ESCREVENDO UMA COLUNA
No princípio, nunca é o verbo, mas a folha em branco ou a página aberta no computador esperando um tema. O colunista pensa e repensa. Seria sobre a fome? Há 33 milhões de famélicos no país hoje. Seria sobre leitura? Os brasileiros leem tão pouco e, talvez, por isso, sejam facilmente manobrados pelas elites que lhe impõem gosto e clichês. Seria sobre esporte? É tão importante que as crianças e os adolescentes tenham a oportunidade de praticar uma modalidade esportiva. E o Brasil tem acanhados resultados em competições internacionais pela falta de investimento.
Seguimos na interrogação. Seria sobre a fraca moralidade pública, que gera indiferenças, rachadinhas e sigilos de cem anos? Bem se vê que valores que seriam republicanos não recebem a devida atenção. Tem até um candidato ao governo do RS famoso por apresentar notas frias para amealhar recursos que vêm do bolso dos mais pobres. Seria sobre saúde? Tanta gente sem conseguir um atendimento decente no Sistema Único de Saúde (SUS), que faz o que pode diante do sucateamento de sua estrutura tão necessária. Seria sobre os idiotizados que pregam contra as vacinas? Há décadas e décadas, a imunização vem salvando vidas e aumentando a expectativa de vida da população.
A indagação continua. Seria sobre mortes no trânsito? Os sucessivos governos encheram as estradas de caminhões e não dão atenção para outros modais, como ferrovias e vias hídricas. Seria sobre os idosos? A nação está cada vez mais envelhecendo e condenando a terceira idade a uma vida análoga à escravidão, sem remédios, aposentadoria, nutrição adequada, segurança doméstica, sem nada. Seria sobre discriminação social? Negros, índios, PPDs e outros menos lembrados são tratados como cidadãos de terceira classe.
A dúvida se dissipa. Não há falta de assunto neste país. O que falta é termos governantes que não sejam meros aproveitadores da riqueza da sociedade. Como conseguir isso? Aí reiniciamos as interrogações.
Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 23.9.2022.
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