Transferência
Vejamos, primeiramente, em que consiste a diferença entre as psicoterapias gerais — sugestão ou hipnose — e a psicanálise, pois é essa diferença que explicará o processo prático da análise e suas bases teóricas.
Freud referiu-se, a propósito dêste fato, à definição que o grande Leonardo da Vinci deu das artes pictórica e plástica: uma trabalha " por via de porre" e a outra " por via de
levare"; isto é, o pintor aplica pinceladas na terra, ao passo que o escultor subtrai
do mármore.
O mesmo acontece nas duas psicoterapias: a sugestão põe alguma coisa que se acredita seja bastante forte para suprimir as idéias patogênicas; ela não cuida da origem nem da importância dos sintomas neuróticos, ao passo que a análise quer tirar alguma coisa e, por isso, procura conhecer a gênese dos
sintomas, a conexão psíquica das idéias patogênicas.
Para compreender melhor os efeitos da terapia sugestiva, perguntaremos:
- Por que tem o médico muitas vezes o poder de sugestionar seu paciente, e em
que consiste o efeito dessa terapia?
Para responder essa pergunta, devemos,
primeiramente, tratar do fenômeno da transferência.
Esta, no sentido mais amplo, pode ser assim explicada:
- Se uma pessoa, por seu procedimento, produz em outra determinado afeto, esta outra pessoa manifestará os mesmos afetos em si-
tuações semelhantes.
Se, por exemplo, o pai, por sua atitude severa, produz no filho o sentimento de medo ou angústia, o filho terá o mesmo sentimento diante do professor.
Embora êsse professor nada tenha, no seu procedimento, que justifique tal sentimento de medo, a semelhança da situação, isto é, a situação de dependência, determina no aluno, ainda que adulto, a repetição daquele medo que sofreu na infancia.