Decepções

De decepção em decepção a paciência do brasileiro vai cambaleando. De um lado a classe política mergulhada na mais abjeta vala da corrupção e da desfaçatez. De outro, juros, impostos e tarifas que oneram o povo sem dar trégua. Também aqueles que deveriam administrar a coisa pública têm se mostrado incompetentes ao extremo, levando os eleitores à perigosa suspeita da existência de um maniqueísmo que se alterna entre desonestos e incapazes. É certo que existe gente boa, mas que, por não fazer nada para mudar o quadro, nivela-se aos maus.

Os descaminhos se manifestam em todas as esferas do poder nacional. Há uma distorção gritante a serviço da política, como a junção do Estado (que é do povo) com o Governo (que é político, transitório e pertence ao partido) e a Administração (que é técnico-política). Quem juntava essas três coisas eram os absolutistas, a partir de Luis XV (“L´Etat c´est moi”). Com essa confusão o Estado perde a autoridade, o governo a credibilidade e a administração a eficácia. E perde, sobretudo o povo.

Pobre Congresso!

Primeiro foi o escândalo não só do Renan, mas dos que foram coniventes com sua safadeza. Por último, a prostituição da Câmara em aprovar a CPMF em troca de favores. Uma contribuição destinada à saúde que é aplicada em tudo, menos no que devia, é 171. É lamentável!

E as promessas da Governadora?

A Governadora do Rio Grande do Sul disse em campanha (e agora nega) que não ia aumentar impostos. Ela foi eleita unicamente porque o eleitor confiou nessa promessa. Todos os governadores recebem o cofre raspado, e no segundo ano (exceto Rigotto) já dão sinais de recuperação. De tudo isto eu concluo: ou Yeda não sabia do déficit, revelando que não estava preparada para governar, ou sabia e se fez de morta “para ganhar sapato novo”, praticando o que, em Ciência Política se chama de um “estelionato eleitoral”.

Cassados e por cassar

A imprensa publicou que, em sete anos, foram cassados 623 políticos, dentre esses 508 na esfera municipal: Prefeitos, Vices e Vereadores. Deve haver mais gente por cassar, especialmente naquelas localidades em que o Prefeito, por maioria na Câmara, passou meio frouxo em seus deslizes. Resta o braço da Justiça, que tarda, mas não falha. Incluem-se aí muitos vereadores, daqueles que desperdiçam o dinheiro público com viagens, diárias e pagamentos de estagiários, coisas que não contribuem para o serviço público. Os superfaturamentos de material escolar, computadores, merendas e remédios também passam por aí.

Na Educação

Os formados em Licenciatura ficam longe das salas de aula. Levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), do Ministério da Educação, mostra que 71,2% deles não atuam no magistério. A fuga atinge a Educação Física, a Educação Artística e a História. Não há déficit de mestres. Para 15 milhões de alunos precisaria haver 725.991 docentes. Mas há 1.049.099 em exercício. Outros profissionais e professores sem formação específica se habilitam para a função em disciplinas carentes, enquanto há muitos professores fora da sala de aula.

O autor é filósofo, escritor e ex-professor de Formação Social e Política

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 03/12/2007
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