O GRAU 19 NA FILOSOFIA MAÇÔNICA SOB A ÓTICA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
O GRAU 19 NA FILOSOFIA MAÇÔNICA SOB A ÓTICA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
Neste Grau iniciamos verdadeiramente o que chamamos de Graus Filosóficos, embora vulgarmente, em todos os cantos da maçonaria simbólica, denominem os altos graus de filosóficos, o que tecnicamente não é correto, uma vez que no Grau 19, inicia-se esta denominação aos altos graus e o Conselho Kadosh.
O termo Kadosh, com variações encontradas na literatura como Kadosch e Kadesh vem do hebraico e significa “sagrado, consagrado ou santo”. O correto é usar a expressão Kadosh. A expressão Corpo Kadosk está correta, porém, dentro da ciência maçônica, Conselho Kadosh define todos os Graus do 19 ao 30. Há quem use a denominação Corpo de Cavaleiros Kadosh, neste caso, não está tecnicamente apropriado, uma vez que o Grau 30, pontualmente é denominado de Cavaleiro Kadosh (ou cavaleiro da águia branca e negra ou grande eleito ou grande inquisidor). Portanto, esta apresentação tem condão de esclarecer melhor as nomenclaturas usadas na prática.
O Grau 19, denominado Grande Pontífice ou Sublime Escocês, ensina que o iniciado passa ser conhecido como um construtor de pontes, expressão esta tirada da palavra latina pontifex.
Para seguir adiante, mister conhecer a passagem bíblica de Hebreus, 5: 4-10 que traz a expressão ordem de Melquisedeque. Na doutrina maçônica esta citação está atrelada ao termo pontífice, uma vez que todos deste Grau seriam também sumo sacerdotes da ordem de Melquisedeque, no entanto, a expressão define o seguinte: segundo as ordens do Filho de DEUS. Lembrem que, para os hebreus, a função de sumo sacerdote era de vital importância para sua religião, e mesmo assim, o próprio Filho de DEUS não quis denominação alguma com esta insígnia, conforme relato do próprio texto bíblico. Para a maçonaria, que possui raízes fortes com a Igreja Católica Apostólica Romana, neste grau evolutivo, o obreiro passa a desbastar ainda mais a pedra bruta e seguir na linhagem do Filho do PAI.
Neste sentido, é que surge a figura da Jerusalém Celeste ou a Nova Jerusalém, que descerá dos céus e suplantar a anterior. Para tanto, será necessário a construção de uma ponte entre estas duas Jerusalém. A contaminada pelos pecados e erros, devorada pela serpente de três cabeças e a nova, composta por luz e perfeição. Assim, só é possível tal construção, por obreiros com virtudes e princípios dignos de um Grande pontífice, entre eles o da verdade, razão, caridade, esperança, crença, tolerância, sinceridade, fidelidade, justiça e principalmente, o amor ao próximo, além, evidentemente, o amor ao PAI de forma incondicional.
Por esta razão, o termo fidelíssimo é um tratamento comum no ritual do grau 19, empunhada pelo Três Vezes Poderoso Mestre. Vale lembrar que a citação do Apocalipse, 21: 14-19 é uma alegoria desta nova cidade, para se ter uma dimensão do que se pensava e de como ela seria, evidentemente, os padrões de medição não são os mesmos que adotamos atualmente.
Neste grau, além das questões bíblicas, serão ensinados aos neófitos a importância de temas, aos quais a maçonaria está atrelada, um dele é a própria mitologia. Ao ouvir na iniciação a possibilidade de sofrimento dos doze trabalhos de Hércules, transfere ao postulante ao grau, além das exigências morais pretendidas, a coragem de enfrentar o que na mitologia foi descrito para Hércules, procurando perceber se o maçom está pronto para enfrentar todos os perigos e ao mesmo tempo, manter seus valores e princípios. Só assim é possível receber a tríplice coroa da fidelidade, razão e verdade, uma vez que seu peso só é aguentado por alguém digno dela.
A cada nova caminhada e conhecimento das medidas da nova Jerusalém, o neófito no grau precisará romper com pessoas que não tenham os mesmos valores que ele. Pode parecer fácil, mas este é um passo muito importante para a sua evolução, principalmente por compreender que estará mais próximo da casa do PAI, que no caso em questão, é citado como o ETERNO, o Alfa e Ômega, do ontem, do hoje e do futuro. Caso não esteja pronto a esta nova morada, e mesmo assim persista, ficará cego de tanta luz, uma vez que não adianta omitir seus erros, num lugar onde a verdade impera, além do julgamento do bem e do mal ser uma realidade na nova cidade.
Outro ponto importante para o postulante ao grau 19, está justamente na sabedoria que deve ter e para isso, deve compreender a própria fé, e seguir a diante. Por isto, neste grau, compreender as religiões e sua importância, assim como os símbolos do zodíaco, a psicologia, a metafísica, a literatura de uma maneira geral, a própria conduta moral, as instituições e seus governos, a razão e a força, a família e suas nuances, e finalmente, o respeito e cumprimento das normas. Tais pontos simbolizam os doze quarteirões da Jerusalém celeste e do zodíaco. Aliás, o número doze tem uma simbologia muito forte em várias passagens bíblicas.
Todos estes preceitos são necessários para uma nova visão de vida. O que outrora foi uma árvore de frutos proibidos, na velha Jerusalém em que habita a serpente de três cabeças, em um futuro pretendido, a nova Jerusalém com a árvore da vida, destruirá toda a realidade passada.
Trata-se de um grau que demonstra o estágio evolutivo do neófito que simbolicamente deve ter quarenta anos, uma idade em que já se possui maturidade para várias coisas na vida, inclusive o enfrentamento dos obstáculos.
Assim, em breve síntese, concluo pela necessidade de estudo ainda mais robusto em relação a este grau tão simbolicamente importante para cada maçom que conquistou este patamar.
Alessandro Buarque Couto
Grau 33
Presidente do Conselho Kadosh
Bibliografia
CASTELLANI, José. O rito escocês antigo e aceito. Londrina: A Trolha, 1988.
FERNANDES, Marcelo. Rito escocês antigo e aceito: grau 1 ao 33. Londrina: A Trolha, 2023.
ISMAEL, Kennyo. Ordem sobre o caos. Brasília: No Esquadro, 2020.
PACHECO JR, Walter. Uma visão global dos 33 graus do REAA. São Paulo: Madras, 2000.