A empatia do analista
A transferência começa, necessariamente, na primeira consulta.
Cabe à habilidade do analista e seu conhecimento da técnica fazer com que ela se desenvolva espontaneamente.
O psicanalista torna-se, logo, a pessoa mais importante e em torno dele se desencadearão todos os conflitos neuróticos do paciente:
Assim, a neurose do paciente transforma-se numa neurose de transferência.
O analista assume, no íntimo do paciente, o papel do pai, da mãe, dum irmão, duma pagem, independente do próprio sexo ou da sua personalidade.
Ao mesmo tempo, ele representa uma das imagens introjetadas da infância.
Para isso o analista deve ser o mais impessoal e reservado:
Nao deve responder a qualquer pergunta refe-
rente à sua pessoa, falando o menos possível para poder observar tôdas as reações do paciente como manifestações de sua personalidade;
Não discutir questões políticas, religiosas, sociais ou sexuais, pois as suas opiniões não importam;
Nem de explicações teóricas ou técnicas.
O paciente torna-se afetivamente dependente do psicanalista:
Surge em cada paciente o desejo forte e mais ou menos consciente de conquistar a simpatia e a admiração do analista, como ele queria, na infância, conquistar o amor dos pais.
O paciente precisa do amor do analista para neutralizar no íntimo as imagens introjetadas mas é os impulsos destrutivos que o aterrorizam.
Todos esses medos, todo esse conflito íntimo são inconscientes ao paciente.
A tarefa do analista consiste em facilitar o processo de identificação e, para êste fim, ele
reage a todas as tentativas de conquista com uma atitude calma, inacessível e um
tanto impessoal.
Ele deve ser como um espelho que reflete só as reações do paciente, sem mudar de atitude que, nem por isso, deve ser fria.
O analista tem logo a oportunidade de mostrar ao paciente que sua simpatia ou admiração são meros mecanismos de defesa contra o medo e não um afeto sincero de amor.
Se o paciente perceber que não pode conquistar a simpatia do analista, começa logo a sentir raiva ou ódio contra o mesmo:
Decepcionado pela inatingibilidade afetiva
do analista, o identifica logo como o objeto mau introjetado ou real da sua infância e começa então a sentir os antigos impulsos hostis e agressivos que lhe causaram tanta angústia na infância.
Deste modo, a primeira atitude de amizade do paciente, resultante da transferência positiva, transforma-se em irritabilidade, decepção, angústia ou mágua.