SEJA VOCÊ SUA PRÓPRIA GALERIA
Acho que é esse, um dos meus pontos de empatia com Van Gogh.
Vincent sonhava com uma cooperativa de artistas em Arles, cada qual oferecendo o seu talento num regime de horizontalidade.
Seu sonho jamais se realizou.
Já naquele século, e no panteão artístico que lhe era afim, reinava a arena de egos, de vaidades. A infinidade de questiúnculas do universo das galerias, e, claro, do prestígio social e financeiro...
Hoje, enxergo um paralelo disso em mais de um nível existencial.
Nas egregoras literárias, filosóficas, e mesmo religiosas. Espiritualistas!
Tempos atrás, ofereci colaboração literária em uma espécie de cooperativa esotérica.
Participação gratuita!
Não ganharia nada, oferecendo de boa mente, e em contrapartida, nada menos do que direito intelectual. Conteúdo. Produção de textos. Por puro prazer de escrever!
À proposta, recebi a estranha resposta de que o direito de participação na dita confraria era restrita aos que "investiram" suor e sangue (leia-se dinheiro!) na criação da confraria.
Como se conteúdo literário de qualidade valesse menos do que quaisquer quinhentos reais.
Mais tarde, quis também ajudar - friso, ajudar, literalmente! - com alguma contribuição financeira uma instituição assistencialista social e espiritual. Outra vez na intenção de apoio; de colaboração pura e simples!...
Novamente fui embarreirada. Teria que provar ter participação efetiva nas atividades da casa durante o tempo que aleguei ter frequentado durante anos. No entanto, os livros de registro nos quais me fizeram procurar meu nome eram uma bagunça. Nada achei. E outra vez arrastei para casa a boa intenção e meus planos colaborativos horizontais para uma boa causa - como outrora Vincent enterrou os seus sonhos luminosos de uma confraria artística fraternal.
E ainda outra vez, recentemente, nova recusa a outra proposta de simples colaboração confraterna, com argumentos excludentes que, em resumo, dado o esquisito contexto do mundo atual, só podem possuir um significado:
até para expandir uma iniciativa criativa, fraterna, seja em qual meio for, do literário ao filosófico, você tem que ter a sorte de ser gerado, produzido e incluído por um clã inicial de prestígio social ou financeiro, seja lá de qual área de atividade humana for!...
Porque existe a ribalta artística...
Existe a ribalta literária...
Existe mesmo a ribalta religiosa, espiritual, filosófica ou filantropa!
É isso!...
Problema seu, se não faz parte do clã investidor e fundador... Você que lute, se não nasceu neste berço de "ouro"!
Se contente em sonhar com o atelier em Arles, sem chances de conseguir - por melhor sejam as intenções ou o talento, se por infelicidade tiver produzido longe da ribalta dourada das galerias de Paris!
Por outro viés equivalente, contente-se em escrever publicando aleatoriamente na internet, apenas por amor à escrita e à produção de conteúdo literário...
E talvez, mais do que tudo, aprenda com o sol e as flores a espalhar a luz do calor humano e o perfume da empatia de forma solitária, confiante de que os movimentos perfeitos da vida encaminharão suas intenções aos destinos certos.
Esqueça os enfeitados clichês dos grupos e das grandes organizações engajadas em fraternidade, sempre de braços abertos, via sintonia, a todos que querem somar!
Com o tempo, evidencia-se que esses conglomerados em prol da difusão do bem e da luz na Terra, sempre crescentes em números, só existem, em verdade, na multidimensionalidade, em discursos na internet, em filmes de Hollywood ou, quando muito, em novelas!
Na vida real, chão a chão, tudo dificilmente acontece fora das arenas sutis das vaidades e dos egos!
Como bem ensina Joel Goldsmith, nunca se perca de vista que, neste mundo, a prática da expansão de consciência na luz inaugura talvez um longo período de caminhada solitária, até que enfim aconteça a reunião de fato com os afins em intenção, na verdadeira, altruista e autêntica Távola Redonda!