NA FUVEST "O PORTUGUÊS É O MOINHO!"

Nós que escrevemos e que somos apaixonados pelo maravilhoso instrumento de comunicação que as letras nos possibilitam, não poderíamos deixar de dar uma olhadela na confecção das questões relativas à lingua portuguesa do vestibular da FUVEST.

Gostaria de tecer algumas considerações.

Bem, em primeiro lugar achei que as questões realmente não apenas abrilhantaram a quem as elaborou, como também corroboraram a assertiva de que a complexidade e a beleza da nossa língua são imensuráveis.

Mas um fato é gritante aos olhos: O nível de dificuldade das questões, ou melhor, a mensuração do conhecimento amplo que os alunos necessitam agregar para a resolução da prova é inteiramente incompatível com o atual conteúdo programático da escolas de ensino médio.E não apenas das públicas.

Observo que mesmo o ensino privado, de escolas tradicionalíssimas na arte de ensinar, está muito aquém do nível de conhecimento exigido pelas questões da FUVEST, O QUE GERA UM CERTO ASSINCRONISMO entre o que se oferece na rede geral de educação nacional e o que se espera de alguém candidato à universitário.

A meu ver, esse é um sério problema sim, não apenas de formação educacional, mas principalmente de manutenção da desigualdade brutal de condições de adentrar uma faculdade pública, ou numa de boa qualidade ainda que privada, sem o oneroso custo dos "cursinhos pré-vestibulares".

Prepara-se melhor, com consequente aumento de chances de aprovação,quem pode bancar os custos da tal "indústria".

Essa é a questão primordial que os "GERENTES DAS DESIGUALDADES" precisariam equacionar.

Mas voltando às questões da prova...foram de encantar.

Um misto de literatura portuguesa e nacional, filosofia, poesia, extensos conhecimentos gramaticais, cultura geral (poesias da MPB),aonde mediu-se com maestria a hablidade de abstração e interpretação de vários conteúdos literários, inclusive na maravilhosa poesia de CARTOLA que tanto admiro, numa das suas composições que considero das mais lindas:"O MUNDO É UM MOINHO".

Apenas me questiono se os vestibulandos ainda tão jovens têm maturidade suficiente para entenderem certas mensagens poéticas, a despeito do seu excelente preparo.

Naquela prova, não há a mínima possibilidade dum "paraquedista"-era assim que se denominava na minha época a quem apenas flauteava nos vestibulares- aterrissar em terra firme.

Concluí, portanto, que IGUALMENTE À língua...a poesia está em alta.

E como disse Drumond, num de seus poemas que também esteve por lá, a vida não se presta à poesia inerte.

É mister que recorramos às ordens da língua e do dicionário.

As palavras estão à nossa espera.

A poesia apenas as tritura-na moagem dos sentimentos- ora em versos... ora em prosa...

Abençoado moinho...

A título de ilustração/Fonte google

O MUNDO É UM MOINHO

Cazuza

Composição: Cartola

Ainda é cedo amor

Mal começaste a conhecer a vida

Já anuncias a hora da partida

Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida

Embora saiba que estás resolvida

Em cada esquina cai um pouco a tua vida

Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor

Preste atenção, o mundo é um moinho

Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos

Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida

De cada amor tu herdarás só o cinismo

Quando notares estás a beira do abismo

Abismo que cavaste com teus pés