Um Testemunho anónimo
Dei por mim a questionar porque me dou ao trabalho de explicar, de me impor perante determinadas situações. A exaustão de o fazer leva-me a dar um passo atrás e a duvidar se tenho assim tantos motivos para continuar a ter voz.
Quando menos espero acontece algo que me faz relembrar o porquê de ter começado.
Quantos de nós já passámos por aquela situação em que gostaríamos de dizer algo que discordamos ou dar o nosso ponto de vista, mas não nos foi permitido? Sabem, aquele sentimento de medo do que irão pensar ou dizer? Depois aquele sentimento de remorso, ansiedade por não termos sido fiéis a nós mesmos? Então e quando vemos alguém que amamos passar por isso mesmo à nossa frente? Já vos aconteceu?
Apesar do tema ser Igualdade de Género, há uma coisa que vem muito antes de uma luta social desta dimensão- quem somos. Como o podemos fazer, sem medos e recriminações do outro, se o fazemos connosco próprios?
A sociedade, hoje mais do que nunca, impinge-nos muito o que devemos fazer, o que devemos ser, sentir ou pensar, como devemos agir. E nós próprios vamos à procura dessas respostas no muito exterior, quando elas estão bem dentro de nós.
Quando entendemos que o respeito vem do “in” para o “out” e adotamos o pensamento de que cada um é como é e é essa diferença que nos dá oportunidade de crescermos individualmente, a nossa postura perante o mundo exterior altera-se. Ficamos mais confiantes, o que os outros dizem ou deixam de dizer sobre quem somos já não importa muito, os que sentem necessidade de abafar a nossa voz percebem que já não vale a pena, vão embora, ficam e chega quem nos realmente aceita por quem somos, gosta do que somos e nos recebe de braços abertos para uma nova etapa da nossa vida.
O mesmo podemos aplicar à Igualdade de Género, porém o maior desafio desta, é que há um número em grande escala com a capacidade de fazer qualquer coisa, inclusive matar, violar, aniquilar por a não aceitação e o não respeito só por ser quem somos e amarmos quem amamos.
Espero que o meu sentido de humor não fira os sentimentos de ninguém, mas acho engraçado em como conseguimos ser críticos dos nossos antepassados por hábitos que tinham, mas depois permitimos que os mesmos mecanismos de pensamentos sejam muito semelhantes no nosso presente.
“Não pouparei esforços na construção de uma União de igualdade. Uma União onde podemos ser quem somos e amar quem quisermos – sem medo de recriminações ou discriminações.
Porque ser o que somos não é uma questão de ideologia. É a nossa identidade.
E ninguém pode privar-nos dela.”
Ursula von der Leyen (Presidente da Comissão Europeia)
Estado da União 2020