Carta para um amigo Naro
Caro Amigo
Eu sei que você não está bem. Eu te conheço há muito tempo. Eu sempre te respeitei. Sei das suas fraquezas, das suas angústias, das suas qualidades, das suas vitórias e seus sonhos; afinal, nós sonhamos juntos várias vezes, mas você acreditou que um movimento político - religioso fosse maior que nossa história de amizade.
O intuito desta carta não é de provocar de forma alguma. Eu tive oportunidade de fazer isso e não consegui, pois eu sei que tudo vai passar e podemos ainda ser amigos.
Eu não te abandonei nunca no passado, amigo - e nem você me abandonou.
Hoje te vejo pela televisão queimando pneus numa manifestação sem liderança e sem ideologia, e fico sem saber o que fazer, por que ainda te amo. Te ver defendendo um movimento nada político, me assusta. Tivemos tanta vontade de mudar o mundo e hoje vejo você botando fogo ao invés de apagar - Isso dói amigo!!!
- Você lembra de 1992?
- Colégio São José, lembra?
Tínhamos 15 anos e éramos tão sonhadores. Você me ajudou tanto. Sempre foi mais forte e me protegia. Você sempre foi muito parceiro e protetor, mas hoje vejo você usando seus músculos para agredir inocentes.
A carta não é lição de moral - sempre gostei de escrever - eu precisava refrescar sua memória, pois sei que está doente.
Todos os terapeutas estão preocupados com a violência virando questão de Saúde Pública, eu te avisei disso - Você não me ouviu.
Sua esposa acabou de ligar para mim dizendo que você matou serviço para ir a manifestação. Disse também que está impossível sair como você pela rua devido sua revolta que só aumenta.
Meu amigo! Por que?
Veio, onde você quer chegar?
Que história é esta que você deu cloroquina para sua mãe escondido por seis meses?
Como assim parceiro?
Cadê aquele revolucionário que no show do Mamonas Assassinas em Juiz de For gritava: A direita é podre!!! Eu me lembro bem- e hoje meu coração sangra te vendo do lado da direita, ou melhor, da extrema direita.
Por que se interessar pelo vida sexual dos gays, se você era o comedô da faculdade?
Por que garoto?
Que papo é este de intervenção militar, rapaz? Você está usando cocaína? Não era maconha e cerveja? Não possível que agora você também toma wisk vindo do suor de trabalhadores explorados por seus novos amigos fascistas.
Cadê aquele jovem vestido de vermelho gritando na Avenida Paulista : " Os cheiradô do Planalto fode o Brasil!!!!
Cadê?
Eu não tiro a razão sua em decepção contra o Lula, PT, ou qualquer ameaça vermelha, que você sabe que não existe. A questão é humana, amigo.
Nós já dormimos em Movimento Sem Terra? Você lembra?
Vou refrescar sua memória: São José dos Campos, 1996, Jardim Paulista, São José dos Campos, saímos da Rua Sergipe, da casa do Gordo. Você carregava as bandeiras. Parece um djavu, você distribuindo bandeiras do PT no comício. Você ficou tão feliz quando conheceu a Marta Suplicy.
Lembra disso? Eu era fã da Luiza Erundina e você, da Marta.
No MST você cozinhou a noite toda, lembra?
Você era um jovem tão sonhador e tão defensor dos excluídos, e hoje, você está aumentando este quadro de diferença social.
É triste amigo. Está muito difícil te ajudar. Sua família está cansada de sofrer pelo seu fanatismo. Seus dois filhos estão tristes vendo o pai vestindo o manto da irracionalidade. Seu filho mais velho me disse que você assiste Joven Pan o dia todo.
Como assim?
Há três anos atrás ficamos a tarde toda falando do Tutinha. Lembra que você me disse: Amigo, o Tutinha é o verdadeiro Lulinha que nunca existiu.
Lembra?
Por que você não começa a lembrar daqui para frente?
Estes dias sua irmã me mandou uma foto nossa da eleição de 1994, Avenida Dr Lisboa, Pouso Alegre, lembra?
Apartamento 601, nós picando papel vermelho para jogar da janela na eleição.
Lembra que tínhamos amigos da direita? E convivência era saborosa? Era engraçada? Intelectual!!!
Lembra que o PT perdeu e mesmo assim jogamos os papeizinhos? Era papel vermelho e azul e ficamos juntos e no dia seguinte a vida continuou normal.
Então amigo, o que você fez? E por que continua fazendo?
Não é Lula. Não é PT. Não é nada, é você!
Você aderiu a um movimento cruel e suicida e não quer admitir o que sempre defendeu: a democracia.
Eu tenho muita saudades do amigo contra tudo que hoje você faz. Eu estou muito preocupado, afinal estou te escrevendo.
Você se afastou de mim por causa de um cara louco.
Você colocou o Bolsonaro a minha frente, pessoa na qual você tinha orgulho de dizer que era seu melhor amigo.
Você colocou o Bolsonaro a frente do amor da sua mãe quando deu cloroquina para ela escondido. Você colocou a saúde da sua mãe atrás do amor que sua fragilidade sente pela doença de um político doente.
Você está doente parceiro!
Você está distribuindo mensagens boicotando comércio. Olha a maldade, meu caro. Você pode ser preso.
Não existe preocupação com as necessidades que estes comerciantes passarão, por causa da sua doença. Você virou um criminoso e está destruindo sua família.
Você deu as costas para seus amigos do clube de campo, da caxeta, futebol..Hoje você posta fotos com armas e não percebeu que sua família é desarmentista.
Desculpa mesmo a audácia, mas há três anos que não falo com você e sua família pediu minha ajuda.
Falando em ajuda. Te contar uns segredinhos; durante a pandemia, foi aqui que seu filho mais velo veio malhar. Foi eu também que acalmei sua filha quando você escondeu o filho dela, seu neto, para não ser vacinado. Não era uma amiga que ia caminhar com sua esposa todas quintas, era eu. Era eu que ouvia seus desvaneios disfarçado de discurso político; e para finalizar, foi eu que denunciou aquela mulher que você pagou um aborto e estava te ameaçando.
Para você perceber, eu nunca te abandonei.
Mais uma vez eu repito: estou nem aí para seu lado político, só me acho dígno de te dizer que seu ódio é patológico, irracional e cruel.
Seu Amigo