DIA DOS APOSENTADOS

Fiquei sabendo que hoje é o dia em homenagem ao aposentado(a). Pois bem, sinto-me, então homenageado, pois sou da classe dos aposentados. Aposentei por tempo de serviço, 45 anos, mas INSS não considerou alguns; por tempo de contribuição 35 anos comprovados, fora três anos e sete meses não reconhecidos e também por idade, há três anos, em 2019, quando me concederam a aposentadoria eu estava com 62 anos. E cumpria, assim a exigência.

Mas, até conseguir com que considerassem toda a documentação, e cumprindo todas as exigências que diziam necessárias para validarem o tempo demonstrado, foi uma maratona que durou mais de dois anos. Dei entrada nos papeis em julho de 2017 e só me concederam aposentadoria a partir de 24/12/2019 - presente de Natal, mas o aviso só me foi enviado em maio de 2020. Ainda bem que eles consideraram os meses e me pagaram o valor dos meses anteriores ao aviso.

A maratona foi intensa, cansativa, tensa e demorada. Muitas exigências, que eram cumpridas, mas sempre aparecia mais alguma, mas não podemos chegar no órgão e dizer da incompetência e incapacidade e falta de interesse deles em não terem visto tal detalhe e já ter pedido para cumpri-la. Temos que nos calar ante tamanha falta de consideração dos atendentes - embora tenha tido uma atendente que até já me reconhecia e me chamava no canto, de tanto que ia até o posto de atendimento. Muitas idas e vindas até chegar o dia do aviso. O alívio foi tão grande que o choro veio e toda aquela correria valeu a pena - afinal, já passou mesmo, então, o melhor e o recomendado é esquecer; e agora o negócio é curtir a aposentadoria.

Aposentadoria pode dar um sentido de envelhecimento. Um sinal de que estamos sendo descartados, eliminados, desconsiderados de atividades produtivas. Eu decidi entrar com aposentadoria porque tive um AVC Transitório - que, fisicamente, não me deixou sequelas, mas que no meu cérebro, no meu raciocínio rápido, no pensamento ágil e memória admirável foi aos poucos mostrando o dano causado. Mesmo a contragosto e contra o que sempre dizia que iria morrer em uma sala de aula de tão apaixonado que era pelo meu trabalho, pela minha missão que cumpri por 24 anos: ser Professor; assim eu desisti de continuar e entrei com os papéis, pois me considerava, não incompetente, mas não era mais o mesmo para responder perguntas que me faziam, repetia assuntos e a agilidade e criatividade já mostravam decaída. Melhor parar por cima, do que perder tudo o que se conseguiu ao longo de um período. Acredito que conseguiria continuar sendo um ótimo professor, mas ser ótimo não era o suficiente, tinha que ser excelente.

As pessoas me perguntam porque não volto para sala de aula e minha resposta é que não sinto vontade, não por incapacidade, mas porque olho pra trás e vejo toda a trajetória que tive desde os 15 anos trabalhando. Parei de trabalhar, exercendo atividades para pessoas e empresas - escola até são empresas, e eu dei aula a maioria dos anos em escolas particulares, e agora exerço atividades pra mim. Estou sempre fazendo e inventando algo a fazer, principalmente na culinária - não me arrisco dizer gastronomia, porque não chega a tanto -, onde estou diariamente cozinhando algo - nesses momentos percebo a dificuldade da memória: não consigo gravar as receitas, o que antes era tudo na cabeça, agora é tudo lendo - embora eu não cumpra com as receitas, sempre as faço do meu jeito. Outro dia falo de disciplina, mas eu sempre fui indisciplinado, sempre gostei de desafios, até para cozinhar.

Estou curtindo a aposentadoria. Não é ruim como muitas pessoas dizem ser. Não me sinto velho, nem fisicamente - embora já perceba os sinais do tempo, da idade tomando conta e se manifestando -, muito menos mentalmente. Procuro estar sempre pensando, sempre cantando, sempre dançando ( em casa, não saio para dançar). Não viajo, embora tenho diversos convites, mas não gosto de ir, então não vou. Em fevereiro criei esse Blog e sempre tenho algo a escrever nele, e isso estimula meus sentimentos e me faz sentir que ainda penso, que ainda sou eu, como sempre fui - um pouco menos, claro - mas sou eu que ainda tenho algo a dizer, ainda tenho algo a mostrar para as pessoas. Adoro ler e com a mesma intensidade, de escrever. Escrevo o que sinto, o que sou.

Estar aposentado não é se atirar e ficar o dia todo sem fazer nada. Quando se é novo o ficar parado, sem fazer nada é chamado de ÓCIO ULULANTE, ou seja, ficar sem fazer nada para pensar e produzir algo maravilhoso; mas agora chamam isso de velhice e ficam estagnados para tudo e para todos, apenas vivem porque ainda respiram - e até isso é difícil, conforme o que se faz.

Estar aposentado está sendo muito bom, mas o ficar parado me incomoda, e o que mais incomoda é as pessoas pensarem que por estar aposentado já está descartado e não vale mais nada. Isso não acontece comigo, pelo menos não percebo, mas se algum dia perceber, simplesmente ignoro e sigo do mesmo jeito como sempre fui, o jeito Mendes de Ser e de Dizer: FELIZ, FALANTE e sempre com disposição para todo e qualquer desafio.

Então, convoco a todos os aposentados que se acham ultrapassados, que se acham sem condições de nada, parem com isso e passem a viver a vida como se fosse o último dia, sempre feliz. Quem tem alguém aposentado por perto faça-o sentir gente, ajude-o a viver mais e melhor. Todos nós aposentados merecemos isso. Parabéns aos aposentados por esse dia dedicado a nós.