Impulsos Infantis
O neurótico raramente é um membro querido dentro da família, um amigo de confiança em sua roda, um chefe admirado ou um empregado apreciado, pois suas dificuldades
de caráter destroem ou, pelo menos, influem nos laços afetivos tão indispensáveis para uma vida social satisfatória.
Pode-se dizer que, em última instância, a neurose nada mais é que o fracasso do indivíduo no estabelecimento de suas
relações com os objetos de seus impulsos.
Como se dá tal fracasso?
Por que é que um moço, iniciando sua carreira na vida, parece ser favorecido pelo destino, ao passo que outro encontra somente dificuldades e decepções?
Lancemos, por um momento, um olhar à criança e ao seu ambiente.
A criança depende, no início, completamente de sua mãe, todos os impulsos da criança dirigem-se à mãe, ou melhor ao seio da mãe que lhe fornece o que ela precisa.
A mãe é, portanto, o objeto bom e seria incondicionalmente bom se estivesse sempre ao alcance da criança, como o é no estágio
intra-uterino.
Uma vez separada do corpo da mãe, a criança tem que se adaptar a uma satisfação menos
completa e contínua de seus impulsos.
Ela percebe que a mãe não está sempre presente ou não lhe dá bastante leite, e estas frustrações estimulam impulsos agressivos, hostis e angustiosos contra a mãe.
Basta observar as manifestações de raiva e angústia da criança quando sua fome não é, imediatamente, satisfeita: ela começa a morder o seio da mãe até causar, às vezes,
uma inflamação.
Podemos, pois, distinguir, já nas primeiras fases da vida, dois impulsos diferentes que o indivíduo sente em relação ao objeto:
O impulso positivo e bom.
O impulso de amor que procura introjetar-se no seio da mãe:
O impulso de introjeção ou identificação com o objeto querido, que se apresenta, também,
nas relações amorosas de adultos.
E, de outro lado, o impulso mau e agressivo,
que procura morder ou devorar o objeto para destruí-lo.
Melanie Klein demonstrou, em inúmeras análises de crianças, tais impulsos oral-sádicos que se revelam muito mais intensos do que os adultos possam imaginar.