Sobre Publicações Impressas
Ultimamente tenho lido muito a respeito sobre publicações impressas, sobre seu fim ou sua continuidade, e da forma como isso pode ocorrer. Não é só por curiosidade não, as reportagens sobre o tema têm pipocado para todos os lados, de cadernos de cultura, passando pela Web, indo às Faculdades, sendo teorizado por doutores e mestres, e terminando no consciente dos pobres mortais e objetivo final das publicações. Inevitavelmente, acabamos por nos deparar com essas informações.
Dessas reportagens, posso citar uma pesquisa feita a coisa de três anos, mais ou menos, sobre a queda do hábito de ler entre cidadãos norte-americanos, por uma empresa de tendências. Nesta pesquisa, ficou comprovado que a queda se devia há uma mudança de hábito e não a ocorrências como internet, televisão, ebooks etc. Cito também uma recente, da Folha de S. Paulo, em que Paulo Coelho defende que gostaria de ver todo o conteúdo de seus livros publicados integralmente na internet (o que certamente poderia contrariar interesses de algumas editoras). E justifica, pois imagine um livro de 400 páginas que custe em torno de R$ 40,00 (que são números bastante razoáveis e plausíveis), se alguém quisesse imprimir, certamente poderia chegar a valores parecidos, ou se fosse copiar (pirataria pura e simples), também chegaria a estes valores. Ou seja, quem em sã consciência trocaria em belo livro por um maço de folhas fotocopiadas ou impressas, por quase o mesmo preço? Junte-se a estas duas citações acima, inúmeras reportagens sobre o aumento do número de leitores de jornais, as mudanças gráficas de alguns para se atualizarem, os constantes lançamentos feitos pelas editoras, sem contar o sem fim de lançamentos de livros, teses, monografias etc. Por si só, estes argumentos poderiam encerrar o assunto. Qual empresa que visando o lucro iria investir tanto nestas áreas, se não tivessem a certeza do retorno, com previsão para um futuro em médio prazo lucrativo?
Dito tudo isso, sobre o assunto, muito humildemente, desenvolvi duas idéias (não me atrevo a chamar de teorias), que podem se desdobrar em outras duas, se separarmos algumas publicações, que é o que faremos. Antes, cabe explicar, não sou só um expectador deste fenômeno, pois sou Escritor Amador, porém jornaleiro e livreiro profissional.
Inicialmente, não devemos colocar na mesma balança produtos diversos, como jornais e revistas junto com livros. Não têm o mesmo peso nas vendas, e o público é completamente diferente.
Primeiro, melhor acesso a livros. Concordo em parte com Paulo Coelho. Este, não está preocupado com as vendas quando resolve colocar seus livros integralmente na Internet, está preocupado com pirataria, problema este que aflige não só livreiros como o mundo dos DVDs, CDs, games, e por aí vai. O assunto já é mais que recorrente. Esta indústria clandestina se sofisticou tanto nos últimos anos que já existem casos de produtos piratas (tipo relógios ou tênis) que superam em qualidade os produtos originais. Tudo bem se a idéia é democratizar o acesso a seus livros, mas, apesar de livros serem isentos de alguns impostos, livrarias, editoras e distribuidoras não são. Daí a verdadeira fonte do encarecimento de alguns livros. Democratizar seria lutar por tratamento diferenciado a todos os entes que lidam com a cultura de um modo geral. Seria um primeiro passo para melhor acesso a livros. Outro fator é falta de consciência histórica e política por parte de alguns cidadãos que deixam livros parados em órgãos públicos por falta de distribuição em escolas, ou a destruição provocada por estudantes como forma de protestos. Me dá arrepios estas situações.
Segundo, mudanças de hábito. Se é verdade que a queda de leitura por parte de americanos foi causada por mudança de hábito, por que não acreditar que uma hora este hábito retorne? Ora, como leitores, sabemos que leitura realmente é hábito, que costuma viciar. Nós mesmos podemos ser multiplicadores destes hábitos. Calma prezado leitor, não estou pregando nenhum tipo de corrente, o que digo é que prazer não se ensina, se adquire. Pense naquela comida que nunca experimentou, ou quando ainda adolescente não havia permeado (sem duplo sentido) pelos prazeres do sexo. Alguém poderia descrever estes prazeres de forma que o ouvinte pudesse quase sentir da mesma forma que executando a ação? Não. Assim é com o livro. Você pode até descrever ou resenhar a história ou o fato, mas não chega nem perto do prazer de pegar o livro e lê-lo de cabo a rabo.
Terceiro, jornais e revistas vão acabar, mas não nessa geração. Se um melhor acesso a livros pode ser uma das soluções para maior democratização da leitura e manutenção da figura do livro, o que acontece com jornais e revistas que o acesso já é bem democrático, tendo jornais de R$ 0,25 e revistas de R$ 0,99, eles vão acabar? (Não quero aqui discutir a qualidade editorial dos produtos, a intenção é analisar o público leitor). Vejamos: Se a internet não é concorrente para os livros, ao contrário tem servido para maior divulgação, com jornais e revistas o processo é inverso. Pense bem, hoje você tem acesso rápido, praticamente em tempo real, de quase todos os jornais (alguns gratuitos) e periódicos. Pode acessar números passados, pode discutir o assunto com outros leitores, pode fazer e expressar sua própria reportagem e imprimir somente o que quiser, sem ter que levar para casa aquela quantidade de papel com inúmeras propagandas, aquele cheiro de tinta à base de chumbo (acredite, ainda há jornais assim), ter que se locomover até a banca ou ter que ficar no telefone reclamando do entregador que não chegou. Aqui, acredito, o processo é mais sutil. Peguemos como exemplo a Folha de S. Paulo, o maior jornal do país, sócio do maior portal de internet da América Latina (UOL), por que se interessaria em continuar a imprimir jornais sendo que o site do mesmo é acessado por milhares de pessoas todos os dias? A resposta é: Circulação. Se em relação aos livros as vendas têm picos e quedas, as vendas de jornais têm uma variação muito menor, muito mesmo. Desde o pico de 1995 quando chegou a faltar papel para produção, a nível mundial, houve uma queda sensível ano a ano até 2004, quando, desde então, a venda vem subindo gradativamente. Para produtos como Folha de S. Paulo não interessa somente a internet, ela tem que atacar de várias frentes, indo a lugares onde a internet, geralmente de leitura rápida, ainda não está acessível. Uma força não sobreviverá sem a outra (pelos menos não por enquanto). A sutileza reside no fato que os leitores mesmo defendem esta tese, a de carregar o jornal. Prova disso são os milhares de anúncios classificados colocados todos os dias nestes jornais. Quem anuncia lê. Vai acabar, mas vai demorar. Muito.
Quarta, quem controla a produção não é a demanda, é quem paga por ela. È sabido que as vendas e assinaturas de jornais e revistas por si só não poderiam manter as empresas que os produzem. Que a maior parte das receitas destas empresas vem de classificados. Pense nas televisões de canal aberto, quem as mantêm são integralmente os anúncios. O preço cobrado por estes produtos na ponta da relação de consumo se explica unicamente pelos custos fiscais, de distribuição, transporte e venda. A produção é bancada por anúncios. Então, recorrendo à idéia inicial, enquanto houver interesse de anunciantes, os periódicos continuarão a existir. E, aproveitando a deixa da própria Folha de S. Paulo, na revista publicada este ano Top Of Mind, podemos encontrar a parcela de publicidade destinada à Internet, e veremos que é bem menor que a destinada às impressas. Ou seja, nem as empresas anunciantes estão empolgadas no momento com um possível “boom” na Web. Os anúncios em jornais e revistas formam um círculo vicioso que diz: eu anuncio, você produz um bom periódico, ele lê e desfruta de um bom material, e eu vou querer anunciar de novo. Se eu não anuncio, você não produz.
Concluindo, acho que ainda temos muito chão pela frente para degustar de bons jornais e revistas, além de livros (que terão sobrevida maior). É claro que o gosto subjetivo por este ou aquele meio não se discute. Mas, por experiência própria, quem aí trocou definitivamente os produtos impressos por eletrônicos? E não contamos aqui o número de leitores que “entram no mercado” todos os dias etc etc. Por falar nisso, vocês já viram o novo e-book da Amazon?