MORTE
A morte nos ronda diariamente. Todos os dias ficamos sabendo de alguém que morreu, deixou esse plano e foi para outro, foi ao encontro de Deus, voltou para casa – assim foi com meu pai, suas últimas palavras que eu escutei dele há 18 anos, ele com 78. Cheguei perto dele após uma cirurgia de câncer no intestino, e ele estava todo entubado, mas conseguia falar, quando me viu de longe esboçou um sorriso e ao me aproximar ele já me disse MEU FILHO, ESTOU VOLTANDO PRA CASA AMANHÃ, achei estranho e fui conversar com o médico que estava perto e o médico disse que não, nem previsão de ir para o quarto tinha devido ao grave estado que ele se encontrava. Fiquei com ele quase uma hora e tive que sair, pois acompanhantes só podiam ficar até às 22h, e mais nada ele falou além de dizer que me achava muito inteligente – coisa que jamais disse, sendo que um dia antes da cirurgia, já no hospital, se preparando para a cirurgia, me abraçou e disse que me amava, coisa que nunca havia dito a vida toda, embora expressasse da maneira dele – e aquelas palavras bastaram para que o perdão, para que as amarras, para que toda e qualquer rusga, ou mágoa que houvesse fossem tiradas, colocadas ao chão, extirpadas do meu pensamento e da minha vida e aquelas palavras e o gesto passaram a fazer parte dos meus pensamentos e me dando força para superar toda a falta que ele me faria e me faz, mas então lembro do que ele disse e do gesto e a alegria contagia, toma conta de mim e manda para o poço do esquecimento qualquer tristeza. No outro dia, às 8h da manhã ele faleceu, sem minha presença, pois iria visita-lo mais tarde. A morte quando vem nos dá sinais, que nem sempre conseguimos perceber e muito menos aceitar.
Assim é a morte, ela vem para todos nós um dia. Um dia chega a nossa vez, por isso devemos viver a vida que temos, seja ela qual for, mas vive-la intensamente sem pensar no amanhã, sem pensar que não devo isso ou aquilo, não posso aquilo ou isso, simplesmente podemos tudo, principalmente quando se está numa certa idade, que sabemos, mais propensos a acontecimentos desagradáveis que podem nos ceifar a vida. O que precisamos, todos nós, não importa a idade, mais ainda para os mais velhos, é curtir a vida, aproveitar todos os momentos, ser feliz sempre não importando o que aconteça ou aconteceu ou acontecerá, devemos estar permanentemente serelepes, faceiros, contentes e vivazes, mesmo que as dores teimem em mostrar algo que não queremos ver, simplesmente ignorar e seguir em frente, sem pensar em arrependimentos por não ter feito, por não ter sido, por não ter..., mas pensar com alegria, com sentimento de ter feito tudo.
Minha mãe dizia que ‘a única coisa certa da vida é a morte’, e ela tinha absoluta razão, porque nada mais é certo, é correto, é verdadeiro, é real, a não ser a morte, porque ela vem, ela chega mesmo que não queiramos, mas vem, de várias formas e diversas maneiras: através de doenças, através de acidentes, através de apenas um suspiro, através de um ataque, através de um assassinato e de tantas outras. Mas todas elas vem de acordo com o que já está predestinado para aquela pessoa, e eu acredito, e sempre acreditei que a maneira como as pessoas morrem é para servirem de alerta para outras pessoas que ficaram, para servirem de exemplo, para servirem de motivo de mudança na vida de tantas pessoas que precisam daquela tragédia, que é a morte de alguém, para lhes mostrar e acender o sinal e se tocar de algo que Deus quer lhe falar.
A morte nos afasta da pessoa física – e essa é a pior parte da morte, a impossibilidade de nunca mais poder tocar, ouvir a voz, escutar uma gargalhada ou até mesmo um choro, sentir seus braços num abraço, olhar nos olhos acolhedores ou repreensivos, porque já não estão mais aqui de corpo presente-, nos deixando apenas as recordações, as lembranças de momentos maravilhosos, principalmente por serem os que mais marcaram, mas também os ruins, agora irrelevantes.
A morte causa um caos em nossa vida: o choro é inevitável, o pranto é certo e a tristeza é duradoura. Faz parte do luto, mas uma coisa que devemos ter consciência é que devemos deixar essas pessoas irem para onde quer que seja, que seus espíritos, suas almas possam seguir seus caminhos e se ficarmos lamuriando, chorosos, e com sentimentos de pesar e tristeza, estaremos impedindo a ida ao encontro da luz, ao encontro de Deus. Devemos, claro, lembrar, sempre, mas não com tristeza, não deixarmos a tristeza nos invadir e nos provocar lágrimas, pelo contrário, devemos lembrar dos belos momentos, e de coisas boas. Quando eu lembro de minha mãe e de meu pai eu procuro fazer algo que fazia com eles ou eles faziam pra mim, ou que eles gostavam e assim me supre a saudade e continuo a ser feliz porque assim eles também foram e estão. Ninguém quer perder um ente querido, mas faz parte da vida e a nossa vida segue em frente e exige que estejamos bem para enfrenta-la. ‘Levanta, sacode a poeira e dá volta por cima’, então eu digo para ti querido amigo e querida amiga LEVANTA, ENXUGA AS LÁGRIMAS E SEGUE EM FRENTE PORQUE VIVER É URGENTE.