Para que filosofar?

´´Quem, de três milênios,

Não é capaz de se dar conta

Vive na ignorância, na sombra,

À mercê dos dias, do tempo. ``

Esta epigrafe de Goethe, no mínimo nos deixa com um sentimento de déficit histórico. Mas seria ignorância maior se dele descordássemos. Talvez, a atitude mais sensata, seria correr atrás do prejuízo e começar a passar a limpo o tempo perdido.

Gostamos de pensar e lembrar como o mundo evoluiu. Seus ´´ avanços`` tecnológicos e econômicos são para muitos o paraíso terrestre; que nos trouxe o conforto e a comodidade, a facilidade e a rapidez. E diante disto, nos esquecemos que nos acomodamos na capacidade de pensar. Talvez, por que tudo é fácil, volátil e accessível demais.

Como parar de pensar? Hoje temos invenções incríveis! Apesar disto ainda ouso dizer que pensamos menos. Criamos mais! Aprendemos a fazer volumes de coisas e nos esquecemos de pensar sobre a origem do que já foi criado, antes mesmo de nós existirmos.

O fato é que a filosofia esta em baixa. Pensar, pensar e pensar, cansa-nos demais. É melhor dar um simples click na internet e em segundos temos a nossa frente tudo pronto. Por que ruminar o pensamento para aprender se já temos informações prontas? Alias, hoje tudo já vem pronto ou no muito, pré- pronto, inclusive o pensamento.

Que condição poderia ser mais favorável aos homens do poder publico e do capital, do que esta? Estar a frente de uma massa não pensante. Pessoas que não pensam, por que estão ocupadas demais fazendo. Fazendo o que? Fazendo a engrenagem capitalista girar. Isto tudo, lembrando, de modo mecanicista e ininterrupto. Não podemos parar, pois senão corre-se o leve risco de começar-mos a pensar o que estamos fazendo com nossas vidas. E assim vivemos a bela vida de trabalhar por que precisamos sustentar nosso consumo e consumimos tanto por que nos ofereceram, e eu não tenho como reagir.

Antes criávamos a partir de uma necessidade, hoje criamos e depois se inventa uma necessidade. E depois parecemos não poder viver mais sem aquilo que só foi inventado a algumas décadas ou anos.

Enquanto os filósofos ficam se questionando sobre assuntos bestas, do tipo: de onde viemos? Para que viemos? Para onde estamos indo? Como estamos agindo? Nós que somos espertos, nos preocupamos: primeiro em comer: e comer bem. Depois vestir o que ta na moda, acompanhar os últimos lançamentos sem o qual eu não vivo, olhar a bolsa de Nova York, a cotação, o ator americano que... e por ai vai.

Coisas pequenas a nosso redor não tem mais importância. Como poderíamos nos importar com estas coisas tão normais e comuns, diante de tantas novidades. Seria realmente perder tempo olhar a natureza, perceber meus próprios sentimentos, fazer um cumprimento ao outro e coisas tão simples desse tipo.

Criamos um ser humano utilitarista e funcionalista. Há! E não poderia deixar de acrescentar imediatista. Por isso que, não precisamos mais filosofar, isso nunca dá em nada, e além do mais, não temos tempo pra isso.

Depois dessa ´´ incrível evolução`` de um século para cá, por que iríamos nos preocupar com milênios atrás? Para que pensar no que pensou Sócrates, Platão, Santo Agostinho, Cícero, Sêneca, Kant, Spinoza, Marx, Freud, e um monte de outros caras que não faziam nada, além de pensar.

E assim vamos nós, não simplesmente a mercê do tempo, mas em função dele, como servos de Cronos e propulsores eficacíssimos da incrível maquina de gerar coisas a serem consumidas por nós: o capitalismo!

Albino
Enviado por Albino em 25/12/2007
Código do texto: T791646