TEM OS OLHOS DO PAI E O NARIZ DA MÃE.

É impressionante ouvir as seguintes expressões com a maior simplicidade ao ver um recém-nascido num berçário, nos braços de seus pais ou de outros familiares:

-“Oh, que lindo bebê!”.

- “Que bonitinho!...”.

- “Que gracinha!”.

Até aí tudo bem. Nada demais. São expressões totalmente lisonjeadoras e aceitáveis. Porém, o tipo de mentira inofensiva acontece quando, querendo agradar aos pais ou a terceiros, em seguida as mesmas pessoas complementam:

- “Tem o narizinho do pai” ou “Tem os olhos da mãe!”. E assim, sucessivamente. Como se não tivesse outra coisa para falar, arruma estas evasivas costumeiras e tradicionais, tentando agradar às pessoas da família daquela criança. Tantas bajulações que, na verdade, passam até despercebidas e até relevadas.

Ora, pensando bem, se isto fosse mesmo verdade, o indefeso bebê em questão, já nasceria sem fisionomia própria e sim com aquela que cada pessoa que o vir pela primeira vez arruma pra ele. Ainda bem que o “homenageado”, quase sempre dormindo ou então chorando, não será capaz de captar nenhum destes comentários “elogiosos”, para não dizer, bajuladores. Mesmo que

estivesse acordado daria no mesmo, ou seja, não entenderia patavina do que estariam falando ao seu respeito.

Parodiando o escritor russo Tolstoi poderia escrever o seguinte: Todos os recém-nascidos se parecem entre si; já o adulto, no afã de agradar, cada um bajula à sua maneira, mudando apenas as expressões.

E este tipo de mentira inofensiva acontece em qualquer parte do mundo diariamente. Duvido que alguém consiga mudar este modo de agir das pessoas. É como se fosse uma atitude automática do ser humano. Pode mudar muita coisa no mundo, porém este tipo de lisonja, ou seja, este comentário com relação a um recém-nascido continuará infinitamente imutável.

Qualquer pessoa de bom senso há de concordar que quase todos os recém-nascidos, ou seja, com raríssimas exceções, quando não nascem com alguma deficiência explícita, não parecem com adulto nenhum, a não ser com relação apenas à cor da pele ou do cabelo. Mesmo assim ainda há divergências, pois com o passar do tempo muitos detalhes podem sofrer alguma metamorfose. Afinal, dizer com todas as palavras com tanta convicção: “Nossa, tem a cara de fulano ou sicrano!”, é um exagero muito grande, para não dizer, uma mentira inofensiva que perdurará para sempre, feliz ou infelizmente. Será que da próxima vez quando você se deparar com um recém-nascido falará apenas que bonitinho, que gracinha ou apelará para a usual mentira inofensiva, dizendo: “Tem a cara do pai ou da mãe”, “tem o nariz ou a boca de sicrano”? Não se preocupe também se falar será o mesmo que enxugar gelo, isto é, não vai alterar em nada naquele momento. Os pais do bebê podem até discordar, e geralmente isto acontece, mas por educação simplesmente relevam tais “elogios”.

OBS: Excerto do meu primeiro livro MENTIRAS INOFENSIVAS E PARADOXOS CORRIQUEIROS.

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 19/02/2023
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