FESTA NO INTERIOR

Nasci em uma cidade do interior e, portanto, posso afirmar que nestas localidades todo acontecimento fora da rotina é razão para ser transformado em uma festa, da qual a maior parte da população faz questão de participar. É assim que ocorre com o Carnaval, 7 de setembro e aniversário da cidade, entre outras datas comemorativas. O período das eleições, por exemplo, é um intervalo de tempo marcado por festas especiais, por causa da paixão despertada pelos candidatos.

Em João Câmara – antiga Baixa-Verde, minha cidade de nascimento, uma das maiores festas já vistas na história, está relacionada às comemorações relativas ao aniversário da cidade. É uma beleza ver todo mundo na rua estreando roupa nova, enquanto as escolas desfilam ao som da Banda Marcial, cujo som marca o passo dos estudantes.

No meu tempo de criança, o período que antecede a eleição era marcado por comícios transformados em festa pela população ávida por divertimento. Comícios eram realizados no centro da cidade, em frente à prefeitura e quase sempre culminavam em uma passeata percorrendo as principais ruas da cidade. O povo se divertia enquanto a “Ala Moça” entoava as músicas dos candidatos.

Próximo ao dia da eleição, havia uma “Noite da Vigília” – ocasião em que os eleitores ficavam uma noite inteira, ouvindo discursos, cantando as músicas dos candidatos e participando de passeatas. Os políticos naquela época, tinham status semelhante aos artistas de televisão. Para alguns eleitores mais apaixonados, estar perto de um político de renome nacional ou regional, ganhar um aperto de mão ou o abraço de um deles, era a verdadeira glória.

Um dos políticos mais amados em Baixa-Verde, no meu tempo de criança, era Francisco Paulino de Almeida, mais conhecido como Chico da Bomba, cuja lembrança ainda vive na memória do povo Baixa-verdense. As pessoas vinham de toda a região do Mato Grande, com o intuito de ouvir os discursos de Chico da Bomba.

Embora sendo um homem simples e sem muita instrução, Chico da Bomba dizia exatamente aquilo que o povo simples da região queria e precisava ouvir. Logo, seus comícios eram transformados em grande sucesso, devido ao extraordinário número de pessoas que arregimentava. Especialmente quando ele respondia às provocações do seu maior adversário político – o deputado estadual Magnus Kelly.

Em seus discursos, Magnus Kelly chamava Chico da Bomba de Chico Traque ou Chico Chumbinho, numa clara provocação para diminuir o poder bélico da Bomba, que Chico usava em seu nome e que lhe deu notoriedade. A ofensa não ficava sem resposta, porque Chico colocava uma Granada do nome, para delírio dos eleitores.

Um dos comícios inesquecíveis ocorreu, quando o deputado Antônio Câmara decidiu disputar a cadeira de prefeito, com o candidato de Chico da Bomba, Manoel Anacleto de Lima. Esta disputa que se tornou em uma das mais acirradas do município.

O símbolo da campanha de Antônio Câmara era uma piraca – espécie de lamparina feita a partir de um recipiente, contendo óleo combustível (azeite ou querosene) e cuja iluminação ocorre através de um pavio, que ao ser aceso, ilumina o ambiente. As lamparinas foram utilizadas durante muito tempo na cidade, onde não havia energia elétrica.

Antônio Câmara convocou seu eleitorado para participar da “Noite dos Piraqueiros”, evento que ficou marcado na memória do povo Baixa-verdense pela beleza e pela multidão que participou dela. Os apoiadores desfilaram pelas ruas escuras da cidade, cada um com sua piraca na mão, iluminando o lugar que ainda não dispunha dos benefícios e conforto da energia elétrica.

Chico da Bomba, por sua vez, convocou seus seguidores para a “Passeata dos Carroceiros”, concentrando uma infinidade de carroças, que desfilaram enfeitadas com bandeiras verdes, pelas ruas, modificando a rotina da cidade e assim, ele conseguiu eleger Manoel Anacleto à prefeitura municipal. O carisma natural de Chico da Bomba o elegeu prefeito por duas legislaturas de cinco anos, mesmo sem grandes obras realizadas na cidade e ainda elegeu seu sucessor.