Em campo não há esconderijos
Tenho argumentado sobre a necessidade de um campo normativo no intuito de pedir aos policiais e traficantes que não atirem (conscientes ou inconscientes) nas crianças. Cheguei mesmo a defender que a norma tocasse à todos àqueles que, de um forma ou de outra, as tenham por alvo. Apesar das visões contrárias, ainda fico com o meu humilde argumento: “não vele matar crianças”. Tal como salientei em outro texto, “Pai tomei um tiro” (http://www.recantodasletras.com.br/artigos/734229), creio que no artigo em apreço a questão ainda se sustenta e, repito, sei da mediocridade da população brasileira e da raça humana que anda por aí e, obviamente, não posso ser conivente com aqueles que apostam que estamos nos melhores dos mundo possíveis. Para lembrar aos leitores, antes de comentar a “nova” ou “velha” notícia, é om repetir minha brincadeira em forma de lei:
“Parágrafo único: para os efeitos penais, consideram-se como proibidas as mortes de crianças e adolescentes, de natureza pública ou privada, a serviço do governo brasileiro ou de qualquer outro Estado formal ou informal. É também aplicável à lei aos crimes praticados em nome do tráfico, da bandidagem, do roubo, da corrupção e da política. Considera-se praticado crime a intenção, o momento da ação ou omissão nos casos que envolvam crianças”.
Penalidades:
Reclusão e detenção
“Artigo 1: A pena para os crimes contra crianças e adolescente é de reclusão e deve ser cumprida em regime fechado.
§ 1º - Considera-se: a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima.
§ 2º - As penas privativas de liberdade, necessariamente, serão executadas rapidamente e terão a primazia em relação aos outros delitos.
§ 3º - Não será garantido qualquer privilégio ao assassino de crianças e/ou adolescentes..
§ 4º - Não será admitido o trabalho externo. O criminoso deverá ficar na ociosidade, no intuito de pensar no que fez, e, em hipótese nenhuma, deverá deixar o seu recolhimento, salvo os dias de banho de sol.
§ 5º - O condenado, após o devido direito de defesa e contraditório, cumprirá prisão perpétua.
Retomo tais palavras para materializar a lembrança da morte de Hugo Ronca Cavalcanti, um garoto de 12 anos que esteve internado no Hospital Miguel Couto, na zona sul do Rio de Janeiro devido a uma “bala perdida”. Ele, sem chance alguma de chamar por alguém, caiu como um soldado no campo de batalha enquanto jogava futebol. O projétil, agora “encontrado”, se alojou no seu crânio. Hugo ficou dias internado e não resistiu. Uma fatalidade para a família.
Todavia, o que vale observar com cuidado neste acontecimento é que o projétil, de acordo com as investigações não teria vindo das favelas ou dos pontos base nos quais se encontram os policiais. O garoto foi pego desprevenido se divertindo em um clube na zona nobre do Rio de Janeiro, o Leblon. O campo de futebol está localizado em meio a prédios residenciais nos quais a elite se esconde das “balas” perdidas. De acordo com os peritos da polícia e o delegado titular da 14ª DP (Leblon), é impossível que o projétil tenha saído de outro local, como a Chácara do Céu ou a Rocinha, logo, o proprietário do revólver reside nas redondezas.
Bom! O argumento é claro. Não é preciso estar na favela para saber que as crianças não estão a salvo e, pela pouca comoção que o caso tomou, tornou-se banal a morte delas. Apesar do Código que proíbe o porte de armas, a população – aparentemente - ainda está armada. Talvez a questão seja pior, pois se tornou problemático contabilizar, ou mesmo controlar aqueles que ainda resistem em possuir armas. Por outro lado, volto a afirmar que nada convence e justifica a morte de nossas crianças e adolescentes. Não é preciso ser pesquisador para saber que estamos cometendo um genocídio dos mais infantes e ainda é muito pouco o que as autoridades e a famigerada elite tem feito. É lamentável a hipocrisia e o pouco caso de nossa população que, inerte, somente tem forças para fazer “caminhadas” e campanhas ridículas em favor da paz e colocar rosas e mais rosas na praia.
A despeito das críticas, poucos vão me retirar a convicção, o lamento e o pedido: “não matem as crianças”. Como não acredito no homem kantiano, tampouco no ser humano cristão, no limite utilizem o meu singelo campo normativo descrito acima e aproveito para solicitar que não mais utilizem as rosas para pedir pela paz. Melhor seria apontar os culpados, prender os assassinos e trocar as autoridades que parecem gozar quando em tela se encontram a politização da segurança pública e a possibilidade da manutenção do poder na esteira de mais e mais mortes.