A VOCAÇÃO GAUDÉRIA DO PARQUE DA HARMONIA
No já longevo ano de 1982, o engenheiro Kurtz Zimmermann, na gestão do então prefeito Guilherme Socias Villela, acabava de assinar a configuração do Parque da Harmonia e chamou o Délvio Oviedo para organizar uma tertúlia em setembro para as comemorações da Semana Farroupilha. O Délvio convocou seus parceiros e formaram um grupo para essa empreitada, entre eles, José Cláudio Machado, Bruno Leão, Zeca Viana, José Melo, Renato Borghetti, Robério Patta, Deodato Canabarro, Celso Brandolt, Sidinei Morelli, Marcos Viana, Maria Luiza Benitez e Nilo Bairros de Brum (vamos buscar a lista completa e acertar as grafias).
Essa turma toda colocou barracas de lona e realizou uma tertúlia na noite para ocupar o espaço e marcá-lo como um símbolo das manifestações gaúchas. O fato ocorreu na véspera do 20 de Setembro daquele ano. E continuou por toda a semana de comemoração da data festiva. Eu mesmo estive numa dessas barracas, numa tertúlia e até num baile improvisado no local. Rústica, a área era tudo o que eles, gaúchos, precisavam para reviver suas raízes. E era repleta de verde, com um ecossistema em miniatura, mas muito rico de fauna e de flora.
Escrevo essa narrativa acima por ocasião da polêmica que se instalou por conta das obras encaminhadas pela prefeitura e pela empresa GAM3 Parks, que venceu a licitação. Devido à perda da diversidade natural, a Justiça determinou a paralisação das obras, muito em função da mobilização dos ambientalistas. Isso bastou para que a gestão de Sebastião Melo (MDB-RS) começasse a tentar colocar os tradicionalistas que acampam contra os manifestantes, que deixaram bem claro que não são contra o acampamento, mas contra a destruição ambiental que está sendo levada a efeito no parque. Para tentar liberar as obras, o argumento é que, sem a continuidade dos trabalhos, e na forma e cronograma atual, não haverá o evento farroupilha. Chantagem!
É preciso que se diga que os primeiros acampamentos foram feitos por gente que valorizava a natureza e que queria que eles reproduzissem, ainda que de forma simbólica, suas origens interioranas, pampeanas e avoengas. Para isso, o verde das árvores, o grito do quero-quero, as gramíneas são imprescindíveis. Tudo longe de um asfalto impessoal e de um estacionamento rotativo ou até mesmo de uma roda-gigante. A descaracterização é total.
Diante disso, entendo que há uma falsa polêmica do movimento dos piquetes para com os ambientalistas. Dá para interromper a descaracterização sem deixar de realizar o histórico evento da “cidade” farrapa. O Parque da Harmonia tem uma vocação ambiental e os gaudérios e os ambientalistas precisam estar do mesmo lado e não a par com a ganância e com o entreguismo.