MEMÓRIAS

Lendo as mensagens do dia no Facebook, me chamou muito atenção e fiquei mais tempo lendo o que as pessoas colocaram no grupo que faço parte ACONTECEU EM CHARQUEADAS, e o administrador do grupo instigou a todos para falarem algo que nos remetia ao CHARQUEADENSE RAIZ, ou seja algo de antigamente, porque as raízes são criadas e desenvolvidas depois de muito tempo naquele lugar, então vai procurando seu espaço para se desenvolver, para crescer, para se mostrar, para viver. Assim é o processo da vida vegetal, com flores, árvores, legumes, verduras e também é o mesmo processo para nós seres humanos. Lendo as mensagens dos moradores, alguns conhecidos, até vizinhos da época de criança e juventude, fiquei trazendo à tona as minhas memórias. Ter memórias não é viver o passado, é lembrar de um passado que foi vivido, e muito bem vivido, por isso decidi escrever aqui sobre MEMÓRIAS. A memória é a capacidade que nós, seres humanos, temos de armazenar informações que a um toque de qualquer palavra, qualquer gatilho pode ser por uma música, por uma foto, por um cheiro, por uma ação qualquer, nos remete a uma rápida recuperação da memória e nos faz voltar a um tempo longínquo, quase sempre de bons acontecimentos que nos faz sentir leveza, sorrir sozinhos como bobos, fechar os olhos e nos permitirmos sonhar acordados, relembrando aqueles momentos que estão na nossa mente, no nosso coração e fazem parte da construção de nossa estrutura como adultos que somos hoje. As memórias vem assim do nada sempre que algo nos remete, mesmo que sem percebermos, porque são conexões feitas por pontos chamados sinapses no nosso cérebro, essa caixinha de surpresa que ninguém consegue decifrar, ninguém, por mais estudos que façam, conseguem transplantar, conseguem abrir e descobrir o que está acontecendo lá dentro da nossa caixa preta, onde as memórias, todas elas, boas ou ruins, estão lá dentro, todas as nossas emoções estão armazenadas e dispostas de tal forma que podemos acioná-las até mesmo sem percebermos, assim como muitas vezes fazemos ao usarmos o celular e tocamos casualmente e mesmo que de leve e ele nos mostra outras imagens que nem sabemos de onde vieram e por quê vieram para a tela. Assim é o nosso processo de memória, instantâneo e inesperado. A memória de momentos passados não importa de quanto tempo, sempre são relacionadas a momentos bons, mas também existem os ruins, mas nossa mente nos remete sempre aos bons, e isso é bom demais, porque coisas ruins nos trazem tristezas e a tristeza nos deixa amargurados, depressivos e faz com que nos fechemos no nosso casulo e não queiramos mais sair dele, enquanto a vida lá fora explode de coisas boas que se pode fazer; então o melhor mesmo é sempre deixar aflorar a tua memória agradável, que te conduza a patamares elevados de alegria, de satisfação, que te faça sorrir, até mesmo gargalhar, ou apenas esboçar um sorriso maroto ao lembrar de alguma travessura ou maus modos que tenhas feito. Que delicia nos alimentarmos de nossas memórias e deixarmos com que elas fluam dentro de nosso cérebro, dentro de nosso corpo, assim como fiz hoje ao ler as mensagens desse grupo que me remeteram a uma memória sensorial que me senti como se estivesse jogando bola no meio da rua tomada com camadas de cobrir os pés de cinza vinda do cano da usina termelétrica que ficava há poucos metros, misturada com o carvão das minas próximas também, inclusive onde meu pai assim como de outros desses amigos trabalhavam e ainda com a fuligem que vinha de uma siderúrgica há pouco instalada, mas que deu muitos empregos para a população e inclusive foi o meu primeiro emprego com15 anos, em 1973. Eramos um grupo de guris com vários amigos, amigos de verdade, sempre juntos para tudo, até para tomar banho de rio todos pelados para as mães não perceberem onde estávamos e tantas outras brincadeiras como o Caliente, Gata Cega, Esconde Esconde, Jogar Botão hoje chamado Futebol de Mesa, onde não tinhamos dinheiro para comprar os botões, jogadores, profissionais e faziamos os botões com plásticos duros que catávamos em tudo que é lixo, derretidos em tampinhas de talco, que pegavamos das mães - minha mãe sempre apoiando me dava as tampinhas e trocava os talcos para outro pote - e assim eu organiza campeonatos, e ainda alugava alguns times para os amigos que não tinham muitos - já aplicava o empreendedorismo naquela época. Alguns anos depois me filiei à FGFM-Federação Gaúcha de Futebol de Mesa, mas não cheguei a aproveitar e seguir pois os caminhos foram sendo trilhados de formas diferentes em local diferente e ficaram apenas as belas memórias. As memórias dessas brincadeiras eram tão fortes, tão vivas, tão frequentes em minha vida que transformei todas em Dinâmicas de Grupos e aplicava nos cursos técnicos, palestras, treinamentos, fazendo as devidas adaptações e voltadas para o crescimento profissional. Ao explicar como seria o desenvolvimento eu falava para os alunos como era quando criança a tal brincadeira, e eles ficavam radiantes de escutar e se empenhavam ao máximo e adoravam, pedindo mais. Depois das dinâmicas eles tinham que fazer um relatório sobre a atividade. Nada era de graça, era uma brincadeira que era avaliada o desempenho, empenho, trabalho em equipe além de vários outros critérios, mas mesmo assim eles adoravam e aprendiam muito mais do que se fosse em uma aula tradicional. Para verem como brincar é fundamental: para os adultos perceberem que ainda podem ser crianças que ainda há esperança para eles e mais ainda para as crianças se desenvolverem, criarem memórias pois os neurônios se conectam formando sinapses, como já falei anteriormente, percebendo as capacidades, aditivando melhoras na motricidade, conhecendo as potencialidades e se assumir como uma pessoa que merece ser chamado de gente, porque através dessas vivências que conseguimos nos formar, conseguimos nos forjar e termos estrutura para seguirmos em frente. Nunca deixe alguem lhes dizer que viver de memórias é viver de passado e quem vive de passado é museu. Quem diz isso é porque não tem memória alguma, portanto não valoriza o que de mais belo existe que é lembrarmos de nós mesmos durante toda essa vida que Deus nos deu. Poderia escrever um livro sobre memórias, mas fico por aqui por hoje. Espero que tenha estimulado as suas memórias, porque as minhas estão borbulhando.