Não foi castigo divino

A morte do ex-ator Guilherme de Pádua, condenado pelo assassinato da atriz Daniella Perez, com quem contracenava na novela De corpo e alma levou muitos a falarem sobre a questão do castigo divino, dizendo que sua morte, decorrente de um enfarte fulminante, foi um castigo de Deus. Será que foi mesmo? Então a morte é um castigo? Mas se assim fosse, não era para apenas pessoas más adoecerem e morrerem? Podemos dizer que Guilherme de Pádua foi castigado?

Assim como aconteceu com Guilherme de Pádua, também acontece com muitas pessoas que nunca fizeram mal a ninguém. Com certeza, no mesmo dia em que ele morreu, outras pessoas devem ter morrido de ataque cardíaco fulminante e deviam ser pessoas boas e decentes. E o que falar de pessoas que não morrem instantaneamente de enfarte mas desenvolvem doenças como o câncer ou esclerose lateral amiotrófica, que levam o portador a sofrer muito antes de morrer? Para o câncer, ainda há esperanças de cura, mas não para a segunda doença, que incapacita aquele que é acometido dela. Uma pessoa pode até se curar de um câncer mas passa por um longo e sofrido tratamento. Tantas pessoas que desenvolvem câncer estão sendo castigadas por algum pecado que cometeram? Vejamos os casos de crianças que nascem com doenças congênitas ou morrem de câncer. Não dá para dizermos que elas adoeceram e morreram por castigo divino, não é?

A morte virá para todos nós um dia, seja por acidente, velhice, doença, de forma repentina (como houve com Guilherme de Pádua) ou por qualquer outra causa. Tanto pessoas boas como más podem morrer de forma trágica e/ou dolorosa. Não dá para dizermos se tal pessoa morreu por castigo ou por um suposto desígnio divino até porque nada sabemos sobre os supostos mistérios espirituais.

Guilherme de Pádua era obviamente um psicopata que cometeu um crime monstruoso que marcou a história da justiça brasileira, mas não temos como dizer se sua morte foi ou não uma punição, um meio que Deus teria encontrado para puni-lo por ter matado Daniella Perez com a ajuda da sua então mulher, Paula Thomas. Se há mistérios espirituais, e com certeza deve haver, não sabemos quais são. Assim, não podemos dizer que as coisas que acontecem nesta vida aconteceram com um propósito. Ninguém deveria falar como se fosse dono da verdade e, com certeza, a morte de Guilherme de Pádua não foi um castigo divino.

Tomemos cuidado e não fiquemos falando como se fôssemos donos da verdade, pois a gente só pode dizer que algo é verdade quando isso foi comprovado. No fundo, dizer que tal coisa aconteceu por castigo, imposição ou propósito divino não passa de um mero achismo.