Tá Amarrado ! Queima Ele (s) Jesuuussss!!!
A escritora Clara Mafra (2002) também analisa a libertação evangélica, especialmente ao se deter sobre o
sistema ritual da Igreja Universal do Reino de
Deus, ressaltando o sentido performativo dessa
forma religiosa que incentiva mudança do sentido
ontológico.
A constante referência ao demônio e a
redescoberta de um mal personalizado reforçam o
dualismo entre o bem e o mal e enfocam as performances que se realizam no culto religioso: a
manifestação do demônio – e sua confissão acerca do mal que causa aos fiéis – fornece aos participantes um roteiro e um sentido para o sofrimento.
Contudo, é também no contexto ritual que
o crente aprende a derrotar o maligno.
As orações
poderosas, a corrente humana e a atuação do pastor, que exerce sua autoridade na expulsão dos
demônios, tornam o culto uma espécie de aula de
enfrentamento do mal.
Desemprego, angústias e
aflições são obra daquele que vive a atazanar os homens e a disputar com Deus a habitação do
corpo do crente.
Em contraste, viver em Cristo e
tornar-se um templo do Espírito Santo resguarda
das investidas do enganador, capacitando o cren-
te a enfrentar as provações e as tentações no cotidiano.
Para Mafra, cura e libertação são obtidas
pela busca agonística de purificação ritual que
envolve “queima ou amarração” do maligno, mas
nunca sua derrota total. Assim, na “libertação ritual
neopentecostal, o demônio nunca é vencido de
uma vez por todas, mas sofre derrotas provisórias, uma após outra, no caso de batalhas bem sucedi-
das”.
Trata-se de um sistema religioso que objetiva, por meio de processos rituais
de purificação, a transformação do indivíduo em
um campo, uma superfície apta a ser habitada
pela divindade (o Espírito Santo).
Mafra, como
outros autores, aponta a existência de determinadas formas de construção da subjetividade e da
pessoa nesse contexto religioso, no qual as noções
de cura, libertação e regeneração pessoal estão
necessariamente presentes no aprendizado da teoria da pessoa dessa cosmologia.