MARCELO, O TAXISTA
MARCELO – O TAXISTA
Um amigo de infância não conhecia o Rio de Janeiro e este ano resolveu fazer um passeio na Cidade Maravilhosa. Como eu havia morado lá por vários anos, e, no ano passado, estive no Rio; pediu-me algumas informações e indicação de alguém de confiança para auxiliá-lo no deslocamento pela cidade, mostrando-lhe os pontos turísticos.
Indiquei o taxista Marcelo e isso me ensejou a escrever estas linhas, por sua honestidade. Honestidade é característica de quem é honesto e age de acordo com as normais morais e éticas, de quem tem honradez, dignidade e probidade, ou seja, de quem não se pode reprimir moralmente, castidade. Atributos que todos nós deveríamos possuir e nunca ser motivo de espanto quando nos deparamos com situações em que a honestidade sobressai.
Pois bem, como disse fui ao Rio ano passado. Na oportunidade, peguei um táxi do Parque Luís Gonzaga, antigo Pavilhão de São Cristóvão, ou Feira dos Paraíbas como era conhecido o local em épocas passadas, para Copacabana. O motorista vendo que eu não era carioca, pegou a rota mais longa; ou seja, saiu do local, desceu até a Francisco Bicalho e foi em direção ao Túnel Prefeito Marcelo Alencar, que sai na Primeiro de Março e vai até o Aterro do Flamengo.
Vendo a volta que o motorista estava fazendo, perguntei-lhe por que ele escolheu aquele caminho? Ele respondeu que era a maneira mais curta e rápida de se chegar ao destino.
Eu conheço muito bem a cidade e vendo que ele estava querendo aumentar a corrida e, consequentemente, o preço, disse que ele tinha alternativas melhores e mais curtas para chegar. Ele retrucou e eu disse-lhe que havia morado no Rio por mais de trinta anos, exagerei, e que conhecia muito bem a cidade e que ele deveria ter pegado o Túnel Santa Bárbara, saído nas Laranjeiras; ou pegar a Riachuelo e sair no Aterro, ou até mesmo, a Presidente Vargas, depois a Rio Branco e sair também no Aterro, apenas para demonstrar para ele que eu conhecia e que ele estava me enrolando, mas não enrolando um trouxa.
O fato que estou contando é somente para mostrar que a honestidade deve prevalecer em qualquer circunstância. Muitas pessoas acham que ganham mais sendo desonestas. E isso fica bem patente nesta história, principalmente, para nós mortais que não fazemos parte de qualquer poder no Brasil.
Quando cheguei em Copacabana, desci antes do destino. Paguei a corrida; fui embora e não dei qualquer atenção ao sujeito.
No dia seguinte, precisei de um táxi novamente que apanhei em frente ao hotel. Era o motorista Marcelo. Ele me levou ao meu destino com a maior gentileza, educação e sem fazer qualquer arrodeio para ganhar mais.
Ao fim da corrida, paguei o preço marcado no taxímetro, dei uma gorjeta, pedi o número do telefone dele e perguntei se ele estaria disposto a me pegar no hotel quando eu precisasse. Se dispôs de imediato. Toda vez que precisei de um táxi, durante minha estada na cidade, era só ligar para ele que imediatamente me apanhava e me deixava onde eu quisesse.
Vim embora e fiquei com o número do telefone dele. Aí, meu amigo pediu indicação; liguei para o Marcelo que se lembrou de mim e expliquei o motivo da ligação. Dei o número dele para o meu amigo que ia para o Rio com a família e durante os dez dias que permaneceu lá, Marcelo trabalhou diretamente para ele, levando-o a muitos locais.
Num país como o nosso, onde a desfaçatez, a picaretagem, a falta de vergonha, a falta de honra, a desonestidade, melhor dizendo, passou a ser a tônica, principalmente, por parte daqueles que deveriam pelo menos ter a preocupação de se mostrar digno, honesto e honrado, ser honesto ainda é motivo para que façamos nossas escolhas e acreditemos que podemos ainda viver em um lugar melhor, onde a picaretagem e o crime não compensem.
Marcelo, provavelmente, durante os dias que trabalhou diretamente para meu amigo, assegurou um ganho sem ter a preocupação de roda batendo, como se diz quando um carro de corrida roda sem passageiro, durante horas a fio, enquanto isso o “sabido”, provavelmente, teve que batalhar muito mais do que Marcelo nos dias mencionados.
Valeu, Marcelo. Continue sendo honesto numa terra onde a desonestidade venceu; principalmente no seu Rio de Janeiro tão lindo, mas como todo o Brasil, horrível de homens sem caráter, honestidade, dignidade, decência.
Fortaleza, julho/2023
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO