“Não abandones a lealdade e a fidelidade. Guarde-as sempre bem gravadas no seu coração” (Provérbios 3.3).

 

Singrando a nau sobre águas agitadas do meu pensamento, absorto, pervagando sobre a história da humanidade percebo que a palavra fidelidade vem perdendo a sua conotação ao longo da minha odisséia cerebrina, conquanto, nalguns pontos do trajeto, eu antevejo que ela já tenha caído em descrédito, e agora, já bem próxima á nossa realidade, eu a veja em desuso. Já não cabe mais nalguns seguimentos sociais, pois, perpassa a todos eles e, ainda que a procuremos de lupa em punho mesmo assim, não a encontraremos. A humanidade, ao longo de sua história, tem perdido os valores mais comezinhos que norteiam a vida humana. O mundo tem evoluído sobre muitos aspectos noutros, tem regredido em célere marcha. Parece-me que há uma urgência pela conquista generalizada da depravação e ruína global, e caminhamos para isso, porque, quando se remove colunas principais de sustentação em uma edificação qualquer não se pode esperar outra coisa, se não, o degringolar da obra. Arrepanhar marcos do passado que evidenciam a história, é destruir o futuro. É acabar aos poucos com qualquer esperança de um mundo melhor. Não há futuro para esse mundo, pois os homens têm removido muitos pilares que serviam de sustentação para ele. Fidelidade é parte deles. Pilares impõem limites, assinala acontecimentos e garante sustentação. Se os arrancarmos, o resultado será apenas, ruínas. E já foram muitos arrancados, e dentre eles, o marco da fidelidade.

 

Não há mais fidelidade hoje em dia. Não se fala mais em fidelidade e não se vive mais em fidelidade. Há apenas algumas nuances aqui e ali, mas nada digno de consideração ou que possa fomentar em nós algum tipo de esperança. Acabou a fidelidade conjugal; a fidelidade à família, pais, filhos. Exauriu-se a fidelidade partidária, ao time do coração, ao artista preferido. Esgotou a fidelidade à igreja, à convenção, ao pastor, ao padre  ou à qualquer liderança. Não há mais, nem mesmo, fidelidade a Deus. A fidelidade Morreu!

 

Os homens estão no terceiro, quarto divórcio. Os sacerdotes não fazem mais a celebre pergunta: “promete se fiel vivendo uma vida somente para ele, ou ela”. Não há mais como fazer tal pergunta. É comum hoje, os artistas hollywoodianos casarem-se estipulando multa de milhões de dólares para o infiel, por que ninguém mais se sente seguro. Os políticos trocam de partido com a mesma frequência que trocam de cueca. Foi preciso criar uma lei de fidelidade partidária para que eles não ficassem pulando de partido como macacos pulam de galho em galho. Fidelidade hoje tem que ser assim, compulsório. Trocar de time? Os meninos hoje à primeira derrota do seu time de coração, eles dizem: vou mudar! E mudam mesmo. 

 

Fidelidade à igreja acabou! Os cristãos vivem de igreja em igreja procurando uma que lhes vista como luva e que não lhes cause gastura ou incomodo algum. Os crentes de hoje não querem ser abodegados. Eles querem igrejas e líderes que lhes atendam os anseios acobertem os erros massageando-lhes o ego. Fidelidade ideológica doutrinária e teológica é coisa do passado. Ortodoxia? Isso eles nem sabem o que significa e nem querem saber. Há vinte anos, quem poderia imaginar um crente presbiteriano tornar-se Assembléiano com tanta deferência, como ocorre hoje? Um Batista CBB tornando-se um neopentecostal com tanta simpatia, ou, um Assembléiano tornar-se Testemunha de Jeová? Nunca! Era inadmissível. Encontrar um Metodista, Arminiano, completamente confortável dentro de uma igreja presbiteriana ouvindo mensagens Calvinistas, hoje, é algo prosaico, comum. A coisa ficou banalizada. Sabe por quê? Porque o povo se tornou infiel. Infidelidade está como uma praga, em todos os lugares! O povo já não tem fidelidade nem a si mesmos, quanto mais, àquilo que dizem acreditar. Por isso e que vivemos essa alaúza toda no meio dos crentes. Não existe mais conversão nas igrejas, pois, os incrédulos não encontram razão para crerem no cristianismo pobre e achatado. A mensagem pregada pelos crentes não convence mais nem a eles mesmos, quanto mais, aos outros. O que existe hoje nas igrejas é o que alguns já estão chamando de adesão. Crentes e incrédulo aderem a uma determinada igreja, mas não mudam de vida. Não querem compromisso com ela, pois compromisso gera fidelidade. Não tendo compromisso, não tem fidelidade; não tendo fidelidade, na hora que eles querem, viram as costas e vão embora sem sequer acenarem as mãos! Gente que quer ser solto na vida para não ser cobrado, não ter que prestar contas a ninguém. Eles são “Livres” para fazerem de suas vidas o que bem entenderem. Não mudam o caráter porque não querem, pois, nunca houve o lavar regenerador de Deus em suas vidas para os transformarem em novas criaturas e, arrependidos, se convertam e sejam salvos. Infiéis! Cansa-nos viver com eles!

 

Precisamos resgatar essa palavra em nosso vernáculo e fazê-la novamente ganhar vida na vida das pessoas. Que Deus tenha misericórdia desse mundo tenebroso que a cada dia tem seus pilares de sustentação arrancados acelerando a sua ruína total. Que nós sejamos mudados através de nossas decisões. Sejamos fieis. Deus quer que nós sejamos fieis em tudo e a todos, pois, Ele é Fiel a nós! Amém!

 

                                                  Autor: Jeovan Rangel