A LIÇÕES DA PANDEMIA
AS LIÇÕES DA PANDEMIA
Carlos Roberto Martins de Souza
Durante a pandemia convivi com a morte todos os dias, muitas vezes pensei que seria eu a próxima vítima, mas Deus me poupou. Passado o terror de ter presenciado pessoas sem escrúpulos debochando da ciência e da vida, hoje posso dizer que aprendi muito sobre os valores da vida, da família e da sociedade, pois aquela tragédia mexeu com meus conceitos, valores e sentimento, passei a ver a morte de forma diferente. Ontem, por infelicidade, perdi uma netinha com oito meses de idade, foram longos meses de angústia, dor, interrogações e sofrimento. El nasceu com a síndrome de Patau, uma rara patologia que não tem muito o que fazer para prolongar a vida de um recém nascido. Acompanhei com tristeza a dor e o desespero de meu filho e sua esposa na luta para tentar algo que pudesse aliviar o problema causado pela enfermidade, foram dias terríveis. Como avô, me desdobrei, envidei todos os esforços na tentativa, em vão, de ver a Alice livre das sequelas daquela terrível doença. No sábado, depois de o corpo clínico identificar um melhora no seu quadro clínico após trinta dias de UTI, ela partiu, pegou todos de surpresa. Na unidade de saúde houve grande comoção, todos choraram, até o médico chefe, um cidadão calmo e tranquilo não se conteve. Saímos de lá e fomos preparar o velório, pude ver como, diferente do tempo da Covid-19, onde pessoas riam quando se falava em morte, onde até um presidente fantoche e cruel debochava das vítimas, pude ver centenas de pessoas sensibilizadas, tristes e solidárias com a família e conosco. Fiquei me perguntando, será que apenas a retirada da cadeira da presidência de um animal, de um psicopata, de um bandido, de um vigarista poderia contribuir para a mudança de comportamento da sociedade? Será que a empatia do atual ocupante do posto de presidente pode estar influenciado no comportamento humano dos brasileiros? A resposta é sim, embora ainda existam milhares de patriotários idiotas que ainda celebram a morte e debochem da ciência. No velório um destes otários tentou, sem êxito, falar sobre a pandemia, sobre o que o tal bandido Boçal Nero pensava e fez, mas foi rechaçado por todos. Me recordo dos momentos dramáticos na pandemia em que idiotas e canalhas riam, espalhavam mentiras e ainda iam para as igrejas participar de cultos onde a ciência e a medicina eram ridicularizados por pastores e crentes evangélicos, eu vi isto sendo praticado até por pessoas ligadas à minha família. Foram dias de terror, de desgraça, mas que para criminosos era apenas uma invenção da ciência. Pois bem, no hospital, convivendo com todos os níveis de profissionais, percebi que algo mudou, que aquela situação de deboche e de descaso por parte de parte destes profissionais foi superado, vi lágrimas nos olhos, vi um sentimento de empatia, vi muitos solidariedade, e o mais importante, a crença total e irrestrito na ciência. Por vezes ouvi que era ela que daria a última palavra, que a ciência era confiável. Minha netinha serviu de laboratório, não para fazer politica, nos para ser usada politicamente por um idiota presidente, mas de referencia para auxiliar no avanço da medicina sobre a tal síndrome de patau. A dedicação de toda a equipe naquela UTI me deixou aliviado, pois pude perceber que ali haviam seres humanos sensíveis, homens e mulheres responsáveis, onde o trabalho deles deixou claro que dariam a vida para salvar aquela pequena vida, que para eles não era mais uma, mas uma vida lutando pela vida, brigando para viver. Quando nasceu, recebemos a informação de que ela não teria mais que uma semana de vida, mas pela luta dela, foram duras, mas sábios dias de aprendizado. Ela foi uma escola, nos uniu, nos fez ver a vida, e principalmente a morte sobre outro prisma, o da presença de Deus em tudo e dirigindo todas as coisas. No sábado, quando avisados, não houve desespero, não houve histeria, houve sim um momento de reflexão em família sobre a missão da Alice entre nós. Só o fato de ouvirmos do corpo de médicos que ela trouxe grandes avanços no tratamento para outros casos nos trouxe um grande alívio, pois não foi em vão os poucos meses dela junto a nós e aos médicos. Fomos agraciados, fomos premiados, mesmo tendo ela nos deixado, mas o legado dela será lembrado, e eu, em particular, faço coro com Jô, aquele da Bíblia, que em meio a tantas perdas, declarou: “Deus deu, Deus tirou, louvado seja Deus“. No último adeus não houve nenhum incidente, ninguém foi ao histerismo, havia um sentimento de que não era uma perda irreparável, mas um ganho imensurável, pois Deus estava no controle, e ali pude perceber que a ciência, em tempos de valorização da vida, havia derrotado os que um dia, por imbecilidade e burrice crônica, fizeram da morte o morte cabo eleitoral de um canalha, um bandido. Para não deixar dúvidas, falo de Broxonaro.