A ALMA DOS ANIMAIS

     Não é de hoje que ter o privilégio de uma alma é um diferencial neste mundo. Foi por isso que o frei dominicano Bartolomeu de las Casas (1484-1566), na tentativa de defender os índios das atrocidades dos colonizadores espanhóis, professava que eles tinham alma e, portanto, tinham direitos. Os escravos do exército de Espártaco, na Roma Antiga, não eram considerados cidadãos e ainda não tinham alma, pois suas revoltas se deram antes do advento do cristianismo. Associar alma a direitos é um avanço de parcela da humanidade, mas que o fez de forma excludente, preservando as prerrogativas para si e excluindo outros segmentos vulneráveis, bem como outras espécies, como os animais. 

     Há uma frase costumeiramente atribuída a Leonardo da Vinci na qual ele diz esperar um tempo em que cada crime contra os animais seja um crime contra a humanidade. Atualmente, esses seres, principalmente os domésticos, estão protegidos pela Lei 9.605/98, que estabelece penas brandas para os maus-tratos. E isso que a situação melhorou. Agora, pode ser uma condenação por detenção, quando antes apenas uma cesta básica resolvia o problema. Normativamente, os animais estão entre ser coisa e ser humano, num ponto mediano dessa reta. Continuam sendo propriedade, mas já há quem veja neles inteligência emotiva, o que já é um grande diferencial.

     Não quero entrar aqui no tema do veganismo, que considero legítimo. No momento, estou me referindo aos animais aos quais costumamos destinar convívio, como gatos, cães, cavalos e coelhos, entre outros. São esses que para os seus donos têm alma. E, se têm alma, são portadores de direitos, que, desafortunadamente, ainda são insuficientes para garantir seu bem-estar. Agir contrariamente a essa tese é coisa de gente desalmada.

 

   Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 17.6.2022.

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 13/07/2022
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