Nenga do mingau
Por: Edna Ferreira e Valdeck Almeida
Uma morena brejeira, de olhos amendoados e sorriso largo. Assim é Maria Raimunda de Jesus Costa, popularmente conhecida como “Nenga do mingau”. Esta baiana de 46 anos, natural da cidade de Conceição do Almeida, faz sucesso na sua barraca de lanches, localizada na avenida Centenário, na frente do 5º Centro de Saúde do Estado.
Maria Raimunda é casada, tem três filhos, e veio para Salvador aos 7 anos de idade. Antes de se tornar vendedora, trabalhou como empregada doméstica, mas logo descobriu seu lado empreendedor, apesar de só ter estudado até a quarta série primária.
Após o nascimento dos filhos, veio a necessidade de ajudar nas despesas. Assim, surgiu a idéia de fazer bolos e mingaus, já que isso ela sabia fazer muito bem. Nenga começou seu empreendimento na porta de casa, acompanhando as atividades que o marido já desempenhava. Ele vendia cigarros, balas e refrigerantes num tabuleiro e ela acrescentou os seus quitutes à lista de ofertas.
5° Centro
Há 24 anos Raimunda tem uma barraca autorizada pela prefeitura, na entrada do centro de saúde. Ela mora hoje no Garcia, numa casa de dois andares e tem orgulho de ter ampliado o imóvel graças ao trabalho como ambulante. “No começo era um barraco. Não dá pra ficar rico, mas dá pra sobreviver”, diz ela.
A barraca de Nenga tem de tudo para um café da manhã: bolos variados; mingaus de milho, tapioca e carimã e arroz doce; cafezinhos (puro ou com leite) e chá de erva cidreira (muito procurado).
Hoje, toda a família de Raimunda está envolvida no comércio. Ela cuida da produção dos alimentos juntamente com uma prima. Um dos filhos, Fabrício, 18 anos, trabalha com um carrinho de café. O outro, Fábio, 24 anos, ajuda o pai na barraca durante o dia. O mais velho, Flávio, 26 anos, “está na Itália, onde foi trabalhar e estudar”, ela faz questão de lembrar.
A rotina de Nenga é acordar todos os dias às 4 horas da manhã e terminar os preparativos já adiantados na noite anterior. Às 6 horas, ela já está no ponto de vendas, onde fica até às nove, junto com o marido,. A partir desse horário, Nenga sai para fazer o almoço da família e para comprar material para as vendas do dia seguinte. O marido, Flávio Sobral Campos, 54 anos, continua no batente e vai até às 18 horas.
Maria Raimunda afirma que não se sente ameaçada ou incomodada por ninguém. Tem a licença da Sesp (Secretaria de Serviços Públicos) para trabalhar e os vendedores vizinhos são amigos, respeitando o espaço um do outro. Joilson Nunes dos Santos, 40 anos, também vendedor de café e lanches no local, confirma: “o movimento de freguês aqui é bom. Nenga tem a clientela dela e eu tenho a minha. A gente nunca se indispôs por causa da concorrência”.
Um problema de quem comercializa na via pública é o assédio de moradores de rua e outros. “Sempre aparecem mendigos ou deficientes mentais pedindo ajuda. A gente faz o que pode”, diz Nenga. Ela não contribui com o INSS para aposentar-se quando não puder mais trabalhar. Mas se preocupa com isso e diz que vai resolver.
Baixa temporada
Em alguns períodos do ano, Nenga enfrenta dificuldades. “No inverno, a chuva atrapalha um pouco, mas não deixam de existir consumidores. O sombreiro que a prefeitura forneceu não dá nem para cobrir a barraca, tivemos que comprar um maior”, disse Nenga.
No carnaval, por estar praticamente dentro do circuito central da festa, Nenga aumenta a produção de bolos e mingaus, principalmente devido à procura dos alimentos pelos foliões e pelos policiais, que recorrem a uma refeição rápida para repor as energias. Por esse motivo, ela coloca mais duas barracas, uma na Estação da Lapa e a outra nos Barris. Também dá um reforço no estoque de materiais, já que o consumo aumenta bastante.
Além de vender à vista, Nenga ainda tem a famosa “caderneta”, pois alguns clientes são fixos, como é o caso dos funcionários do Instituto Médico Legal (IML), que pagam por mês. Jean Santos, 63 anos, advogado, é um dos fregueses assíduos. “Ela está sempre de bom humor, e o lanche aqui é de primeira. Todo mundo faz questão de parar na barraca para tomar um café, um chá ou fazer um lanche rápido”, declara.
Para Édson Alves Sobrinho, 40 anos, autônomo, “a barraca de Nenga é passagem obrigatória”. Ele é um consumidor fiel. “Meu café da manhã eu sempre tomo aqui, pois saio de casa muito cedo e não dá tempo de comer nada antes”, completa.
O “mingau da Nenga” é tão apreciado que a sua fama já chegou à Brasília. Neide, uma amiga da família, se encarregou de fazer a propaganda, e quando os visitantes chegam a Salvador, vão procurar onde é a barraca da “Nenga do mingau”.
Preços
Salgado/Doce + suco = R$ 1,30
Salgado/Doce + café = R$ 1,30
Salgado/Doce + mingau = R$ 2,50
Contatos com os autores:
Edna Ferreira: emcf2@hotmail.com
Valdeck Almeida: valdeck@hotmail.com
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