QUANDO O MAU SE TORNA BOM – Eclesiastes 7.14

 

“No dia da prosperidade, goza do bem; mas, no dia da adversidade, considere em que Deus fez tanto esse como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele”.

 

O texto salomônico usado por mim é  proposital, e você entenderá o porquê. Também há um adágio popular muito conhecido e usado por muita gente que diz: que “há males que vem para bem”. Algumas pessoas, para torná-lo um pouco mais sofisticado, dizem-no, um “mal necessário”. Outro dia estava assistindo, na TV, um documentário, é uma moça que estava sendo entrevistada, à certa altura da entrevista disse: “eu não creio nesse ‘mal necessário’. Não acho que para você estar bem, necessariamente, tenha que passar uma situação ruim”. Tenha que sofrer! Achei interessante o ponto de vista dela e até aceitei sua explicação como plausível. Concordo também que ninguém precisea passar por uma situação ruim apenas para superestimar o bom resultado. E, é claro também, que nem todos os males se tornarão bons. Nem sempre é preciso que aceitemos uma situação má como sendo indispensável para obtermos um gran finale; todavia, insisto em acreditar, defender e aceitar que há males que vem para o nosso bem. Poderíamos citar várias situações em que o mau se torna bom.

 

Malhei durante um bom tempo em uma academia em minha cidade, de segunda a sexta-feira; e, fazendo uma análise dos acontecimentos ali,  pude perceber que há alguns aparelhos com certos tipos de exercício que são horríveis de se fazer. Procurei sempre os melhores e mais fáceis para fazer meus exercícios sem grandes sofrimentos; então, o quanto podia, fujia daqueles que a meu ver, eram ruins. Mas, visceralmente entendi, que os aparelhos e exercícios físicos detestados e estigmatizados por mim como sendo “maus”; são, na verdade, aqueles que mais me proporcionarão bem-estar e “bons” resultados. O mau se torna bom. 

 

Abrindo nossas Bíblias no livro do profeta Isaías vemos que Deus, em Sua onipotência, sustenta o Seu poder sobre dois polos fundamentais da realidade, o bem e o mal. Esta duas realidades nos serão efetivas até ao tempo da vinda do Seu Filho Jesus Cristo, quando seremos de todo arrebatados deste mundo mau! Aí haveremos de ir para um lugar de uma só polaridade: o bem! Somente no céu o bem será dissociado do mal, porque lá é a habitação de Deus. Esses dois polos da realidade, mencionados por mim, nós os encontramos no livro da gênese do mundo “... haja luz; e houve luz. E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas” (Gn 1.3-4), entre dia e noite. Novamente Deus, por boca do profeta Isaías fala: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faz todas as coisas” (Is 45.7).  O mal e o bem são o fiel da balança para o livre arbítrio. Todas as nossas escolhas são pautadas nesses dois polos, e elas, nossas escolhas, determinarão o nosso fim, se bom ou mau. Se não houver noites, não haverá, todos os dias, o nascer do sol.  Se não houver os dias “maus” não haverá os dias “bons”, pois, como saberíamos se os dias são bons se não conhecêssemos os dias “maus”? Paulo falando sobre a lei e o pecado diz: “a lei é pecado? (ruim). Ele responde: “De jeito nenhum”! Eu não teria conhecido o pecado, senão fosse a lei”. Paulo esta aludindo ao ponto negativo que estava sobre a lei de que ela era ruim, pois, ela, despertava na humanidade as paixões pecaminosas. E agora ele diz que, o estigma negativo que estava sobre a lei não pode tirar dela o seu valor merecido e, depois, de discorrer sobre todo o tema, conclui: “a lei é santa e boa”! Nesse caso, um mal necessário. O mau se torna bom!

 

O fato é que em toda Bíblia e em nosso viver, encontraremos esses dois polos: “Vê que proponho, hoje, a vida e o bem; a morte e o mal” (Dt 30.15). Benção e maldição, morte e vida. Tempestade e bonança. Choro à noite, alegria pela manhã! É isso. Muitas vezes viveremos dias “maus”. Dias tenebrosos, terríveis e intermináveis que se abatem sobre nós e, que, na maioria das vezes, nos faz murmurar, praguejar e amaldiçoá-los. Talvez você esteja vivendo dias assim. Quem sabe não escrevo para alguém que está no centro de um furacão vivendo dias maus e, talvez, não esteja suportando mais tanto sofrimento. As forças já se esvaíram em você e buscas uma resposta para tudo o que está lhe acontecendo no momento. Deixe-me dizer algo a você! Deus está no controle. Esses dias maus, ou esse mal que lhe abate, pode lhe ser necessário. A palavra do Senhor diz que Ele tem os Seus caminhos na tormenta. Nem sempre o mal será mau, pois, sempre haveremos de tirar algo de bom dele; e é Deus, em sua soberania, que decreta tanto um quanto o outro. Moody vai dizer que “considerando que nossas vidas estão seguras pelo punho de ferro de Deus, tanto o dia da prosperidade como o dia da adversidade foram por ele determinados. Portanto, que o homem aproveite ao máximo, o que a vida pode proporcionar” (Comentário bíblico Moody p.16). Nos dias maus, entenda que Deus está provando a sua fé. Não pense que Deus desistiu de você por conta dos dias maus em que você esta vivendo. C. S. Lewis, um grande Cristão do século passado, disse: “Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; esta é seu megafone para despertar um mundo surdo”. Deus sabe que você sofre dores de parto, que você está atravessando dias maus e noites tenebrosas, todavia, Ele te vê e se levantará ao seu favor. E quando você sair deste momento mal, você verá quanta coisa boa você tirou dele. Crescimento, perseverança, firmeza de propósito, humildade, bondade, compaixão; enfim, você sairá uma pessoa muito melhor do que é agora. E o Senhor te honrará. É o que promete a Sua palavra, a bíblia sagrada. Os dias maus, é o processo que Deus usa para nos levar ao crescimento. Se Deus não tivesse permitido que José fosse vendido pelos seus irmãos, ele teria chegado ao lugar que chegou quando esteve no Egito? Se Deus não tivesse conduzido Moisés ao deserto, ele não teria sido o libertador que foi? O mau, muitas vezes, é a lixa que de Deus usa para tirar os excessos de mal que há em nós; é a tesoura do agricultor podando a videira para que essa possa frutificar; é o aperto no couro da percussão para poder produzir o som desejado; é a distensão da corda para a ser afinada, é corte do escultor na pedra para lhe dar forma. O mal que no sobrevém, muitas vezes, é o amor de Deus demonstrado por nós. Precisamos ver o amor de Deus em nossa vida; tanto nas coisas que nos causam alegrias quanto naquelas que nos causam tristezas.

 

Um pai perdeu sua filha única. Tinha apenas dezessete anos; fora à luz e a alegria do lar. Pouco tempo antes, sua estremecida esposa partira para o descanso. O ministro veio dizer-lhe palavras de conforto. Meu amigo – começou ele – o irmão acaba de passar através de uma nuvem escura, e amarga é a sua taça. O enlutado interrompeu-o: pastor é verdade que tenho sofrido bastante. Meu coração está moído de dor, mas não houve nuvem alguma; por tudo-nada houve que se interpusesse entre mim e meu salvador. Jamais sua mão confortadora foi tão terna como através do que me sobreveio esta semana passada. Sofrimento, sim, mas nenhuma nuvem!

 

Louvado seja Deus! Nossa leve e momentâneo “dia mau” pode produzir um peso eterno de glória excelente. O dia mau pode nos conduzir para mais perto de nosso Mestre. Pode ajudar na formação do nosso caráter, fazendo-nos mais semelhante ao nosso grande Exemplo, Jesus. Nosso grande sofrimento é por um instante, aqui. Os resultados podem ser uma gloriosa eternidade na pátria dos remidos.

 

Gostaria de concluir com as palavras de alguns sábios ao longo da história sobre a provação e o sofrimento na vida do crente. Algumas vezes Cristo vê que precisamos da doença para o bem de nossa alma do que da cura para o alívio de nosso corpo. (Comentário - Matthew Henry). O período de enfermidade é um tempo de purificação para aquela contaminação que havíamos em nossa saúde… Uma boa doença tende a produzir a saúde da alma. (Richard Sibbes). 

 

Que o Senhor nos dê graça para suportarmos os dias maus, sabendo que os dias bons estão perto de aportarem no cais de nossas vidas e, que saibamos aceitar este, e aquele. Amém!

 

 

Autor: Jeovan Rangel