Paulo Reglus Freire (1921-1997) faz opção e assume clareza política pelos que denomina oprimidos. Sua Filosofia, Pedagogia, Epistemologia, Teoria do Conhecimento para a Educação e Práxis Educacional vem sendo estudadas no mundo inteiro.
O método freireano de alfabetização política (com ~ 40 horas para aprender a ler, a escrever e iniciar a formação de consciência política) foi sistematizado em 1962 a partir de experiências alfabetizadoras de adultos realizadas por ele durante todos os anos da década de 1950.
A. CONCEPÇÕES FREIREANAS
– CONCEPÇÃO DE PESSOA: a pessoa é autora e criadora da história e da cultura; um ser naturalmente pedagógico, histórico, incompleto, inacabado, que se faz humana a na relação com o mundo histórico-social e na convivência com as demais pessoas.
A PRIMEIRA IDÉIA-FORÇA DAS CONCEPÇÕES FREIREANAS ES´TÁ NA HARMONIA ENTRE A VOCAÇÃO ONTOLÓGICA DA PESSOA HISTÓRICA E TEMPORAL (DE SER SUJEITO) E AS CONDIÇÕES PARTICULARES DESSA SITUAÇÃO HUMANA (DE SUJEITO).
– CONCEPÇÃO DE HISTÓRIA, SOCIEDADE, CULTURA E PROCESSO HISTÓRICO: História, sociedade, cultura e processo histórico são criados e transformados pelas pessoas humanas, educadas para suprimirem a consciência ingênua e formarem a consciência política.
– CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO: Educação é ato e processo sociopolítico e uma situação gnoseológica aonde as pessoas, mediadas pela realidade histórico-social, em relação dialógica umas com as outras e em permanente leitura analítico-crítica daquela realidade superam a pobreza política e a consciência ingênua construindo, até a morte, a consciência política pela rejeição a todas as formas de opressão.
– CONCEPÇÃO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: “Não existe ensinar sem aprender”; “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”; “Quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”.
– CONCEPÇÃO DE EDUCADOR E EDUCANDO: Dodiscência é o conceito que expressa a mutualidade inseparável entre educador e educando no processo de ensinar-aprender.
Nos processos educativo e de aprendizagem há dodiscentes –sujeitos do processo ensino-aprendizagem.
– CONCEPÇÃO DE ESCOLA E AULA: Círculo de Cultura é o espaço e a forma para a aprendizagem. A Escola formal e Aula tradicional são descartáveis para a aprendizagem.
– CONCEPÇÃO DA FUNDAMENTAMENTALIDADE DA REFLEXÃO CRÍTICA: sem reflexão crítica na formação docente e na prática educativo-crítica a teoria vira “blablabla” e a prática é apenas “ativismo”. Na reflexão crítica a leitura do mundo sempre precede a leitura da palavra.
– FINALIDADE DO ENSINO: criar e promover curiosidade epistemológica, criar e manter possibilidades para produção/construção/reconstrução de conhecimentos.
– CONCEPÇÃO DE UTOPIA: Ato de conhecimento e de compromisso histórico para denunciar a estrutura desumanizante, para anunciar a estrutura humanizante e comprometer-se permanentemente com a realidade concreta.
– ALGUNS CONCEITOS DA PEDAGOGIA POLÍTICA
Ciclo gnosiológico; Compartilhamento; Consciência crítica; Consciência política; Consciência ingênua; Conscientização; Criatividade; Criticidade;
Curiosidade epistemológica; Curiosidade ingênua; Curiosidade domesticada; Diálogo; Estética (pureza); Ética (decência); Ética do humano; Pedagogia; Pedagogicidade; Postura dialógica; Realidade concreta; Realidade idealizada; Reflexão crítica; Responsabilidade ética; Responsabilidade histórica; Responsabilidade política; Responsabilidade social; Rigorosidade metódica; Saberes socialmente construídos na prática comunitária.
– CONCEPÇÃO DE LEGÍTIMA PRÁTICA DE ENSINAR-APRENDER: a legítima prática de ensinar-aprender é “uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética”.
– CONCEPÇÃO DE CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: compaginado do diálogo com a realidade viva formando um universo vocabular do qual se extraem temas/palavras geradoras para o processo de ensinar-aprender.
– CONCEPÇÃO DE LEITURA: a leitura verdadeira compromete o leitor com o texto lido; o ato de compreensão do texto torna o leitor sujeito do texto lido.
– CONCEPÇÃO DE CICLO GNOSIOLÓGICO: fundamentais é conhecer o conhecimento existente (acumulado) e tornar-se aberto e apto para produzir conhecimento ainda não existente.
Ciclo gnosiológico é o momento de ensino e aprendizagem do conhecimento já existente e o momento de trabalhar a produção do conhecimento ainda não existente. As práticas da dodiscência e da pesquisa são fundamentais nos dois momentos do ciclo gnosiológico.
– CONCEPÇÃO DE EDUCAR: a experiência e o exercício educativos são atos para formação moral do educando.
– CONCEPÇÃO DAS 27 EXIGÊNCIAS DO ENSINAR
Ensinar exige:
-rigorosidade metódica
-pesquisa
-respeito aos saberes dos educandos
-criticidade
-estética e ética
-corporeificação das palavras pelo exemplo
-risco, aceitação do novo e rejeição a quaisquer formas de discriminação
-reflexão crítica sobre a prática educativa
-reconhecimento e assunção da identidade cultural
-consciência do inacabamento
-reconhecimento de ser condicionado
-respeito à autonomia do ser do educando
-bom senso
-humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores
-apreensão da realidade
-alegria e esperança
-convicção da possibilidade de mudança
-curiosidade
-segurança, competência profissional e generosidade
-comprometimento
-compreensão de que educação é forma de intervenção no mundo
-liberdade e autoridade
-tomada consciente de decisões
-saber escutar
-reconhecer que educação é ideológica
-disponibilidade para o diálogo
-querer bem aos educandos
– CONCEPÇÃO DE ENSINAR: Ensinar é trabalhar os conteúdos educacionais dentro da rigorosidade do pensar certo.
Não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino.
– CONCEPÇÃO DO PENSAR CERTO
a) Uma das condições do pensar certo é não estar inteiramente certo de certezas.
b) É o pensar rigorosamente ético e gerador de Estética, incompatível com a “desvergonha da arrogância de quem se acha ceia ou cheio de si mesmo”.
c) É a atitude transparente e afirmadora de que a maneira de estarmos no mundo e com o mundo como seres históricos é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo.
d) É exigência dos momentos do ciclo gnoseológico fazendo com que a curiosidade ingênua se torne mais e mais metodicamente rigorosa, transitando da ingenuidade para a curiosidade epistemológica.
A curiosidade epistemológica produz superação e não ruptura com a curiosidade (que deixa de ser ingênua).
e) Exige profundidade e não superficialidade na compreensão e na interpretação dos fatos.
f) É radicalmente coerente: as palavras tem corporeidade no exemplo; quem pensa certo faz certo.
g) Não há pensar certo sem prática testemunhal.
h) É disponibilidade ao risco, à aceitação do novo.
i) É rejeitar quaisquer tipos de discriminação.
j) Não é isolamento, mas ato comunicante e co-participado de entendimento.
k) É dialógico e não polêmico.
l) É rigorosidade metódica.
– CONCEPÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO EM ÁREA DE MISÉRIA: A dimensão humana é a única que dá sentido à tarefa de alfabetizar oprimidos.
Para a alfabetização é necessário realizar uma “espécie de psicanálise histórico-político-social” para extrojetar a culpa indevida que o poder ideológico dominante inculca nos dominados por responsabilizá-los por sua situação. Em seguida à psicanálise histórico-político-social inicia-se o ensino da escrita e da leitura da palavra.