O homem e o estudo do espaço
Lêdiana Costa Souza
Aires José Pereira
Estudar o espaço que habitamos ou até mesmo por nós pouco conhecido, é muito importante, pois conhecê-lo, é também nos conhecermos. A busca pelo estudo do espaço faz parte de algo recente, pois há muito se tem discutido sobre este enfoque.
A discussão sobre o espaço geográfico é muito antiga. Tomou vários rumos, de acordo com os pensamentos que norteavam aqueles que faziam a geografia em cada época. Sempre que se falava em geografia, estava-se, ao mesmo tempo procurando o espaço geográfico, mesmo quando este não era concebido como seu objetivo central. (SILVA, 1991).
O espaço geográfico tem levantado no decorrer dos anos, variadas hipóteses sobre seu entendimento. Essa variação devia-se às diferentes épocas vivenciadas pelo geógrafo, mas mesmo que de forma indireta, o espaço geográfico sempre estava incluso na geografia.
O espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente, e por uma estrutura representada por relações sociais que estão que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares. SILVA, Apud SANTOS, 1996.
Assim como foi abordado anteriormente, para Santos a definição do espaço está intrinsecamente ligada ás relações sociais passadas e atualmente. Para ele, o espaço é um palco atrito, num processo heterogêneo, onde a desigualdade é visível, numa luta acirrada de classes, acarretando em um espaço fragmentado com contrastes amplos nos lugares.
A noção de lugar é imprescindível, só que não pode responder por seu conteúdo. Este é constituído por todos os fatos visualizáveis, ou não, principalmente. O espaço é produzido pelas relações sociais subordinação modo de produção que sustenta a sociedade, sua infraestrutura econômica, a partir da qual se erguem as superestruturas ideológicas, políticas, jurídicas, culturais, etc. (SILVA, 1991).
Analisando a fala da autora, concluímos que o lugar por si só, não pode levar-nos a uma compreensão do que ele é realmente, é preciso antes contar com toda a conjuntura que o compõe, considerando os fatores ópticos, como também aqueles pouco perceptíveis, pois não basta olhar grosso modo, como se apenas o que está visível seja o bastante para expressar a noção de lugar.
É preciso estudar e questionar a totalidade espacial, observando o que há de igualdade e as inversões compostas no espaço, uma vez que, o lugar não é um todo homogêneo, sofrendo uma variância devido as políticas que o regem, o poder judicial que o conduz, a cultura que é manifestada, enfim, todas as engrenagens que o produz.
O espaço geográfico e o capitalismo têm um conteúdo diferenciado, conflituoso, contraditório e coisificado. A existência desse espaço é sinônimo da existência das classes sociais. Assim como estas sofrem uma determinação histórica, o mesmo acontece com o espaço geográfico. As classes se reproduzem obedecendo aos ditames do capital que não se desenvolve obedecendo a uma lógica desenvolvimentista, mas a uma lógica contraditória a qual produz “espaços heterogêneos, desiguais e irregulares”. A produção/reprodução do espaço capitalista se dá segundo as regras dessa lógica e daí não se pode falar em espaço geográfico delimitado, especializado. (SILVA, 1991, Apud VEERGOPOULOS, 1977).
Segundo essa afirmação, pode-se julgar que espaço geográfico e capitalismo possuem sentidos antagônicos. Isso se dá porque vivemos em uma sociedade capitalista, onde tudo é feito de acordo com as regras do capital, e aí então é que ocorre o conflito, pois como o espaço é constituído por classes sociais, o capitalismo age de forma a atender seus próprios interesses, aonde melhor irá lhe trazer benefícios, porque para ele não é vantajoso promover o bem estar social sem que isto lhe renda lucros, pois segundo sua visão, é muito mais interessante investir em uma sociedade, na qual terá retorno, rendendo-lhe lucros.
Então, devido a esse interesse capitalizado, o espaço acaba se produzindo diferencialmente, já que nem todas as classes possuem condições de dar retornos desejáveis ao capitalismo, causando então as diferenças espaciais.
O espaço geográfico constituído de totalidades capitalistas, não tem a sua produção/reprodução realizada por meio do trabalho dos homens dialeticamente coisificado para o sistema, e humanizados para si mesmo, onde a luta da natureza humana pela sua plenitude de vida se dá dentro e fora da atividade produtiva.
A realização de um determinado trabalho poderá se dar muito distante do local onde o trabalhador produziu ou prestou um serviço qualquer, numa totalidade submetida à outra sociedade, o outro modo de produção. (SILVA, 1991).
Concordando com a ideia da autora, devido as contradições que ocorrem no espaço geográfico, tendo como base o homem como produtor de espaço, ocorre de muitas vezes do trabalhador sair em prol de melhores condições de vida para seu bem-estar, indo realizar serviços que beneficiam sociedades distante de sua própria realidade social, sendo ele então, apenas uma ferramenta para a realização dos anseios do capitalismo.
A produção do espaço se faz por meio do resultado da propriedade do trabalho, do que o trabalhador executou, e se revela como um momento intimamente ligado ao ser e estar no espaço. É o resultado do trabalho. As instâncias ser, estar e produzir espaço, é historicamente inseparável; o que se manifesta na sociedade são todos os atributos relacionados a cada uma delas. É pela realidade da força de trabalho como mercadoria, que o espaço geográfico, que é social, é mercadoria e ao mesmo tempo humanizado. Esse fato se deve não só pela inversão entre o que é produzido e quem produz, mas pela ação da consciência material da natureza humana que pensa, briga e muitas vezes lutam para mudar o seu rumo. (SILVA, 1991)
Através da ação do trabalhador, o espaço vem a se formar, pois de acordo com o trabalho executado no lugar, é que se manifestará a visão do espaço. Quando se trata de estudar sobre segregação espacial, significa apontar as diferenças espaciais que ocorrem dentro de um território.
Lêdiana Costa Souza é graduada e especialista em Geografia pela UFT.
Aires José Pereira é professor Dr. do curso de Geografia da UFR.