A Força De Sugestão
Quem não considera a experiência infantil e o fenômeno da transferência, não compreenderá o medo irrazoável que sentimos muitas vezes em nossa infância.
Ora, na relação entre médico e paciente, repete-se geralmente uma situação de dependência, igual aquele
em que o paciente se achava na infância.
Daí a força de sugestão que o médico é capaz de exercer.
O paciente atribui ao médico o poder onipotente que, na infância, atribuía aos pais.
Se a fôrça da sugestão nem sempre é capaz de mudar definitivamente as reações neuróticas do paciente, isto se explica por certos aspectos da transferência, que precisamos focalizar.
Por que é que uma criança, intimidada pelo pai severo, não é capaz de perder o medo diante de outras pessoas que a tratam com
bondade e tolerância?
Os atos de severidade e castigo estimulam na criança impulsos hostis e vingativos que ela, por medo do pai, não pode demonstrar nem
descarregar: a dependência e o medo obrigam-na a reprimir tais impulsos hostis
que, desta forma, se acumulam na sua psique.
Grande parte da sua energia psíquica fica, assim, empenhada na repressão contínua de sua agressividade.
Ademais, esta agressividade reprimida causa um sentimento de culpa bem forte na
criança, que, assim, se torna tímida e pouco expansiva.
O médico não psicanalista que assumir uma atitude de paciência compreensão e bondade, talvez possa acalmar o paciente pelos meios suaves da sugestão e diminuir sua angústia; ele oferece-se ao paciente como objeto paterno bom que não precisa ser odiado ou-
receado e procura reforçar-lhe as energias para suprimir e recalcar ainda mais
os impulsos indesejáveis, inconscientes ao próprio paciente; tenta persuadir um agorafóbico de que não precisa ter medo na rua e que deve vencer a sua angústia; ao mesmo tempo, o médico reforça o sistema nervoso do paciente com fortificantes.
Desta maneira, com injeções e energia, poderá obter a cura.
Quanto às origens da agorafobia, o médico não psicanalista sabe tão pouco quanto o
paciente e nem julga necessário indagar quaisquer que sejam essas origens, sejam os impulsos sexuais ou agressivos, sua revelação não interessa.
Se, entretanto, o conflito íntimo do paciente entre os impulsos e a moral é forte, se o paciente não é capaz de desenvolver um afeto positivo e estável para com o médico, a sugestão não efetuará uma cura estável e duradoura.