Infestação Demoníaca ?
Práticas homossexuais são apreendidas em experiências negativas de abuso, trauma, violência e
rejeição (versão psicológica); ou dizem respeito a
uma complexa cadeia de significados cosmológicos
que recorre à teologia da batalha espiritual ao considerar a atuação de demônios sobre a esfera da
sexualidade dos indivíduos.
Tive acesso a esse tipo
discurso não apenas na literatura, mas vários informantes afirmaram que esta é uma concepção difundida em suas igrejas.
No ambiente religioso considera-se que:
“Os demônios são sexualmente
transmissíveis”.
Nesse sentido, o pecado do homossexualismo deve ser evitado porque permite a
infestação por seres malignos.
Sob a ótica dessa perspectiva, os transtornos sociais e psicológicos que colaboram para o
desenvolvimento do homossexualismo podem ser
causados por influência espiritual.
De qualquer
modo, em ambos os casos, a homossexualidade é
externa ao indivíduo:
Sentimentos ou desejos
homossexuais não constituem atributos inatos ao
sujeito mas se conformam a partir de uma constelação de fatores “sociais” ou “espirituais”.
Ampliando o foco de visão para o universo
religioso, este discurso contrasta, sobretudo, com o
da Igreja Católica, que não nega a prática homossexual como sendo uma tendência.
Os católicos
consideram a possibilidade de a homossexualidade constituir uma expressão da natureza de alguns
indivíduos, apesar da afirmação – em um plano
ideal – da necessidade de contenção pelo celibato
e cultivo do amor de Deus.
Com efeito, o estar homossexual evangélico adquire contornos mais precisos quando contrastado com a posição relativamente mais tolerante dos católicos.
A adoção de um posicionamento construtivista por parte dos evangélicos deixa margem à possibilidade de gerenciamento dos corpos na produção de uma sexualidade dentro dos limites
determinados pela doutrina.
Afirmar que o impulso
homossexual tem origem em fatores ambientais ou
espirituais é justamente o que permite o controle
das condutas sexuais pela promessa de reversão da
homossexualidade.
A concepção evangélica, assim,conforma-se
como um construtivismo moral, que
em outro plano discursivo recorre a argumentos naturalistas em sua definição do gênero.