O Milagre para os Gays
O trabalho da escritora Delma Pessanha Neves (1984),
sobre comunidades da Assembléia de Deus, aponta uma perspectiva analítica relevante.
De acordo
com a autora, fenômenos de cura milagrosa, em
um sentido genérico, reportam à necessidade de
ordenar, submeter o indivíduo divergente ou sem
fé às regras vigentes entre os crentes.
O ideal de
cura enfatiza a necessidade de adequação do indivíduo às normas e às prescrições religiosas, visto
que o adoecimento e os infortúnios, de uma forma
geral, remetem ao apartamento de Deus e à submissão aos prazeres carnais.
Fenômenos de cura
espiritual podem ser mais bem entendidos se inseridos no contexto de “atos ritualizados, que
expressam a relação dos homens com o mundo
por eles sobrenaturalizado ou com os poderes que
atribuem às divindades”.
Com
efeito, a noção de cura milagrosa pressupõe classificações relativas à doença e à saúde (felicidade
e infortúnio), inseridas em um quadro referencial
cosmológico e doutrinário.
Partindo dessa visão, o que seria passível de
cura estaria situado em um conjunto muito amplo
de fenômenos, que abarcam desde problemas
orgânicos até desavenças familiares, desemprego,
vícios de qualquer ordem, assim como os possíveis
desvios na esfera da sexualidade (adultério, homossexualismo etc.).
Nesse sentido, a cura de uma
doença, a obtenção de um trabalho e a organização da vida familiar – tudo o que diz respeito à
ordem idealizada na perspectiva doutrinária – são
signos da condição de escolhido de Deus e protegido pelo Espírito Santo.
O pecado
é associado ao castigo, à degeneração humana, em
oposição à onipotência de Deus, à graça, ao merecimento e ao poder mediador do Espírito Santo, que “naturalmente” os convertidos conseguem
obter.
Configuram-se, assim, percepções de doença e saúde que articulam o físico e o moral.