O que a leitura faz por você

 

 

 

 

 

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O que a leitura faz por você?   01/06/2010

Posted by Liduina Benigno in Ensaio.
Tags: Desenvolvimento profissional, Formação de leitores, Hábitos edificantes, Superação pessoal

 

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A leitura é exercício de liberdade...

 

Leitura. Eis um assunto cuja anunciação pode produzir atração ou repulsa.

 

Aos aficionados da leitura, tudo o que se refere a livros, leitores, livrarias e escritores é valioso e digno de atenção, dedicação. Às vezes, até adoração. Já para os que enxergam o ato de ler como algo destituído de significado, muitas vezes, a leitura é vista quase como um sacrifício.

 

E que motivos nos dividem, de forma tão marcante, quanto ao gosto pela leitura? Ou entre leitores e não-leitores?

 

Se enxergarmos a leitura como o ato mecânico de decifrar sinais, a resposta é simples: ler exige concentração de esforço e foco visuais, nos faz permanecer em posição corporal fixa com pouca mobilidade e, sobretudo, força-nos a pensar de forma mais ordenada e elaborada. Outro aspecto a ser considerado é que o conteúdo da leitura não reserva o mesmo nível de interesse para os leitores, indistintamente. Os hábitos, os valores, as crenças e o nível de compreensão de cada um do que seja ler vai produzir expectativas, sentimentos e julgamentos diferentes a partir de uma mesma leitura.

 

Além dessas dificuldades clássicas, a formação de leitores no contexto do mundo globalizado e impactado pela cibercultura enfrenta um desafio a mais: o livro que é um suporte sem os apelos de cor, brilho, movimento, contraste e sonoridade precisa disputar espaço com suportes proporcionados pelas mídias eletrônicas que esbanjam estímulos multissessoriais.

 

Mas, se ampliarmos nosso olhar e identificarmos a leitura como apropriação do mundo, seja cultural, estética ou espiritual, parece mais difícil compreender a razão de tanta resistência à formação de leitores regulares.

 

Ler é recomeçar. Clarice Lispector dizia que a leitura tem sentido inaugural. Concordo com ela. Há sempre um descerrar de véus para um novo mundo de sentidos para o que antes parecia destituído de significados.

 

O erudito francês Michel de Certeau afirmava que “O leitor é um caçador que percorre terras alheias”. E a leitura é realmente aventura. Descoberta. Independente de ser técnica ou ficcional, há sempre algo a descobrir. Talvez por isso, toda leitura encerra um quê de desbravamento e mistério. O que se esconde ao final da página? do capítulo? E o mais incrível é que quando nos apropriamos da informação que estava lá esperando para ser lida, descobrimos, também, que o mundo já não é mais o mesmo. A realidade se apresenta para nós com nuances que antes não havíamos percebido.

 

Penso que ler é uma das formas mais rápidas e eficazes de mudarmos nossa realidade e a nós mesmos. Cada vez que fechamos o livro pela última vez, nos despedimos de quem éramos quando o abrimos. Depois de cada livro lido somos alguém com mais filtros para pensar a realidade e mais perspectivas para ver e colorir o mundo.

 

Mas, fazer exortações sobre a essencialidade da leitura pode não ser muito eficaz para demonstrar que todo esforço de crescimento pessoal e profissional não pode prescindir de um programa de leituras regulares e pertinentes. As pessoas gostam de realizar atividades que lhes tragam benefícios palpáveis e se possível, imediatos. Por isso, geralmente, quando se convida alguém para incrementar seus hábitos de leitura, ouvimos argumentos que trazem implícita a seguinte pergunta:

 

E o que a leitura pode fazer por mim?

 

Sem pretensão de trazer respostas prontas, vamos refletir sobre esses benefícios?

As faculdades desenvolvidas na leitura são transferíveis. Isso significa que quando lê, você aprimora habilidades que serão utilizadas em outras áreas de atuação: a organização de idéias tende a ficar mais elaborada, a comunicação torna-se expressiva e há maior consistência ao argumentar. A criticidade expressa-se de forma pertinente. E todas essas competências não são valiosas em qualquer área de atuação ou convivência?

 

É importante lembrar que o bom estudante e o grande leitor têm benefícios intercambiáveis. Uma pessoa que lê regularmente tende a ter maior facilidade para compreender e fixar de forma mais eficaz e com menos esfoço o que estuda. A leitura convida ao estudo. Um bom caminho para formar bons estudantes é começar formando pequenos leitores. Lendo, vamos aprendendo a noção de esforço sem ansiedades e tiramos da solidão e do silêncio, a concentração e não, necessariamente, o tédio .

 

A despeito de todos os benefícios práticos da leitura, talvez seja sua dimensão estética, como ação sensível e de prazer que dê grandeza ao ato de ler. E o que nos faz viver a leitura como experiência de sensibilidade e descoberta de nós e do mundo é a forma como compreendemos seu alcance para transformar-nos em alguém maior do que somos. Acredito que a leitura funcione como aquelas palavras mágicas pronunciadas pelos super-heróis para se revestirem de poderes super-humanos.

 

Nada de espadas, capas, anéis mágicos ou palavras proféticas. Sabe o que nos iça e nos confere capacidade de compreender e usufruir a realidade, o mundo e o que somos? O livro.

 

Relatos de infância, mostram que personalidades humanas notáveis descobriram o poder mágico dos livros muito precocemente. No conto Felicidade Clandestina, Clarice Lispector refere-se ao livro Reinações de Narizinho “como um livro pra ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o”. Para ela um livro é o amor pelo mundo. Jean Paul Sartre conta que menino, vagabundeava pela biblioteca de seu avô e “dava assalto à sabedoria humana. Foi ela (a biblioteca) quem me fez”".

 

A leitura não substitui as experiências humanas capazes de forjar nosso espírito e caráter, mas é experiência de apropriação da compreensão ampla da realidade. O ato de ler é como o abrir de portais para mundos de significados e possibilidades.

 

No livro A menina que roubava livros, uma pequena judia utiliza livros como mapas para guiar sua existência numa Alemanha infectada pelo nazismo. A sede de conhecimento deu propósito à sua vida marcada pela fome e por interrogações inalcançáveis para uma criança. De certa forma, os que apreendem o sentido da leitura são movidos pelo mesmo propósito, descobrir significados, desvendar os mapas da condição humana nos mundos que criamos.

 

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A leitura abre portais para o mundo ...