Neurose
O psicanalista, embora aproveitando, igualmente, a transferência, procede de
outro modo.
Sabendo que a neurose resulta de um conflito entre os impulsos e a moral do paciente, procura tornar tais impulsos conscientes para que o paciente se torne capaz de enfrentá-los e controlá-los.
Compreendemos a dificuldade e complexidade de tal processo.
Se foi o medo diante da satisfação de seus impulsos que levou o indivíduo a recalcá-los, êsse mesmo medo, embora inconsciente
ao paciente adulto, servirá de barreira contra as tentativas do psicanalista, no sentido de torná-los conscientes.
Esta barreira, construída desde a infância, ma-
nifesta-se como forte resistência na análise e não há meio de vencê-la senão pela
experiência viva e afetiva da transferência, que convence o paciente, gradualmente, da irrazoabilidade de sua conduta neurótica.
Cada pessoa doente tem o desejo e a capacidade de se adaptar à sua doença.
Um rapaz que era esportista e adquiriu reumatismo ou qualquer outra doença
que o incapacita de continuar o esporte, procura qualquer outra atividade para
divertir-se nas horas de folga, tais como colecionar selos, jogar xadrez ou bridge.
Do mesmo modo, o indivíduo neurótico tem tendência a adaptar-se à doença mental para poder suportá-la melhor e sentir-se menos inferiorizado por ela.
Uma pessoa que sofre de fobia de lugares públicos, como por exemplo o cinema, fi-
cará em casa, lendo ou se divertindo de outra forma e estará inclinado a julgar o cinema um divertimento banal.
Uma pessoa de traços compulsivos, como hiper -
limpeza, ordem exagerada e meticulosidade, tira dêsses traços uma grande vantagem moral.
E assim por diante.
Na psicanálise chamamos isso de lucro se-
cundário da neurose e o atribuímos à função sintética da personalidade que se quer ajustar às dificuldades do próprio caráter.
Resulta disso, que cada pessoa neurótica tem traços típicos nas atitudes resultantes desse processo de adaptação à sua neurose.