DIFERENTE

Estava eu indo até o mercado comprar o pão para o café da tarde e mais algumas coisas e bem em frente ao estabelecimento eis que passo por três pessoas, duas meninas e um menino, pelas carinhas deveriam ter por volta de 15 a 19 anos e o que me chamou atenção foi a maneira como se vestiam, os três, de forma diferente, com sobreposições, até interessantes, nada extravagantes e até mesmo de bom gosto, mas diferentes. Uma das meninas vestia uma saia xadrez plissada curta, meias pretas e botinhas de cano curto, camiseta com estampa miúda e um casaquinho preto por cima, uma maquiagem forte nos olhos, salientando bem os cílios graúdos, não com pestana postiça, mas com rímel, e o que me atentei foi para os cílios da parte de baixo do olho bem graúdos, e um óculos com lentes azuis de enfeite, só pode, pois estava na ponta do nariz, por isso percebi os olhos, bem expressivos e ao mesmo tempo um semblante distante e disperso, que pela rapidez com que passaram não consegui decifrar, os cabelos pretos longos crespos e bem armados com franjinha - lembrei da minha filha quando pequena - e os três mascando chicletes, daquele jeito; o menino, de porte maior do que as meninas, mais fortinho, para não dizer gordinho, com o celular na mão, conversando com elas e digitando, vestindo também roupas sobrepostas, camisa maior do que ele, aberta e camiseta branca por baixo, e calças, claro, bem largas, de fundilhos soltos, coisa que eles pensam estarem o máximo, os cabelos claros abaixo das orelhas, repartido ao meio caindo nos olhos e tirando-os com a mão para conseguir ver o celular - isso eles não podem deixar por nada - e a outra menina, mais alta, cabelos claros e não muito longos usando uma calça clara bege, daquelas cheias de bolso nas laterais, tem um nome esse tipo de calça, mas não lembro agora (calça cargo, lembrei ao reler antes de postar), uma camiseta com uma estampa que não consegui ver, e um moletom de cor clara e tênis, pelo modelo deveria ser um All Star, não tenho certeza. Quando passei por eles dei alguns passos e me virei para vê-los e pensei O QUE FAZ OS JOVENS SE VESTIREM ASSIM? PARA SEREM DIFERENTES? e daí me surgiu a ideia de escrever sobre o DIFERENTE. Devem estar se perguntando se tudo que descrevi é verdade, pois foram apenas alguns passos para analisar tudo isso, mas eu sou assim mesmo, meus olhos são de águia, em um lance consigo ver detalhes, e não sei por quê, gravo na memória e mesmo depois de um tempo consigo descrever, como se fosse um holograma na minha frente me colocando aquelas cenas, no caso agora, os três vindo em minha direção e eu descrevendo suas vestes. Consegui ver mais detalhes na menina que passou do meu lado, podem perceber pela melhor descrição, e também porque ela estava mais diferente do que os demais. E talvez por isso que ela estivesse vestida assim, por se mostrar mais, por ser mais diferente, por ser, apenas ser. Tive vários alunos e alunas que se vestiam diferentes, e eu os indagava, capaz que não, capaz que deixaria passar algo assim, e a grande maioria nem sabiam o motivo por que vestiam tais roupas, tais acessórios, simplesmente usavam por ser moda, por ser moderno, por ser igual a todos. Então lá ia eu com meu modo de pensar, sem jamais criticar, apenas colocando meu ponto de vista, dizendo a eles, e foram muitos jovens que falei isso: OS JOVENS SE VESTEM IGUAIS PORQUE NÃO TEM PERSONALIDADE, assim como qualquer pessoas que só veste o que está na moda, que veste e usa coisas que nem gosta, mas os outros usam então entra na mesmice. Eu nunca gostei de andar na moda, nunca dei importância para isso, a não ser lá na juventude, coisa de jovem mesmo, cedi ao apelo e usei sapato de verniz com plataforma imenso horrível, apertava, pesado, mas comprei e usei, na minha formatura do ginásio e algumas vezes, mas larguei de mão. A calça boca larga, boca de sino, apertadinha em cima até a coxa e a partir do joelho alargava de tal forma que dava pra fazer um lençol, e até se enrolava ao caminhar naquela coisa imensa, mas era moda, e também o tamanco, que todos usavam e eu fui usar, mas fiquei cheio de calos, mas usei, mesmo ardendo com as bolhas arrebentadas, mas estava arrastando tamanco para tudo que lugar, até na escola. Não adianta, a gente acaba sendo influenciado, e cedendo à mesmice, coisa da insegurança da idade, por isso não critico e nem condeno e nunca impedi meus filhos de fazerem isso. Mas sempre os orientava que o importante é estar bem consigo mesmo, usando aquilo que nos faz bem e não o que os outros vão achar. Nunca fui de usar roupas de marca, pensava no conforto e na qualidade. Em vários lugares que trabalhei fui até referência pela maneira como me vestia, não demorava muito apareciam colegas vestindo algo parecido e muita consultoria de moda eu dei também. Isso é ser diferente, não precisamos usar coisas berrantes, usar coisas absurdas e horrendas pensando estar abafando e na verdade está sendo motivo de chacota. Temos que ser nós mesmos, autênticos. Alguns alunos até pararam de usar as roupas estranhas e passaram a se vestir como realmente eles gostavam e eram, passando a serem eles mesmos e não mais iguais aos outros. Para sermos diferentes não temos que seguir, imitar, copiar ninguém, temos que ser nós mesmos, temos que ter personalidade e nos garantirmos como somos em todos os sentidos, tanto ao vestir, quanto no comer, no beber, em tudo. Não é porque as pessoas dizem que camarão é gostoso eu tenho que gostar de camarão. Claro que tem pessoas que nem provaram e já dizem que não gostam, daí também não. Não é porque estou numa balada eu tenha que beber álcool, tenha que me drogar para ficar alegre, me divertir. A alegria e a diversão está dentro da gente mesmo, e tem outra, bebendo demais, e isso acontece sempre, acaba não aproveitando nada da festa e no outro dia é terrível a ressaca. Gosto de beber, já tomei alguns porres, mas porque eram momentos que eu queria aquilo e não por influência de ninguém, como se vê muitos jovens, principalmente, fazendo. Temos que ter coerência e bom senso em tudo que vamos fazer. Nada de excessos para nos mostrarmos diferentes, vamos ser diferentes mostrando para as pessoas que somos gente, que somos alguém que merece atenção, merece carinho, merece abraço - aliás, abraço todos merecem, mas abraço de verdade, diferente, abraço de acolher, de confortar, de aliviar. Tanta coisa para falar, mas vou ficar por aqui. Gostaria de saber o que tu já fez ou faz para mostrar que era ou é diferente? Ou nunca precisou disso?