Paciente Irracional
Compreenderemos melhor, agora, o mecanismo psicanalítico-terapêutico: logo
que o analista observe um impulso reprimido, ele dará uma interpretação ao paciente;
aquilo que este pensa, sente, faz ou fala, é algo irracional, irrazoável.
Na segunda fase da interpretação — que o analista inglês Strachey chama de in-
terpretação mutativa — o analista logo que tenha bastante material histórico para
poder compreender tal impulso ou tal atitude do paciente, relaciona-o com o objeto
infantil.
Aí o paciente sente que o analista de fato não é como esse objeto infantil, que não precisa ter ódio, medo,. desconfiança dele e, com isso, abandonará as reações neuróticas por não serem mais necessárias como foram na sua infância.
É preciso ainda dizer que tais interpretações mutativas, que são as únicas eficientes no sentido terapêutico, devem ser precisas, curtas e dadas no momento apropriado.
Para poder manter esta atitude de infinita tolerância, é necessário que o psicanalista não tenha recalque algum dos próprios impulsos agressivos, ele não deve ter, também, medo da agressividade do paciente.
É muito instrutivo o que Sachs relata:
" Um paciente, cheio de raiva, tirou durante a sessão um revólver do bolso, visando o psicanalista.; este ficou calmo e imóvel, perguntando apenas:
"Que associação lhe ocorre quanto a este ato?" .
O mais leve gesto de medo ou defesa da parte do analista poderia talvez ter provocado uma agressão física, mas a calma inabalável do analista desarmou o paciente por completo.
Não conheço um único caso em que o analista tivesse sofrido agressão física por parte do paciente.