ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PAISAGEM URBANA DE ARAGUAÍNA – TO NO CONTEXTO AMAZÔNICO Aires José Pereira é professor do curso de Geografia e do mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PAISAGEM URBANA DE ARAGUAÍNA – TO NO CONTEXTO AMAZÔNICO

Aires José Pereira é professor do curso de Geografia e do mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis

1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo discutir o conceito de paisagem epistemologicamente falando, bem como ele é aplicado na ciência geográfica, verificando como tem sido feitas as abordagens no Brasil e quais as influências de outras escolas que o país recebeu. Discute também a ocupação do cerrado brasileiro dentro do novo modelo econômico e novas formas de ocupações espaciais, quer dizer, observando como o modo de produção capitalista tem agido no sentido de “melhor” ocupar este espaço e aviltar seus lucros.

Para entender essa ocupação do cerrado necessário se faz recorrer aos programas criados pelo governo federal no sentido de incentivar/efetivar a ocupação do cerrado brasileiro, além de verificar inclusive, a própria implantação da Capital brasileira no Planalto Central como fazendo parte dessa estratégia governamental de interiorização da exploração dos recursos naturais e produção de grãos e carnes para exportação.

A construção de grandes rodovias também fez parte desse processo de ocupação do cerrado e da Amazônia Legal. É interessante observar que a própria construção da BR – 153 (Belém – Brasília) veio de encontro do crescimento econômico da cidade de Araguaína, mudando indiscutivelmente a sua paisagem urbana. A interpretação sobre a paisagem urbana de Araguaína - TO no contexto Amazônico veio acompanhada de leitura empírica e bibliografia referente ao tema em questão por meio do próprio olhar crítico do autor.

A metodologia usada para a confecção do artigo foi, num primeiro momento, a leitura assídua dos artigos que o professor Sílvio Carlos Rodrigues do Programa DINTER – UFU/UFT nos enviou, bem como suas aulas teóricas e práticas. Posteriormente buscou-se encontrar um tema para o artigo e foi feita uma leitura teórica criteriosa de vários autores, como: SANTOS, ARRAIS, CARDOSO, CARLOS, LEITE, LIMA, MAROUELLI, MAXIMIANO, PEIXOTO PINTAUDI, QUEIROZ, SAQUET, SCHIER, SILVA e RODRIGUES, VENTURI, com os respectivos fichamentos de suas obras. Após a leitura desse material chegou-se a uma proposta de trabalho que foi enviada ao professor Sílvio Carlos Rodrigues (que ministrou a disciplina: Paisagens dos Cerrados: potencialidades e fragilidades, pelo programa DINTER – UFU/UFT) e aprovada por ele, para assim começar a escrita do artigo.

2.1. Algumas considerações sobre conceito de paisagem

Para entender o conceito de paisagem reinante hoje entre e nas várias ciências, bem como, nas artes, na filosofia e no senso comum, é interessante que se estude a sua “história” tanto temporal como espacial e como as sociedades em sua “intimidade” têm debruçado seus olhares sobre ela. Quer dizer, a noção de paisagem vai estar diretamente relacionada ao ambiente cultural, histórico, espacial, estético, ético, étnico, de um povo, ou mesmo de um indivíduo dentro de uma coletividade maior. Raul Seixas já dizia que “cada cabeça é um universo”. Acreditamos que a paisagem pode representar formas diferenciadas aos olhares dicotômicos que as veem. Além disso, a evolução do homem enquanto ser social vai “contornando” a sua forma de percepção da paisagem e ela está presente em sua memória desde os primórdios da humanidade.

A noção de paisagem está presente na memória do ser humano antes mesmo da elaboração do conceito. A idéia embrionária já existia na observação do meio. As expressões desta memória e da observação podem ser encontradas nas artes e nas ciências de diversas culturas, que retratavam inicialmente elementos particulares como animais selvagens, um conjunto de montanhas ou um rio. As pinturas rupestres são uma referência para esta percepção direcionada a alguns componentes do ambiente. MAXIMIANO, 2004. p. 84.

Como se vê, as expressões culturais de um povo já são por si só, manifestações da própria percepção do espaço e da paisagem que são criadas ou potencializadas pelo homem. Quando afirmamos criadas, estamos nos referindo aos edifícios, as casas, pontes, indústrias, etc. que o homem cria ao longo de sua história enquanto ser social. Quando referimos às paisagens “potencializadas”, queremos dizer que a própria natureza é uma paisagem (natural) e o homem dá o seu toque social nessa paisagem a “organizando” de acordo com sua cultura, seu jeito de pensar, sentir, agir e ser. É claro, o modo de produção também se insere nessa paisagem, indiscutivelmente.

As diversas disciplinas científicas e mesmo o senso comum têm uma explicação própria do que seja paisagem. Há variações do conceito, conforme a disciplina que o elabora, mas também há parâmetros mais ou menos comuns mantidos nas definições. MAXIMIANO, 2004. p. 84.

Já entrando um pouco na concepção de paisagem pela ciência geográfica, vamos perceber que existem várias formas de sua percepção... Essas percepções vão desde a Geografia “Física” à Geografia “Humana”, ou, em alguns casos, na “junção de ambas”, mas em todas elas se admitem a dialética como fazendo parte desta ou daquela paisagem. A paisagem é dialética. Ele une os contrários.

2.2. Abordagem sobre o conceito de paisagem pela Geografia

Há na Geografia um tratamento dicotômico sobre o conceito de paisagem, apesar de se tentar unir as duas grandes áreas dessa ciência, quais sejam: a Geografia Física e a Geografia Humana, uns geógrafos tendem a trabalhar a paisagem do ponto de vista “natural” e outros que discutem a paisagem a partir da ação antrópica nesse quadro natural, quer dizer, levam a cultura em consideração ao se trabalhar com esse tema.

Tradicionalmente, os geógrafos diferenciam entre paisagem natural e a paisagem cultural. A paisagem natural refere-se aos elementos combinados de terreno, vegetação, solos, rios e lagos, enquanto a paisagem humanizada inclui todas as manifestações feitas pelo homem, como nos espaços urbanos e rurais De modo geral, o estudo da paisagem exige um enfoque, do qual se pretende fazer uma avaliação definindo o conjunto de elementos envolvidos, a escala a ser considerada e a temporalidade na paisagem. Enfim, trata-se da apresentação do objeto em seu contexto geográfico e histórico, levando em conta a configuração social e os processos naturais e humanos. SCHIER, 2003, p. 80.

Milton Santos também vai discutir paisagem fazendo o contraponto entre a característica da geografia física e a da geografia humana, mas possibilitando uma dialética entre ambas as formas paisagísticas. Inclusive ele nos alerta sobre as intenções políticas existentes nestas ou naquelas paisagens.

A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é aquela ainda não mudada pelo esforço humano. Se no passado havia paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem praticamente não existe mais. Se um lugar não é fisicamente tocado pela força do homem, ele, todavia, é objeto de preocupações e de intenções econômicas ou políticas. Tudo hoje se situa no campo de interesses da história, sendo, desse modo, social. SANTOS, 1997. p. 64.

Por outro lado, há também quem tenta discutir paisagem na ciência geográfica como um todo, de forma holística. Essa holisticidade vai além da simples observação/contemplação da paisagem; se ela é natural ou humana. É preciso entender a sua essência enquanto tal e analisar cada elemento constitutivo desse todo e prosseguir uma leitura mais criteriosa acerca da mesma. É preciso utilizar a ciência a que se está utilizando, mas também, levar em consideração o “mundo” imaginário de quem construiu essa paisagem ora estudada.

Uma paisagem modificada pelo homem, não é, portanto, uma paisagem antinatural, mas uma paisagem cultural que deve atender tanto a critérios funcionais quanto estéticos. Assim sendo, não pode ser planejada de acordo apenas com prioridades econômicas rigorosas que levam a perda dos valores ambientais para, posteriormente, ser embelezada, num ato de redenção estética, pela inserção de elementos românticos pseudonaturais. LEITE 1994.p. 07.

A paisagem tem sido um tema recorrente à geografia desde há muito tempo, como forma de se entender as relações sociais que o homem estabelece com seu espaço, com o seu lugar e com outros homens de lugares distantes. É claro, cada cientista procura “defender” por assim dizer o seu mundo vivido, percebido, sentido e politicamente “correto” de acordo com seus interesses ou interesse de seu grupo.

A discussão sobre o conceito de paisagem é um tema antigo na geografia. Desde o século XIX, a paisagem vem sendo discutido para se entenderem as relações sociais e naturais em um determinado espaço. Dentro da geografia, a interpretação do que é uma paisagem diverge das múltiplas abordagens geográficas. Observa-se que existem certas tendências “nacionais” mostrando que o entendimento do conceito depende, em muito, das influências culturais e discursivas entre os geógrafos. SCHIER, 2003, p. 80.

A paisagem do cerrado brasileiro foi categoricamente “interpretada” pelos cientistas que estavam a favor da produção capitalista em larga escala, como “feia”, “exótica” e que o seu ecossistema era pobre, e que, portanto, poderia ser totalmente “despido” para produzir grãos e carne para o Sudeste do Brasil e para a exportação. Hoje todos sabem que é do cerrado que surgem os nossos principais rios brasileiros, por exemplo. Mas vamos ver como a paisagem tem sido discutida e trabalhada pela geografia no Brasil.

2.3. A abordagem geográfica de paisagem no Brasil

Entender um pouco sobre o estudo geográfico de paisagem no Brasil exige que se faça revisão historiográfica da própria discussão acerca do tema, verificando quais foram os pesquisadores pioneiros, as influências que receberam de pesquisadores de outros países e também, a evolução destas análises geográficas. É interessante frisar que os estudos sobre paisagem pela Geografia no Brasil tiveram influências da escola francesa e, posteriormente, da escola anglo-saxônica correlativamente aos primeiros pressupostos de afirmação da própria ciência geográfica em nosso país. Quer dizer, não dá para acompanhar a evolução do conceito de paisagem na Geografia do/no Brasil sem levar em consideração a História do Pensamento Geográfico Brasileiro.

O estudo sobre paisagem pela Geografia Brasileira ainda é incipiente, de acordo com Maximiano. Os estudos aparecem sempre relacionados às outras categorias de análises geográficas. O nosso trabalho aqui proposto, por exemplo, pretende discutir a paisagem urbana de Araguaína – TO, levando-se em consideração, além dos aspectos naturais do lugar, os aspectos culturais, políticos, econômicos e históricos nessa definição dinâmica de paisagem. Referimo-nos à definição dinâmica porque acreditamos que a paisagem está passando por constantes transformações.

Consultas a anais de encontros e congressos de geografia e temas ambientais brasileiros evidenciam a pequena proporção de estudos sobre paisagem ou sua classificação. Em geral, paisagem aparece como variação de termos como: meio ambiente natural, unidade espacial, visual. Seus contornos podem ser definidos a partir de feições do uso do solo, tendo como produtos paisagem urbana, paisagem rural, degradada ou natural, ou podem ser unidades territoriais e/ou espaciais, como municípios, parques, bacias hidrográficas. São comuns pesquisas sobre um componente da paisagem, vindo depois a consideração dos efeitos de outras variáveis, como a ação humana sobre o elemento principal ou sobre o todo. MAXIMIANO, 2004. p. 89.

Para começarmos a discussão propriamente dita de ocupação do cerrado brasileiro e ver como isso se deu, ou seja, como que o homem, com suas tecnologias transformaram/transforma paisagem natural em paisagem humanizada e mudou/muda as formas de perceber, sentir, viver, agir neste espaço é interessante que entendamos todo o processo de ocupação desta área até pouco tempo atrás inóspita à economia brasileira. O cerrado só se tornou parte economicamente “ativa” da economia brasileira e internacional, uma vez que seus produtos – na grande maioria são exportados- recentemente por meio de incentivos governamentais e programas dirigidos à ocupação. Além de créditos, isenções fiscais, doações de enormes áreas aos grandes agropecuaristas, o governo ainda criou empresas agrícolas que possibilitaram às tecnologias biogenéticas capazes de tornarem um solo estéril e solo fértil e produtivo. Isto, nós veremos a seguir.

3. A OCUPAÇÃO DO CERRADO BRASILEIRO: NOVO MOMENTO ECONÔMICO, NOVAS FORMAS DE OCUPAÇÕES TERRITORIAS

Ao discutirmos a ocupação do cerrado brasileiro e da Amazônia Legal nesse novo cenário econômico que foi criado por políticas dirigidas pelo Estado Brasileiro, se faz necessário termos em mente que a economia do mundo passava por transformações nunca antes vistas na história da humanidade e que essas mudanças levavam em consideração a incorporação de novas áreas de produção ao seu modelo de apropriação capitalista do espaço. O espaço geográfico mundial se tornava cada vez menor. As distâncias geográficas e históricas ficavam cada vez menores, principalmente, pelo alto grau de tecnologia que era aplicada nessa nova organização espacial.

Infelizmente a ocupação econômica dos Cerrados tem ocorrido sem um adequado planejamento: os Cerrados são vistos pelos planejadores, financiadores e agricultores apenas como chão a ser ocupado, isto é, só se aproveita no Cerrado enquanto substrato para as atividades agrícolas, como se não houvesse mais nada de aproveitável na região. DIAS apud MAROUELLI 2003. p. 14

A nova organização espacial do cerrado e da Amazônia Legal é eminentemente capitalista e como tal precisa se expandir de qualquer forma para aviltar cada vez mais seus lucros. Dessa forma, são construídas várias bases de sustentação a esse novo modelo. Novas tecnologias são implantadas no lugar e isso muda indiscutivelmente sua paisagem geográfica, além de possibilitar que se desfaçam todas as outras relações que as pessoas possuíam com o lugar e com seus semelhantes.

Além da expansão da fronteira agropecuária, outros fatores ameaçam a integridade dos ecossistemas e recursos naturais renováveis dos Cerrados: construção de grandes barragens e estradas, mineração, agrotóxicos e a expansão urbana. MAROUELLI, 2003 p. 14.

A ocupação desordenada – do ponto de vista ambiental, social, cultural de quem já estava habitando o lugar – vem acarretando muitos problemas ao cerrado, uma vez que ela não atende as exigências naturais, culturais e sociais do lugar. Essa ocupação está atendendo a interesses econômicos bem distantes do lugar.

A relação entre paisagem e produção está em que cada forma produtiva necessita de um tipo de instrumento de trabalho. Se os instrumentos de trabalho estão ligados ao processo direto da produção, isto é, a produção propriamente dita também o está à circulação, distribuição e consumo. A paisagem se organiza segundo os níveis destes, na medida em que as exigências de espaço variam em função dos processos próprios a cada produção e ao nível de capital, tecnologia e organização correspondentes. Por essa razão, a paisagem urbana é mais heterogênea, já que a cidade abarca diversos tipos e níveis de produção. Cada instrumento de trabalho tem uma localização específica, que obedece à lógica da produção nesses quatros momentos acima mencionada, e é por isso que o espaço é usado de forma desordenada. SANTOS, 1997p. 66.

Essa desorganização espacial porque passa o cerrado é propositalmente dirigida, como já dissemos antes, por interesses externos ao lugar.

A ação antrópica, apresentada, sobretudo na forma de atividades econômicas, tem conduzido, ao longo dos anos, à ocupação desordenada da região de cerrado e, consequentemente, à sua rápida degradação ambiental. QUEIROZ 2003. p. 3.

É evidente também que esse processo de ocupação do cerrado brasileiro, principalmente a partir da implantação da Capital do Brasil no Planalto Central nos anos 60 e a inserção deste espaço geográfico ao modelo de produção capitalista totalmente tecnificado se deu com total apoio/ação do governo brasileiro.

3.1. Os Programas do Governo Federal para a ocupação do Cerrado Brasileiro e da Amazônia Legal

O governo brasileiro criou várias formas de interiorizar a ocupação territorial deste país. Desde os primórdios de sua ocupação, o governo tem agido no sentido de incentivar essa ocupação, inclusive, para garantir sua posse. No entanto, nos últimos anos do século passado (século XX) é que essa ação foi mais intensa, organizada, sistematizada, instrumentalizada tanto no que diz respeito à política de ocupação, política ideológica, política de incentivos, política estratégica, política técnica-científica, enfim, o governo oferece todas as condições necessárias ao empreendedorismo do grande capitalista agropecuarista. Linhas de financiamentos são criadas para que o grande empresário do ramo agropecuário tenha todas as condições de “capacitar” o cerrado para a produção de grãos e carne para o mercado interno (região sudeste, principalmente) e o mercado externo.

O POLOCENTRO teve como objetivo propiciar a ocupação racional e ordenada dos cerrados, difundindo a tecnologia agropecuária, permitindo elevados níveis de produtividade, e ao mesmo tempo, aumentando e preservando a fertilidade do solo. O programa beneficiou principalmente médios e grandes produtores no período em que vigorou (1975-1982). Nesse período foram aprovados 3.373 projetos, em um montante de recursos equivalentes a 577 milhões de dólares. Dos beneficiados, 81% operavam áreas de mais de 200 hectares, que absorveram 88% do crédito oferecido. MAROUELLI, 2003. p. 26.

Dessa maneira, tivemos o POLOCENTRO atendendo definitivamente aos seus objetivos propostos, uma vez que atualmente, para se ter uma idéia, a maior produtividade de soja por hectare do mundo se encontra em Sapezal – MT. Mato Grosso sozinho respondia em 2001 por 54% da produção de algodão do país. Assim, os objetivos dos planos governamentais foram alcançados plenamente para o atendimento do novo modelo de produção de grãos e carnes dessas áreas de cerrado. Araguaína – TO, por exemplo, é conhecida como “A Capital do Boi Gordo”, inclusive, a sua cultura dominante é a do pecuarista bem sucedido. É até importante destacar que todo mundo sonha em possuir “bois” no pasto, mesmo sabendo que essa é uma realidade de poucos.

O POLOCENTRO foi bem-sucedido em induzir a expansão da agricultura comercial nos cerrados, tendo o governo “pago” aos agricultores para que cultivassem a terra em seu próprio proveito, presumindo que seu impacto indireto tenha sido maior que o impacto direto. MAROUELLI, 2003. p. 29.

É evidente, como já afirmamos anteriormente que esse processo de ocupação traz sérios problemas ambientais ao cerrado. As matas de galeria, por exemplo, são totalmente devastadas para serem plantadas as sementes de soja até as margens de córregos e rios.

A expansão da fronteira agrícola no Brasil deveria ter se dado inicialmente por três motivos: primeiro reduzir o inchaço das cidades e com isso a pobreza urbana; segundo, produzir mais alimentos, bem como produzir um excedente para a exportação e, com isso, fortalecer a balança comercial; e, terceiro, povoar as áreas devolutas da união através de uma reforma agrária, ampla geral e irrestrita, o que favoreceria a diminuição da miséria e integraria de vez essas áreas ao território nacional brasileiro, ajudando a aumentar a produção de produtos da cesta básica dos brasileiros. LIMA, 2001. p. 4-5.

A maneira com que essa ocupação do cerrado brasileiro ocorreu só trouxe mais conflitos pela posse da terra entre os grandes latifundiários rurais – vale salientar que alguns deles são grileiros – e os posseiros. Tanto isto é verdade que os maiores conflitos de terras no Brasil estão acontecendo justamente em Mato Grosso, Maranhão, Tocantins e Pará. Essa área também é considerada como o “arco do fogo” do Brasil, quer dizer, os Estados que mais possuem queimadas do País.

Se por um lado, o Estado implantou uma agricultura moderna altamente tecnificada, por outro forneceu condições para que aumentasse o tamanho dos latifúndios, que chegam à incrível marca de 28.000 hectares no Sul do Pará. No norte de Mato Grosso e Norte de Goiás (atual estado do Tocantins) existem propriedades de mais de 14.000 hectares. Este acúmulo de terras nas mãos de poucos acarretou a expulsão dos pequenos proprietários rurais para os grandes centros urbanos, pois nessas “mega fazendas”, tanto o cultivo de lavouras como a soja e milho ou a criação de bovina, necessita de meia dúzia de peões que cuidam perfeitamente dos afazeres dessas imensas propriedades, sem contar que sai mais em conta para o proprietário manter os peões do que o colono, tendo em vista que, sem ter que dividir a sua produção com o colono, seu lucro acaba sendo maior, além de não correr o risco de perder partes de suas terras em uma disputa judicial favorecida pela lei do usucapião. LIMA 2001. p. 6.

Além de tudo isso acima discutido por Lima, podemos acrescentar também que os Estados acima mencionados, quais sejam: Mato Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins, têm o maior contingente de escravos por dívidas do País. É “normal” aparecer como manchete de jornais nacionais e internacionais um ou vários casos de situação de escravidão que algumas pessoas se encontram nessas grandes propriedades rurais nos referidos estados. Se por um lado houve avanço tecnológico, científico para essa mecanização da produção agrícola, por outro lado, alguns fazendeiros recorrem ao período colonial para “justificar”, se é que podem fazer isso, suas ações no mínimo desumanas contra seres humanos desprovidos de conhecimentos de seus próprios direitos.

3.2. A Construção de Brasília como eixo estruturador de ocupação do interior do Brasil

Essa transferência trouxe consigo também, uma remodelação do quadro urbano da região de cerrado. Se até então, tínhamos as pequenas cidades geralmente às margens de rios, a partir de então, as cidades surgem ou são revitalizadas às beiras das rodovias que se efetivam como eixo estruturador de todo o processo de produção capitalista do espaço geográfico.

Araguaína – TO vai ser uma cidade que se revitaliza e se corporifica, inclusive como polo econômico da região, justamente em função desse novo/velho modelo de ocupação espacial que o governo federal induz direta ou indiretamente por meios de Programas de incentivos fiscais, isenções fiscais, financiamentos, etc. e, principalmente pela infraestrutura implanta por ele.

3.3. A construção da BR- 153 e o novo impulso ao Crescimento econômico de Araguaína – TO

Como estamos discutindo ao longo deste artigo, Araguaína – TO não possui essas características atuais por acaso. Houve, além da ocupação “espontânea” em seus primórdios, uma ocupação dirigida pelo Estado Brasileiro para que esse espaço viesse a atender as necessidades impostas pelo sistema capitalista de produção, qual seja a DIT – Divisão Internacional do Trabalho. Nesse modelo os lugares são “escolhidos” a produzir este ou aquele produto, de acordo com suas potencialidades naturais, técnicas, econômicas e estratégicas. Todo o crescimento econômico porque passa o município tem uma explicação política/estratégica que o governo federal, estadual e municipal adotou em consonância com os interesses econômicos de grupos nacionais e internacionais. A sua paisagem urbana possui características do passado com as do presente. Ela une os dois lados do processo de ocupação. O lado arcaico e o lado técnico atual. Mas tudo isso tem uma razão de existência.

Com a construção da Belém-Brasília surgem modificações, modificações estas consubstanciadas não só na intensificação do fluxo ao longo da estrada, mas também na inversão do fluxo: se antes se direcionava para o norte, agora, com a Belém-Brasília, volta-se para o sul do Estado e, indiretamente para o Centro-Sul do País. (…) Estas modificações refletem-se também no surgimento de núcleos populacionais; no advento de vias secundárias para a articulação com outras frentes pioneiras da matas do Araguaia e com os centros localizados nas margens do Tocantins; na transferência de funções comerciais, antes desenvolvidas no vale do Tocantins e que foram se estabelecendo nos núcleos à margem da Belém-Brasília. CARDOSO, 1989. p. 200.

De forma alguma devemos esquecer-nos de relacionar que todo esse processo de ocupação no cerrado brasileiro de maneira mais acentuada se dá a partir dos grandes avanços técnico-científicos alcançados nos últimos anos, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Toda e qualquer manifestação dessa natureza técnica-científica que acontece em seus países de origem, acaba por chegar também, é claro, obedecendo a uma hierarquia ideológica da classe dominante, em pontos longínquos de sua fabricação. É o caso da incorporação do cerrado brasileiro ao meio técnico-científico-informacional.

O progresso técnico científico alcançado nos últimos anos tem sido muito grande, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, o Homem, de forma geral, não aprendeu a usar os recursos tecnológicos de forma a possibilitar um máximo de aproveitamento dos recursos naturais com um mínimo de degradação ambiental possível. SILVA, RODRIGUES, 2003, p. 01.

No entanto, apesar de todo esse aparato tecnológico alcançado pelo homem nos últimos tempos, ele (homem) ainda não aprendeu a lidar com essa tecnologia a favor da preservação ambiental. O homem quando quer aprender a preservar/conservar o meio ambiente, busca exatamente em seus primórdios esse equilíbrio. Ou seja, quanto mais o homem se “tecnifica” mais distante da natureza ele fica, apesar de também depender dela para tudo.

Tornou-se urgente a necessidade de preservação e recuperação dos recursos naturais, especialmente na área urbana e no seu entorno, tendo em vista o alto grau de degradação ambiental em que se encontra e, sobretudo, porque é na cidade que a degradação é mais intensa. SILVA, RODRIGUES, 2003, p. 01.

No entanto, o homem não pode continuar agido da mesma forma. Ou seja, ao homem é dada a faculdade de pensar melhores formas de se organizar no espaço, mas justamente por ele pensar é que faz besteiras. Só que essas “besteiras” podem lhe custar à extinção e, com certeza a natureza vai continuar a existir. É claro, pode até haver metamorfose dessa natureza, mas quem pode desaparecer dela é o homem se não começar a repensar sua atitude de depredador do meio ambiente.

Preservação ambiental não é apenas uma questão econômica, mas sim consequência da falta de investimento em educação no Brasil ao longo de décadas, o que vem provocando sequelas irreversíveis tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade. SILVA, RODRIGUES, 2003, p. 14.

A educação é sem dúvida alguma o caminho pelo qual o homem deve trilhar para conseguir se conscientizar da necessidade de preservar e conservar o meio ambiente. É pena que grande parte de nossos “educadores” ainda não foram educados ambientalmente falando e nem discurso sabem fazer em sua defesa. Isso complica muito mais a situação do homem no planeta. A paisagem urbana de Araguaína de desoladora, por exemplo, por falta do pensar o espaço geográfico. Encontramos com frequência queimadas urbanas que causam sérios problemas de saúde principalmente às pessoas mais idosas e crianças. No entanto, não há por parte da população e o poder público uma preocupação com os problemas decorrentes desta atitude primata que ainda persiste em acontecer em pleno século XXI em uma área que se diz urbana. É sobre essa paisagem urbana araguainense que vamos tratar no próximo item deste artigo. É claro, iremos discutir a paisagem urbana de Araguaína levando em consideração os aspectos físicos e humanos

4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PAISAGAEM URBANA DE ARAGUAÍNA – TO

Uma das primeiras questões a se levantar em relação à paisagem urbana da Araguaína ser do jeito que é indiscutivelmente é perceber que ela cresceu sem planejamento nenhum. Sua urbanização se deu de uma maneira desorganizada. A ocupação se deu de forma irregular. O poder público constituído foi totalmente ausente no que diz respeito ao atendimento das normas técnicas e urbanísticas da cidade. A cidade está crescendo de forma acelerada – é evidente, dentro da realidade em que se encontra inserida – sem que o poder público tome uma decisão de organizar um pouco mais esse crescimento. As ruas são irregulares, tortuosas. São caminhos em forma de trilhos de uma mata de galeria que não existe mais.

A paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos, substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção daquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. Daí vem à anarquia das cidades capitalistas. Se juntos se mantém elementos de idades diferentes, eles vão responder diferentemente às demandas sociais. A cidade é essa heterogeneidade de formas, mas subordinada a um movimento global. O que se chama de desordem é apenas a ordem do possível, já que nada é desordenado. Somente uma parte dos objetos geográficos não mais atende aos fins de quando foi construída. Assim, a paisagem é uma herança de muitos momentos, já passados, o que levou Lênin a dizer que a grande cidade é uma herança do capitalismo, e veio para ficar, devendo os planejadores de o futuro levar em conta essa realidade. SANTOS, 1997 p. 66

Se a cidade, de uma maneira geral é o local onde acontecem as transformações sócio espaciais concomitantemente aos ajustes técnicos, políticos, ideológicos, culturais, éticos e estéticos, além de estar assentada em um espaço físico, ela com certeza vive heterogeneamente com o tempo e o próprio espaço de sua construção enquanto tal. Logo, Araguaína não é diferente. Sua paisagem urbana tem embutida em si, uma carga histórica, emocional, simbólica, etc. que a caracteriza e a diferencia das demais. Ao mesmo tempo em que o capitalismo atual busca uma homogeneização por meio das técnicas de produção espacial, ele também produz as contradições espaciais, que inclusive são inerentes ao seu processo de produção, ainda consegue “enaltecer” as diferenças que existem no lugar justamente para continuar ganhando mais capitais.

A cidade é um conjunto heterogêneo de objetos, ações humanas, formas, funções, usos e modos; é, ainda, o movimento, a vida, refletindo o homem e sua história. É o lócus do capital, do trabalho e da técnica, mas simultaneamente, é o espaço do cidadão, de suas ideias, emoções, lutas e contradições, onde as relações sociais produzem e se reproduzem na forma ampla. PEIXOTO, 2001.p. 136.

Além de toda a carga emocional, simbólica, arquitetônica, cultural, estética; forma de o homem ver, sentir, estar e agir no seu mundo, é claro, tem-se o estrato físico em que este homem está construindo a paisagem à sua imagem e semelhança. Há uma interação entre os elementos físicos da natureza e a construção social, política, ideológica do homem na concretização deste espaço construído e arquitetado para melhor atender as necessidades daquele momento histórico da paisagem daí resultante.

A paisagem, e isso são comuns às definições, é resultante de interação entre seus componentes, a saber, clima, relevo, redes hidrográficas, solos, substrato geológico, cobertura vegetal (componentes físicos, e bióticos regidos pelas forças físico-químicas que dinamizam a natureza), além do Homem que se impõe sobre a dinâmica natural conduzido por uma dinâmica social, permeada de valores histórico-culturais. Assim entendida, as partes do todo/paisagem já estão identificadas, cabendo ao Geógrafo, orientado pela análise, compreender a sua dinâmica, seu funcionamento. E essa compreensão só será possível pela recomposição do todo como resultado, não da soma das partes, mas da relação entre elas. A síntese, portanto, completa o raciocínio analítico. Isso ocorre, pois embora os mecanismos mentais que conduzem à análise e à síntese possam ser considerados opostos (a análise fragmenta recompõe), são processos complementares. VENTURI, 2008.p. 55.

Os pedestres de Araguaína não têm espaço de circulação. Ao andar pelas suas ruas não encontram calçadas. Quando existem algumas calçadas ou elas possuem fossas sépticas ou estão cheias de entulhos. Novamente o pedestre precisa ir para o meio da rua para competir com motos, automóveis, caminhões, ônibus, vans, bicicletas, carroças, etc. Tudo isso causa uma imagem/paisagem do caos no trânsito urbano da cidade. Há muitos atropelamentos que resultam em pessoas feridas e/ou mortas. É um caso a se pensar.

A cidade possui um plano diretor mais sua efetivação enquanto tal é algo que não existe. Inclusive, é interessante observar que a cidade ainda não possui um anel viário. As ruas são tortuosas e estreitas e se isto não bastasse o respeito às normas de trânsito é algo que não existe, fazendo com que, pessoas que gostar de andar/trafegar de forma correta, sofram muito mais ainda.

A paisagem tem, pois, um movimento que pode ser mais ou menos rápido. As formas não nascem apenas das possibilidades técnicas de uma época, mas dependem, também, das condições econômicas, políticas, culturais etc. A técnicas têm um papel importante, mas não tem existência histórica fora das relações sociais. A paisagem deve ser pensada paralelamente às condições políticas, econômicas e também culturais. Desvendar essa dinâmica social é fundamental, as paisagens nos restituem todo um cabedal histórico das técnicas, cuja era revela; mas ela não mostra todos os dados, que nem sempre são visíveis. SANTOS, 1997 p. 69.

A paisagem urbana de Araguaína, como de qualquer lugar do mundo é reflexa da cultura de seu povo. O governo quando participa legislando e executando as leis técnicas e urbanísticas de uma cidade qualquer, faz a diferença para melhor. Quer dizer, em nosso país se criou uma cultura de que toda e qualquer problemática que existe em qualquer lugar é de responsabilidade do poder público, no entanto, há alguns problemas que a população tem culpa. No caso de Araguaína, a população responsável por grande parte de seus problemas urbanos.

Como o processo de reprodução espacial articula-se no plano da reprodução da vida, é preciso considerar o ponto de vista do habitante, para quem o espaço se reproduz enquanto lugar onde se desenrola a vida em todas as suas dimensões – o habitar e tudo o que ele implica ou revela. O viver em um lugar revela enquanto constituição de uma multiplicidade de relações sociais como prática espacial que está na base do processo de constituição da identidade com o lugar e como o outro e que foge à racionalidade homogeneizante hegemônica (imposta pela sociedade de consumo), que define um tempo e um modo de uso. Aqui se revela a dimensão do diferente, aquilo que tem capacidade de engendrar usos criando conteúdos diferenciados a partir de formas espaciais dominantes. Esse comportamento que foge ao programado se liga a ideia do espaço apropriado para a realização dos desejos, isto é, lugares re-apropriados para outro uso sem a intermediação da propriedade privada ou das normas impostas pelo poder político – cujo caso mais marcante se refere as forma de uso da rua. CARLOS. 2002 p. 182.

A cidade possui um plano diretor mais sua efetivação enquanto tal é algo que não existe. Inclusive, é interessante observar que a cidade ainda não possui um anel viário. As ruas são tortuosas e estreitas e se isto não bastasse o respeito às normas de trânsito é algo que não existe, fazendo com que, pessoas que gostar de andar/trafegar de forma correta, sofram muito mais ainda.

Entender o discurso como uma forma de agir sobre o mundo nos leva a refletir sobre a capacidade dos discursos de reproduzir ideias e cristalizar práticas sociais. Dessa maneira o discurso não é neutro, ao contrário, é ideológico e coercitivo, representa e comunica unilateralmente as ideias dominantes, por isso é intencional e persuasivo nas suas diferentes escalas (disciplinares homogeneizadores e até mesmo ordinários). ARRAIS, 2001.p. 179.

A paisagem do espaço urbano está muito ligada à cultura de seu povo. Essa cultura geralmente é adquirida da classe dominante e por isso não dá para entendê-la sem observar o conteúdo histórico da formação do espaço geográfico em si.

O homem cria, com o desejo, com a vontade de construir uma paisagem ideal, na qual possa reconhecer as sua história, sua cultura. O desejo cria imagens, que são instrumentos de estudo e para construir novos territórios. A paisagem significa estas imagens do real ou do próprio imaginário (científico e/ou artístico), o que revela, simultaneamente, uma forma de ligação da paisagem com o território, como abstração e representação no desejo por novas paisagens e na projeção do futuro. Porém, a paisagem não significa o aparente, o sensível do território; é sentida e representada. SAQUET. 2007. p. 145.

A produção/construção da paisagem humana do espaço geográfico de qualquer lugar vai obedecer aos desejos, sonhos, emoções e razões dos cidadãos que participam dela além de tudo aquilo que já discutimos ao longo deste artigo. Quer dizer, essa paisagem vai estar impregnada dos próprios elementos retirados da natureza, a própria cultura de seu povo, o aspecto cultural, a política direta ou indireta dessa ocupação, o agir, sentir, ser, estar de quem está construindo está paisagem, a ideologia impregnada no modo de produção vigente naquele momento, do próprio processo histórico, enfim, há uma infinidade de elementos visíveis e não visíveis que fazem parte deste todo holístico denominado paisagem. A paisagem urbana de Araguaína não é diferente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir este artigo sobre a paisagem urbana de Araguaína - TO, percebemos que a paisagem não é apenas aquilo que apresenta aos nossos olhos. Entre a paisagem que salta aos nossos olhos e aquilo que ela realmente é de fato, existem forças ocultas impostas pela ideologia dominante que nos fazem acreditar naquilo que vemos sem questionar a engrenagem de sua construção enquanto tal. Ler a paisagem vai muito além de percebermos sua aparência enquanto tal. Ler a paisagem então é no mínimo compreendê-la como fazendo parte de um contexto histórico-geográfico, social, político, territorial, cultural, estético e ético, além dos interesses ideológicos postos em jogo nessa cirando espacial. Não dá para compreender a paisagem apenas contemplando-a. É preciso estudá-la por completo levando em consideração todos os elementos inerentes à sua constituição enquanto tal.

Todo e qualquer estudo que se faça sobre a paisagem urbana de um dado lugar ainda será insuficiente para demonstrar a sua realidade enquanto tal, quer dizer a construção total de uma paisagem urbana ultrapassa o simples estudo sobre ela. O estudo é parco diante da realidade, mas em contrapartida é o que mais se aproxima dela. Dessa forma, entender a formação da paisagem urbana de Araguaína – TO não é apenas discutir a realidade desconectada do mundo que a produziu.

Temos tido vários elementos constitutivos dessa construção espacial que estão distantes deste espaço e que foram decisivos nessa construção. Há a ideologia de ocupação do interior do Brasil que se materializou por meio de políticas de incentivos de ocupação. Essa materialização ocorreu por meio de projetos que o governo federal criou como mecanismo prático dessa ocupação do cerrado do interior do país.

Ao lado desses projetos ou concomitantes a eles, o governo também interiorizou a capital do Brasil no Planalto Central, além de abrir grandes rodovias que cortavam o país de norte a sul e leste a oeste. Além disso, o governo deu todo apoio logístico no que diz respeito à biotecnologia/biogenética para que os grandes empresários se sentissem atraídos para virem para o interior. O cerrado, dessa forma, recebeu um contingente enorme de pessoas vindas dos vários cantos do país para que o incorporasse ao modelo capitalista de produção. Araguaína – TO está neste contexto, ou melhor, faz parte deste contexto. Significa dizer então que sua paisagem urbana possui é oriunda de outros lugares bem distante de ti.

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Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 07/03/2023
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