
pressupõe também um ideal de gênero a ser perseguido pela via da experiência religiosa.