Tecnicidade
É no mínimo curioso como algumas pessoas se deixam ser assassinadas por uma tecnicidade absurda. Estou ciente que alguns ao lerem ‘tecnicidade’ vão pensar que é um neologismo, ou outros vão tentar levar para o lado de alguma patologia mental. Mas calma!! é que não encontrei nenhuma palavra melhor para definir o que quero dizer, mas ao ler o texto será capaz de entender, pelo menos tentarei.
Estou assustada com o número de pessoas que estão perdidas no meio de tantas técnicas de fazer isso e aquilo, e não se atentam para o lado prático, poético de se fazer as coisas. Uma simples brincadeira pode se tornar uma dor de cabeça até em meninos de pouca idade que se rendem aos vídeo games.
Hoje em dia não se brinca mais de pião sem ter que ler um manual de ‘macetes’ antes, ou um jogo de vídeo game sem procurar na internet as técnicas daquele jogo. Até mesmo no trabalho a técnica cresce contrapondo o prazer de trabalhar. Talvez seja por isso que filósofos e psiquiatras sejam taxados de loucos, não têm muitas técnicas de trabalho, se têm quase nunca podem ser respeitadas porque cada caso é um caso.
Hoje compreendo muito mais a denominação loucura e doido que tantos gostam de taxar o outro, mesmo os não acometidos por doença mental. Ser louco ou doido é não seguir regras, é não precisar de técnica para viver, apenas têm, ou melhor, temos a convicção da nossa vivência, e só sabemos o que é ela a partir do momento que vivemos.
Outro dia estava visitando ( e não usando a técnica de dizer navegando, até porque não estava num navio e sim apenas usando ondas eletromagnéticas e ópticas) algumas páginas da Internet, os chamados blogs, e encontrei um de concurso de photoshop (programa utilizado para editar fotos), o que achei interessante nesse concurso é que o proponente dava uma figura de uma mulher e pedia para os participantes maquiarem a mesma. Na verdade não era bem um concurso e sim um desafio, pois não havia premiação, o vencedor poderia propor a próxima imagem a ser editada pelo respectivo programa.
Quando li o tal blog achei muito interessante aquela proposta, e queria participar também, fui ler as regras e vi que qualquer pessoa poderia participar, e só poderia votar quem participasse do desafio, mas não poderia votar em si mesmo. Instalei o arquivo contendo o programa, li algumas coisas sobre os comandos do mesmo e fiz o que achei ser interessante.
No dia seguinte voltei ao blog e me surpreendi com alguns comentários, alguns garotos ( sim digo garotos porque eram rapazes de 18 e 19 anos, segundo a descrição de seus perfis) reclamando que o desafio não exigia muito do participante, que fazer um a maquiagem era muito simples e não exigia quase técnica nenhuma.
Fiquei estarrecida! Agora algo bom é aquilo que exige o cumprimento ou uso de muitas técnicas? Seria eu já ultrapassada a nova geração? Ou seria eu um extra terrestre? Ou apenas alguém com uma concepção diferente? Fiquei a pensar por uns instantes o que me despertou para o tal desafio e o comentário, não sabia se respondia ou não, pois se respondesse poderia parecer uma interferência, imposição de uma opinião minha.
Bom, no final das contas decidi responder, porém de forma sensata, não toquei na questão da tecnicidade, mas buscando motivar o autor do desafio, para que esse não se desestimulasse diante dos cruéis comentários.
Coloquei minha opinião, exatamente aquilo que me fez interessar pelo respectivo desafio, pois para mim não era um simples desafio de editar foto, porém uma atividade que exigia muito do participante, pois ia muito além de maquiar uma foto um programa. Na minha concepção exigia um conhecimento de informática ( sobre o programa), conhecer as tendências da moda atualmente e da próxima estação, criatividade, conhecimento de arte, saber ousar na medida certa, o conceito ( o que te inspirou na produção), enfim uma infinidade de vertentes que não depende de técnica apenas.
Uma pessoa pode ser muito boa no programa mas não entender nada de moda, aí, não tem técnica que consiga deixar uma foto bonita. E foi isso que escrevi lá no blog. Não sei se intimidei os garotos com minha fala, ou se consentiram como diz o velho ditado sobre quem cala diante de uma colocação. O fato é polêmica com certeza não causei pois não houve nenhum comentário depois do meu e várias pessoas vieram a participar do dito desafio.
Essa historinha foi só pra exemplificar a tecnicidade, os jovens de hoje, e muitos marmanjos por ai, estão medindo a capacidade de outrem pelo número e intensidade da técnica que utiliza para determinada atividade. O bom senso, a cultura que a pessoa leva consigo deixou de ser importante. Hoje o diploma, o livro técnico passou a ser mais importante que a filosofia, o romance.