O DILEMA DOS VICES
Desde que o mundo é mundo, surgiu uma questão indispensável à vida em sociedade: a figura e o título de VICE. Vice-rei, vice-imperador, vice-presidente, vice-governador, vice-diretor, vice-reitor, vice-coordenador, vice-dirigente, vice-almirante, vice-líder, e tantos outros vices que possamos imaginar. O caso parece esdrúxulo, mas é bem complexo. Por si, vice é um vocábulo que não tem autonomia semântica; precisa de outro substantivo para consolidar-se, para afirmar a sua significação. Quem é vice, é vice em alguma coisa, vice de alguém e por aí afora. Por exemplo, qual o significado do termo vice-campeão para os competidores que amargam derrotas? “O importante é competir?” Experimente dizer isso a um vice-colocado, em meio aos festejos do vitorioso...!
Mas voltando a temática dos vicários, ou seja, dos vices, temos ainda o polêmico caso dos vice-prefeitos, consolidado com a abertura democrática do país. Essas figuras políticas geralmente dão duro durante as campanhas eleitorais. Alguns ajudam - e outros não - a eleger o seu prefeito. Porém, quando chegam ao poder, sempre de carona, fazem valer aquela máxima: “vice é sempre vice”! Aqui em nossa cidade, essa afirmativa é fatidicamente levada a sério. Basta analisarmos que estamos no terceiro mandato após a emancipação político-administrativa. Contudo, tivemos dois prefeitos e três vices. Particularmente, em Gavião Peixoto, não é fácil ser vice! O papel de vice aqui é mais secundário que em qualquer outro lugar do planeta.
É bem sabido que o vice-título, seja qual o for, só surtirá efeito com a ausência provisória ou permanente do seu dignitário. Por isso, para alguns, vale rezar ao santo, fazer macumba, vodu, rogar praga, contar com a sorte, com o destino, com os inimigos políticos e com qualquer outra ajudinha extra para chegarem ao topo, à cena, ao poder do Poder. O vice que nunca pensou ou sonhou com essa hipótese que nos atire a primeira pedra! Mas como dizia, a vice-prefeitura gavionense é tão desdenhada, que já virou mito, folclore. Dizem as más línguas, que organizaram uma disputa na região, para ver em qual cidade o título de vice-prefeito era mais irrelevante e menos coadjuvante.
O caro leitor, com certeza, assim como eu, pensou, claramente, diante das circunstâncias que o município vencedor desse pleito foi o nosso? Por assim pensarmos, mais uma vez, enganamo-nos redondamente. Para surpresa geral dos leitores, segundo essa lenda, Gavião Peixoto, em matéria de legitimidade da indispensabilidade do cargo de vice-prefeito só ficou com a vice-liderança! Quem nasceu para ser vice, viciou...